Conheça a história de Daniele Santos Drumond Ferraz, transplantada há seis anos. Dia Nacional de Doação de Órgãos foi celebrado na sexta-feira (27)
CARATINGA- O Ministério da Saúde lançou na última sexta-feira (27), data em que se celebra o Dia Nacional de Doação de Órgãos, a Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos, que este ano tem como slogan ‘A Vida Continua. Doe Órgãos. Converse com sua família’.
De acordo com o Ministério da Saúde, a doação de órgãos, tecidos e células realizados no país no primeiro semestre de 2019 cresceu em comparação ao mesmo período de 2018. O balanço desse período mostrou que houve crescimento de transplantes considerados mais complexos, ou seja, dos mais difíceis de serem realizados devido a aspectos como o tempo curto entre retirada e implante de órgão, estrutura do hospital e equipe especializada.
Cada órgão tem um prazo máximo para ser transplantado. O coração, por exemplo, deve ser colocado em outro corpo no prazo de até 4 horas. Os transplantes desse órgão cresceram 6,3%, passando de 191 para 203.
Mas, a negativa familiar ainda é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. É preciso incentivar e quebrar mitos. Muitas vidas são salvas com o gesto de doação. É o que o DIÁRIO demonstra nesta entrevista com Daniele Santos Drumond Ferraz.
A mulher de 43 anos foi transplantada em 2013. Coração novo, vida nova, como ela afirma.
Como você descobriu que estava doente?
Em 2009 comecei a ter o cansaço ao mínimo esforço. Para ir da sala para a cozinha eu já me sentia cansada e teve uma noite que não consegui dormir bem, passei a noite praticamente sentada, porque se eu deitasse sentia falta de ar. Então, pedi meu esposo que procurasse ou um pneumologista ou um cardiologista, porque eu achava que era tipo uma pneumonia, bronquite, asma, algo assim. Ele achou um cardiologista, consultei e descobrimos que o problema do pulmão estava relacionado ao coração. Me deu o diagnóstico de insuficiência cardíaca idiopática, porque não tinha descoberto a causa dessa insuficiência. Apesar de eu ter feito testes de sangue para verificar se eu tenho Doença de Chagas deu negativo. Então, a partir daí comecei a tratar a insuficiência cardíaca. Até então, não pensávamos em transplante. Fiquei dois anos e meio com um médico, depois mudei para outra médica, até a pedido de uma grande amiga minha, que já me encaminhou para um arritmologista em Belo Horizonte, ele viu que eu precisava colocar um desfibrilador, tipo um marca-passo. Ele me explicou primeiro que quem tem arritmia por causa de Doença de Chagas está sujeito a ter mais paradas cardíacas, do que uma pessoa que tem insuficiência cardíaca por outro motivo. Por isso, em outubro de 2010 coloquei esse desfibrilador e a partir daí eu comecei a ficar internada mais vezes. Até que em março de 2013 fui a Belo Horizonte, estava tudo bem, mas estava muito quente e a médica pediu para eu fazer uma ressonância do pulmão; choveu. Essa mudança da temperatura me descompensou, já vim para Caratinga passando mal e aqui fiquei internada durante 15 dias na UTI. Minha médica estava me acompanhando e falou assim: “Daniele, não vou te segurar mais aqui” e me encaminhou para o Felício Roxo em Belo Horizonte.
E como se deu a necessidade do transplante?
Engraçado que eu não estava preparada para fazer o transplante. Até então eu estava indo bem e de última hora dessa piora, o médico que me colocou o desfibrilador falou com o meu esposo que agora era só o caso do transplante que resolveria. Então, todo mundo ficou meio assustado, surpreso até, mas, orávamos muito, a família toda intercedendo, pedindo a Deus que surgisse uma doação. E foi assim que aconteceu. Eu fiquei 14 dias internada no (hospital) Felício Roxo e no dia que apareceu o doador, era em um sábado e eles achavam que iriam operar naquele sábado mesmo, mas, faltava uma pessoa da família para assinar a doação de órgãos. Passou-se mais um tempo, operei no dia 17 de abril de 2013. Nesse dia de manhã, acordei, o médico foi na UTI e falou que a família estava se reunindo pela última vez, para decidir se iam doar ou não órgãos. Falei com minha mãe que daquele dia eu não passaria, estava sentindo meu espírito que eu ia morrer, eu estava piorando. Às 18h o médico entrou na UTI e falou que a mãe do rapaz que faltava autorizar tinha resolvido, então foi feito o transplante de coração.
Após a cirurgia, qual foi seu primeiro pensamento ao despertar?
Eu senti uma alegria muito grande de ver que eu não morri (risos). Foi um sentimento mesmo de gratidão à Deus, à família doadora, de ter me dado essa oportunidade de estar viva de nova. Assim que eu transplantei, no outro dia a médica compartilhou com meu esposo: “Se não fosse essa noite, não ia ser mais, não ia ter oportunidade, que ela não iria aguentar”. Então, abrir os olhos e ver que eu estava ali viva, respirando e os familiares todos em volta torcendo, os amigos; foi um sentimento muito de gratidão e alegria.
Você precisou ficar na fila de espera?
Eu não cheguei a ficar na fila, porque meu caso foi muito rápido. Mas, conheço pessoas que já estão transplantadas, que ficaram mais de dois anos na fila, na iminência de morte. Hoje em dia, por falta de conhecimento mesmo das pessoas, muitos morrem com órgãos perfeitos que poderiam salvar outras, mas, por desconhecer como é feito isso e é simplesmente avisar sua família que você tem o desejo de doar seus órgãos. Tendo a morte cerebral, então, a família autoriza a doar os órgãos. Se tudo der certo uma pessoa pode dor até oito órgãos, pode salvar oito vidas.
Seis anos transplantada. Como está sua vida hoje?
Minha vida mudou. Antes eu sentia cansaço, falta de ar ao mínimo esforço. E hoje dentro das minhas limitações, vida normal, vida que segue. Acordei já respirando melhor. Inicialmente foi bem complicado, porque eu pensava, se eu morrer, ia deixar um filho de 10 anos. Graças a Deus, pela atitude dessa família, que entendeu a importância de doar o órgão, hoje meu filho já está com 17 anos, louvo a Deus por isso e a nossa vida é só amor. Poder ver ele crescer, estudando, daqui um tempo já escolhendo sua profissão. É um privilégio muito grande essa segunda chance que eu tive.
Você continua fazendo um acompanhamento?
Sim. O acompanhamento é constante, sistemático, com uma equipe muito bem preparada. A cada três meses vou a Belo Horizonte, faço meu controle. Como meu caso tive muitas rejeições, esse ano mesmo, há dois meses atrás, imediatamente eles já entram com a medicação necessária para resolver.
Hoje você incentiva a campanha de doação de órgãos. O que você pretende demonstrar?
Hoje (sexta-feira), dia 27 de setembro, é comemorado Dia Nacional de Doação de Órgãos e eu queria falar para as pessoas que é simples. É só avisar à sua família do seu desejo de doar os seus órgãos. Sabe-se hoje que a cada 10 famílias não informadas sobre o seu desejo de doar os seus órgãos, seis não doam. Muita gente morre com os órgãos saudáveis, que poderia salvar outras vidas e não acontece muitas vezes por falta de conhecimento ou a pessoa nunca expressou o desejo.
Qual mensagem você deixa para as pessoas que estão na fila aguardando uma doação?
Quero dizer que tenha fé, persista. Deus está olhando por você, Ele sabe o momento, a hora certa e o seu coração vai chegar. Tenha fé e creia que você vai receber um coração novo. Desejo muita esperança e amor para cada um de vocês, porque já estive em seu lugar.