Bandidos colocaram chip de mercadoria roubada em outro veículo para desviar a atenção da polícia
CARATINGA – A movimentação atípica na BR-116, entre Caratinga e Santa Rita de Minas, chamou a atenção na tarde de ontem. E não foi devido ao trânsito ou o fluxo de veículos, mas devido a quantidade de viaturas em uma operação envolvendo policiais civis, militares e rodoviários federais.
A primeira parada foi ainda no perímetro urbano da BR- 116, próximo à Unidade de Atendimento Integrado (UAI) de Caratinga, onde nada foi encontrado. Mais adiante, nas proximidades de Santa Rita de Minas, duas carretas foram interceptadas e seus respectivos motoristas, orientados a pararem seus veículos.
De acordo com um rastreador utilizado pela polícia para identificar o paradeiro de cargas roubadas, havia a suspeita de que uma carga de tênis e sandálias estaria em uma das carretas bitrem. O material foi roubado próximo a Itaobim, no Vale do Jequitinhonha, na madrugada de segunda-feira (30) para terça-feira (1º) e está avaliado entre R$ 400.000 e R$ 500.000.
O veículo vinha sendo monitorado, de acordo com localizações que o aparelho apontava, de um chip que se acreditava estar no meio da carga. O rastreador indicava apenas a carreta de Rogério Train. Questionado pela polícia, desde o início ele garantiu que não havia nada de ilegal em sua carreta, afirmando que o carregamento havia sido feito por ele.
A carreta estava carregada de latas vazias de cerveja, o cenário perfeito para ‘mascarar’ uma possível carga roubada. O motorista seguia de Alagoinhas, na Bahia, com destino a Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde descarregaria o material.
Como o rastreador continuava apontando para a carreta de Rogério, a Polícia decidiu por ‘esvaziar’ a carga nas proximidades do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Caratinga. Com o auxílio de uma empilhadeira, os carregamentos, que estavam dispostos em estrados de madeira, foram sendo retirados pouco a pouco, de modo a identificar se o material roubado estava escondido no interior do veículo. Após aproximadamente uma hora de averiguações, o chip foi localizado em cima de um dos pneus da carreta.
Os criminosos usaram de um truque para despistar os policiais, fazendo a carreta de “isca”. A Polícia acredita que eles se aproveitaram do momento em que o motorista pernoitou na cidade em que ocorreu o crime e “plantaram” o chip da mercadoria roubada no veículo para desviar a atenção dos investigadores.
A operação contou com reforço de policias de Governador Valadares. De acordo com o investigador da Polícia Civil, Douglas Adriani, todas as pistas indicavam que a carga roubada estaria na carreta interceptada. “Tudo dava a crer que a carga estava neste veículo, mas infelizmente, ao verificarmos, conseguimos detectar a presença de um microchip implantado no pneu. Esse microchip estava na carga roubada. Tiraram da carga e implantaram em outro veículo que não tinha nada a ver com o roubo”.
Douglas destaca que aquela região já é conhecida pela frequente prática de roubos de cargas. Inclusive, há investigações dando conta de uma quadrilha especializada. Os bandidos estão dificultando a localização destas cargas, criando meios para desviar a atenção da Polícia.
Quanto à carga roubada em Itaobim, a Polícia segue em busca de localizá-la. No entanto, mais um empecilho: os criminosos estão utilizando um aparelho chamado jammer, popularmente conhecido como “capetinha”. Ele serve para bloquear o sinal de telefones celulares, mas os ladrões costumam usá-lo para impedir que o sinal dos caminhões chegue até o satélite e às empresas de segurança que monitoram estes veículos. “Acontece sempre, eles estão especializando nessa área, roubar carga e implantar o chip em outros veículos justamente para dificultar o trabalho da polícia, andar no sentido contrário à investigação. Eles usam o jammer para bloquear o rastreador do caminhão e da carreta. Infelizmente foi bloqueado, mas é bem provável que eles abandonem o veículo em algum local, ou é vendido em outro estado ou país”.
A Polícia garantiu que o motorista da carreta colaborou com as investigações e não há nada que coloque a sua conduta em risco, se tratando deste episódio. Passados os momentos de tensão, Rogério, que trabalha nesta profissão há 27 anos e nunca passou por situação semelhante, se disse aliviado. “Eu não estava sabendo de nada. Estava neutro. Fiquei calmo na hora que a Polícia chegou, sossegado porque não devo nada. Eu carreguei, acompanhei o lacre do caminhão, estava bem tranquilo. Auxiliei a Polícia no trabalho dela, pois não tenho nada a esconder”, disse o motorista.