Sinceramente estou muito feliz, estranhamente feliz pelo que passa e pelo que se discute a respeito da região Amazônica. Não bastasse que mais de um amigo tenha pedido para que eu escrevesse a respeito daquilo que tenho estudado, surpreendentemente esse tema tem ocupado espaços privilegiados nos principais jornais brasileiros e internacionais e chamado a atenção do grande público.
Nos últimos anos a pseudo-temática da corrupção era o único tema que interessava e que despertava paixões na sociedade sul americana. No entanto esse transe foi quebrado por algo que realmente importa ainda que chegue a parecer mítico de tão distante das discussões públicas ou dos bate papos dos botequins.
E para que não se diga que estou exagerando, chamo atenção ao fato de que sequer há um consenso nas redes sociais (principal e interessante termômetro do imaginário social) da própria terminologia amazônica. À parte dos fatos pitorescos suscitados por aqueles que na boa vontade de salvar o planeta chegam a pintar girafas no cenário do norte Sul-Americano, considero igualmente inusitado que sequer nos demos conta de que esse território não ocupa somente terras brasileiras, mas que encampa áreas consideráveis ou até totais de 8 outros países.
E por se falar de ignorância, sou o primeiro a declarar a própria. Ante a simples pergunta de um manauara a respeito de onde provinha as águas do majestoso Rio Amazonas em que estava eu navegando pelo início de 2019, sequer cogitei que provinham da Cordilheira dos Andes que no degelo de seu verão proporciona parte da abundância de suas águas. Sim, note-se que nunca havia vinculado a ele as montanhas geladas que tantas vezes vi na Colômbia, da mesma forma que os paulistanos jamais poderiam imaginar que um dia a Selva de Pedra seria invadida pelas cinzas que escureceram o entardecer da Terra da Garoa. Aqui, seja pessoal ou coletivo, o desconhecimento em um tema tão básico é reflexo imediato do quanto estamos aquém do valor dessa imensidão chamada Amazônia.
Sim, Amazonas é apenas um Estado federado do Brasil, a Amazônia Legal não inclui somente o bioma amazônico – inclui ao mesmo tempo zonas de transição, cerrado e pantanal, e se bem 40% do território brasileiro é amazônico nem todo ele é composto de florestas tropicais. Já a Amazônia se refere a esse importante conjunto de ecossistemas que se estende por mais de 7,8 milhões de Km2. Para se ter uma ideia comparativa, se estivesse totalmente inserida no território brasileiro (8.516 M Km2) – que por si só possui dimensões continentais, só sobraria algo um pouco maior que Minas Gerais fora do que se determinou como Região Amazônica.
Sim, apesar da densidade populacional ser baixa – cerca de 4 habitantes por Km2, não podemos ignorar que nessas áreas vivem aproximadamente 30 milhões de pessoas que diariamente comem, trabalham, dormem e sonham com aquilo que todos convencionamos chamar VIVER A VIDA. E se esses dados parecem primários ou óbvios, pediria a gentileza de que se faça uma rápida consulta com seu círculo mais próximo de amizades para saber que relações eles apontam ao escutarem a agora palavra mágica denominada Amazônia. Por experiência própria não duvido das generalidades que aparecerão: natureza, florestas, árvores, índios (quase nunca indígenas), rios, barquinhos, peixes… Poucos falariam palavras como metrópoles, polos econômicos, origem de boa parte da energia elétrica barata produzida no Brasil …
Pois sim, para aqueles amigos que esperavam que nesse breve espaço de texto iria comentar temas complexos tais como desmatamento, queimadas, intervenções estrangeiras, papel das ONGS, posturas políticas dos Estados, ou qualquer outro tema complexo, terão que esperar os próximos textos. Se queremos formar opinião rápida, defender ou ser contrários, definir quem são os bons e quem os maus, recomendo que sigam os agitadores das redes sociais.
Antes de formarmos juízo, deveríamos ter a humildade de reconhecer que somos ignorantes, profundamente devedores a nós mesmos por admitirmos de não buscar conhecimento suficiente acerca de uma zona de alto impacto global. Antes de crer ou emitir uma opinião apaixonada, de se angustiar ao som das comoções e febres passageiras propostas pelas mídias, deveríamos levar a sério essa estranha alegria de termos a oportunidade de tratar a respeito da tão esquecida Região Amazônica.
Gilton Ferreira de Holanda, sss – [email protected]