Candidatos relatam dúvidas sobre resultado do Enem
CARATINGA- Desde a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 muitas têm sido as dúvidas devido às falhas apontadas. O ministro da Educação, Abraham Weintraub disse que foram encontradas “inconsistências na contabilização e correção da segunda prova do Enem do ano passado. Ele estimou que tal erro atingiu “alguma coisa como 0,1%”” dos candidatos que prestaram o exame.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) identificou inconsistências nas notas de 5.974 participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, o que representa 0,15% do total de presentes (3,9 milhões). “A discrepância entre o número de acertos e a nota divulgada inicialmente é consequência de uma associação equivocada entre a cor do Caderno de Questões e o gabarito correspondente. Não houve alteração nas notas da redação”, declarou o Ministério da Educação.
Por causa da falha, a Justiça chegou a suspender a divulgação do resultado do Sisu, sistema em que o estudante concorre a vagas em universidades públicas com a nota do Enem. No entanto, a Justiça liberou a divulgação essa semana.
O DIÁRIO ouviu dois candidatos que realizaram as provas do Enem e relataram suas dúvidas em relação aos resultados, após as falhas identificadas. Eles ainda revelam a frustração do sonho do Ensino Superior.
“DESCASO”
Daniel Dornelas, 18 anos, sempre desejou cursar Medicina e por esse objetivo dedicou boa parte desse tempo em função do estudo. “Eu fiz cursinho por dois anos quando me mudei de Santa Bárbara, comecei a estudar com o professor João Martins e nesses dois anos o foco principal sempre foi o Enem. Claro, também reparar uma defasagem que já tinha com os problemas das escolas públicas. E relacionado ao Enem, já tínhamos a matriz já de estudos que era o edital, então tínhamos que cumprir todos aqueles conteúdos, tanto para Ciências Exatas, Humanas, Natureza e redação, e Linguagens”.
Conforme Daniel, ele sempre teve a expectativa de como seria quando fizesse a prova já valendo uma vaga para universidade. “Sempre pensei: ‘Nossa, como vai ser a minha vez?’. Lembro que no Sisu de 2019, eu ficava nessa expectativa. Então, foram dois anos vivendo em prol do Enem. Deixei de fazer coisas que eu gostava de fazer, abdiquei de muito para poder me dedicar especificamente a dois dias de prova para poder ingressar em uma universidade e, infelizmente, agora toda essa confusão que nos deixa um pouco chateado por ser logo na nossa vez”.
Questionado sobre o que deu errado nesta edição do Enem, Daniel citou que percebeu um “grande descaso” com os alunos. “Foi relatado até mesmo pela gráfica que houve um erro que eles tentaram corrigir e em momento algum eles nos notificaram que aquilo estava realmente acontecendo. Quando saiu o resultado ninguém tinha coragem de falar que houve um erro no Enem e isso nos deixa muito apreensivos porque, enquanto todos os alunos, como eu, cobravam nas redes sociais do Ministério da Educação e do Inep no twitter, chamávamos atenção pra isso. E eles sempre falando: ‘Não tem nenhum problema, nós verificamos todas as provas’. Com dois dias disseram ter olhado todas as provas, então até então não temos nenhuma confiança que o resultado está realmente certo”.
Em relação às suas notas, após conferir o gabarito, o candidato afirma que prefere acreditar que as falhas não aconteceram em sua prova, por uma questão de ansiedade. “Tenho muitos problemas com isso. Esse último mês acho que foi o mais difícil dos últimos anos pra mim, porque desde o dia que saiu a nota, que eu não consegui compreender a razão da minha média ter ficado tão baixa, e buscando reclamar com o Ministério da Educação, pelo e-mail que eles passaram, eles disseram que esse ano a notas ficaram um pouco mais baixas e tudo mais. Então, prefiro acreditar que não há um erro tão grande a ponto de me prejudicar, apesar de não estar tão certo disso, é uma situação um pouco delicada”.
Daniel ainda relata os problemas com o Sisu, que contribuíram para as dificuldades enfrentadas pelos estudantes. “Todo ano o Sisu sempre tem problemas no site, nunca funciona normalmente. E agora o Sisu trava logo no primeiro dia, ninguém conseguia fazer a inscrição e quando as coisas normalizam, precisamos às vezes de madrugada levantar para ficar verificando como estava. Percebemos que havia um problema também relacionado às notas de corte, eles estavam meio que selecionando as duas opções pra todomundo. Isso fazia com que ficasse mais alta, sendo já estávamos tendo problemas com a nota, além de que nem tínhamos certeza se a nota estava certa mesmo. O Sisu já foi uma loucura e depois o Ministério Público fecha e impede o resultado de sair, então foi bem difícil para os vestibulandos”.
Daniel ainda expressa o sentimento com os as falhas que podem ter prejudicado seu resultado. “Sinceramente, tenho medo de estar perdendo uma chance por um erro de alguém, porque por mais que eu tenha enviado o e-mail para o MEC pedindo a verificação das notas, não recebi uma resposta. Então, não sei se está tudo ok. E o próprio ministro da Educação aceitou pedido de revisão de prova pelo twitter, sendo que ele estava alegando que estava tudo certo. Mas, se tivesse tudo ok, teria aceitado. Então, assusta bastante, principalmente porque tem um grande sonho envolvido. É muito complicado.
“INSEGURANÇA”
Yasmin de Oliveira Brandão, 18 anos, explica como foi o processo de estudo antes de realizar as provas. “Nesse último ano eu não tive a preparação adequada para fazer o exame, porém, eu já tinha feito um ano e meio de cursinho também no Professor João Martins, e acredito que toda a preparação é pouca para esse exame”.
Para a jovem a sensação é de insegurança, já que o Governo admitiu as falhas em algumas provas. “Acredito que por problemas terem acontecidos pós-prova, não me prejudicaram na hora da prova, porém dão uma insegurança na gente, porque é um exame que cobra muito dos alunos, e é a vida da gente sendo decidida ali, em dois dias, então deveria ter sido levado com mais seriedade”.
Yasmin também pretende cursar Medicina. “Com uma nota de corte enorme, além de ser difícil acaba sendo uma coisa inalcançável, porque não depende só de mim, mas também do MEC e da correção da prova. Eu não tive essa experiência de ficar acordando de madrugada para acessar o site, porém, essa realidade deles terem adotado os dois cursos no sistema, complicou para todo mundo, porque aumenta tudo né”.
Diante do sonho do Ensino Superior, a jovem afirma que chegar a esta fase e enfrentar um cenário de dúvidas é frustrante. “Até estava comentando com o Daniel, que quando saímos do ensino médio dá uma quebra muito grande, porque até então era aquilo de todo ano saber que ia para a escola, independente de qual fosse, teria aquela mesma experiência. Porém, agora, o que vamos fazer ou não depende da gente e também das pessoas que corrigem a prova. Então, isso fica mais delicado porque não adianta só a gente lutar e isso não ser levado com tanta seriedade”.
Yasmin finaliza relatando o que espera do Governo daqui pra frente. “Acho que não só eu, mas todo mundo espera uma resposta, um acolhimento e provas de que os exames foram realmente corrigidos. Já foi cobrado e não tem essa questão da correção das provas. Não acho que uma nova prova seria algo justo, porque já é uma pressão muito grande, mas é a questão de ser algo correto”.