Walber Gonçalves de Souza
Os viventes deste início do terceiro milênio estão presenciando um momento de grandes transformações de ordens globais. Podemos afirmar que a globalização entrou em outro estágio. Os meios de comunicação, cada dia mais avançados, permitiram uma rede de contatos e relações incríveis. O acesso à informação está cada dia mais fácil e próximo ao alcance das pessoas, basta olhar os nossos lares e verificar os inúmeros aparelhos que o compõem. Os meios de transporte cada dia mais presentes no dia a dia das pessoas, permitindo assim um maior fluxo de pessoas para as mais variadas regiões do planeta.
Todas estas características juntas induzem a uma percepção de que a humanidade deveria estar mais dócil, mais participativa, mais comunicativa, mais tolerante com as diferenças. E estranhamente parece que o contrário está acontecendo. Este início de terceiro milênio está sendo marcado por vários atos de intolerância, alguns que beiram o absurdo.
Esta realidade não pode e nem deve ser tratada com indiferença, pelo contrário, estes atos que estamos presenciando devem ser vistos como um sinal de alerta, como uma oportunidade de refletirmos sobre a nossa cultura, sobre como agimos e pensamos a nossa vida e a vida das outras pessoas.
O fato é que ninguém nasce católico, evangélico, muçulmano, espírita… Somos “educados” para seguirmos uma religião; ninguém nasce atleticano, cruzeirense, flamenguista, palmeirense… Somos manipulados, motivados de alguma forma por alguém para torcer para algum time e em muitos casos aprendemos com esta mesma pessoa a ter repúdio pelo outro que torce para um outro time; ninguém nasce monogâmico ou poligâmico, estes valores estão ligados à cultura do lugar onde somos criados; ninguém nasce odiando uma etnia, um perfil físico… Somos “educados” para odiar; ninguém nasce com preconceitos formados, pelo contrário eles são formados ao longo da vida com as pessoas com quem convivemos; ninguém nasce discriminando a não ser que aprenda a discriminar; ninguém nasce machista ou feminista, infelizmente aprendemos a ser.
Portanto, um adulto será o reflexo de sua criação, da sua cultura, da influência do meio social em que ele vive. É claro que nada pode e deve ser visto como algo determinante, mas não dá para negar a força que o nosso entorno exerce sobre as nossas vidas.
Neste sentido, só há um caminho que devemos seguir, combater a cultura da intolerância, pois devemos aprender a ser educados para agirmos e pensarmos de forma tolerante.
Lembro-me de duas situações que podem colaborar com a reflexão em questão.
A primeira diz respeito a uma máxima que aprendemos e vivemos propagando por aí, que futebol, política e religião não se discute. Será mesmo? Está vendo o primeiro sinal da cultura da intolerância. Por que não podemos sentar entre amigos e familiares para dialogar, conversar, discutir uma ideia a respeito de qualquer um dos temas? A grande questão não se resume na tolerância?! Eis aí uma verdadeira oportunidade de testá-la. A intolerância começa quando queremos simplesmente converter, modificar, transformar o pensamento do outro de qualquer forma. Intolerantemente, queremos a todo custo que ele perceba a vida e as coisas da mesma forma que nós.
A segunda diz respeito a uma orientação que recebi um dia: como professor não deveria falar em sala de aula para qual time eu torcia, qual religião seguia e assim vai. Na época, quando ouvi esta orientação, pois já fazem mais de 15 anos, fiquei pensando, por que não? Se a escola é um lugar de educar, ensinar a tolerar deveria ser uma das suas missões. E só se aprende a tolerar convivendo com as diferenças. Ensinando que o outro pode ser e ter uma indizível gama de diversidades culturais, sociais, afetivas… diferentes das suas. Ainda bem, que sou um pouco teimoso!
O que não dá mais é ficar perpetuando, com ares de politicamente correto, uma cultura que massacra todos aqueles que não se encaixam no perfil da cultura dominante que se impõe sobre todas as pessoas de uma sociedade. Tolerância já!
Walber Gonçalves de Souza é professor.