Mãe e enfermeira Maria de Lourdes Guin do SAD compartilha desafios e inspirações
CARATINGA — Neste domingo (11), o Brasil celebra o Dia das Mães, data marcada por homenagens, afeto e reflexão sobre a importância da maternidade. Para quem atua em profissões que lidam diariamente com a fragilidade da vida, essa comemoração ganha contornos ainda mais profundos. É o caso da enfermeira Maria de Lourdes Guin, a Lurdinha, profissional do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) em Caratinga.
Ela divide seu tempo entre os cuidados a pacientes em estado grave e o amor pelos filhos, conciliando duas missões que exigem entrega, coragem e sensibilidade. Nesta entrevista, Maria de Lourdes fala sobre os desafios de equilibrar maternidade e profissão, as lições aprendidas com a própria mãe e a forma como o contato diário com a finitude da vida a fez ressignificar sua trajetória pessoal e familiar.
O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) lida com pacientes em situações muito delicadas, como casos de câncer e cuidados paliativos. Como a senhora consegue conciliar a rotina intensa desse trabalho com a missão de ser mãe?
É desafiador. A culpa aparece e as lágrimas caem em diversas circunstâncias. Já perdi algumas apresentações na escola por conta de intercorrências com nossos pacientes. Essa conciliação de ser mãe e profissional é diária, intensa e, muitas vezes, dolorosa.
No entanto, exercer minha profissão como enfermeira no SAD é fonte de orgulho, crescimento e transformação. Não tenho hora para sair e nem para chegar em casa, e apesar dessa angústia de querer cuidar e estar presente fisicamente com meus filhos, todas as dificuldades me tornaram mais forte. Sigo tentando priorizar a qualidade do tempo juntos, criando memórias positivas e significativas com minha família, mesmo que o tempo seja limitado.
O contato diário com pacientes em sofrimento e suas famílias acaba trazendo muitas reflexões sobre a própria vida. De que forma sua atuação no SAD influenciou sua maneira de enxergar a maternidade e a importância da presença na vida dos filhos?
A vida é frágil e fugaz, e devemos aproveitar ao máximo cada segundo, criando conexões significativas com as pessoas que amamos. Entendo que estar presente na vida dos filhos é muito mais do que apenas estar fisicamente ao lado deles. É estar emocionalmente disponível, ouvindo-os, validando seus sentimentos, oferecendo apoio, orientação e demonstrando amor de forma expressiva.
Essas vivências me proporcionaram a oportunidade de repensar valores e prioridades, buscando viver de maneira mais autêntica e plena. A reflexão constante sobre a fugacidade da vida nos ajuda a valorizar o presente e a aproveitar intensamente cada momento.
Em datas como o Dia das Mães, há sempre uma carga emocional especial no ambiente de trabalho, principalmente em casos de despedida ou reencontros. Como a senhora lida com essas situações e o que costuma levar para casa depois de um dia assim?
O Dia das Mães pode significar amor, saudade, dor, alívio, tristeza, esperança… ou um pouco de tudo isso junto. Cada pessoa vive essa data de um jeito único. O mais importante é lembrar que nenhum sentimento é “errado”.
Busco sempre focar em memórias positivas sobre a maternidade, reconhecendo e validando os sentimentos, para que possamos lidar de forma mais saudável com as situações que surgem. Tento levar comigo o aprendizado de que é preciso valorizar as pequenas coisas e acolher os momentos, bons ou difíceis, com o coração aberto.
Ser mãe é uma experiência única para cada mulher. Como a senhora definiria sua maneira de maternar e quais valores faz questão de transmitir aos seus filhos?
A maternidade é uma jornada única! É uma disponibilidade para o amor mais profundo que existe. É um presente de Deus, uma bênção que desperta o melhor em nós. A relação entre mãe e filho é singular e carrega um potencial imenso de amorosidade.
Ser mãe é doação, é abdicar de algumas coisas e até se anular em outras, mas sem esquecer que, para ser uma boa mãe, é imprescindível existir. De todas, é a missão mais fundamental, pois nós, mães, somos formadoras de caráter. A maternidade é um dom — não é apenas uma questão biológica, é alma.
Os valores que faço questão de transmitir aos meus filhos são respeito, honestidade, empatia, responsabilidade e autenticidade. Quero criar para eles um ambiente seguro e amoroso, onde possam crescer e se desenvolver na presença do Senhor.
Gostaria que compartilhasse conosco uma lembrança marcante que guarda da sua mãe (Maria das Graças) e como isso ajudou a moldar a mulher e a mãe que a senhora se tornou.
É a melhorrrrr mãe do mundoooo! A lembrança da dedicação, do cuidado e da doçura dela é o que me inspira todos os dias. O amor que recebi moldou a mulher e a mãe que sou, e carrego comigo essa herança afetiva para transmitir aos meus filhos.
Qual mensagem deixaria para as mães que, assim como a senhora, dividem o tempo entre o cuidado com a família e a dedicação a profissões que exigem tanto emocionalmente?
Você é capaz de equilibrar as demandas da maternidade e da carreira, mesmo que seja desafiador. Priorize o autocuidado e encontre tempo para atividades que promovam sua saúde emocional e física; seja gentil consigo mesma e não se culpe por não ser perfeita em todos os aspectos da vida; celebre suas conquistas, tanto pessoais quanto profissionais, e nunca se esqueça: você é uma mãe incrível!
Para finalizar, uma mensagem para sua mãe.
Hoje, mais do que nunca, quero te dizer o quanto você é essencial na minha vida. Cresci te observando, te admirando e, sem perceber, fui moldando o meu jeito no reflexo do seu. Cada gesto seu de cuidado, cada conselho sussurrado nos momentos difíceis, cada abraço silencioso que disse tudo sem precisar de palavras… tudo isso ficou guardado em mim.
Você é minha referência de força, de amor incondicional e de coragem. Aprendi com você que é possível enfrentar a vida com o coração cheio de fé, que é nobre ser gentil mesmo quando o mundo parece duro, e que ser mãe, mulher e guerreira ao mesmo tempo é um dom raro que poucos carregam com tanta leveza.
Se hoje sou quem sou, é porque tive o privilégio de aprender com você. Te espelhar é minha honra, te amar é natural, te agradecer será eterno.
Te amo, mãe. Obrigada por tudo.
- Lurdinha junto dos filhos Davi Guin Santos, 12 anos, e Júlia Guin Santos, 7 (Foto: Arquivo pessoal)
- Lurdinha com sua mãe, Maria das Graças (Foto: Arquivo pessoal)
- Ela divide seu tempo entre os cuidados a pacientes em estado grave e o amor pelos filhos, conciliando duas missões que exigem entrega, coragem e sensibilidade (Foto: Arquivo pessoal)