Prefeito adia assinatura de decreto de calamidade pública
CARATINGA – Na manhã de ontem, o prefeito Marco Antônio Ferraz Junqueira, o chefe do Departamento da Região Leste de Minas Gerais da Copasa, Maurício Paulo Pereira; e o gerente regional, Albino Junior Batista Campos, se reuniram com representantes de segmentos da sociedade e secretários municipais para tratar da crise hídrica em Caratinga. Em seguida, as autoridades concederam entrevista coletiva à imprensa.
Segundo o prefeito, Maurício veio prestar esclarecimentos em nome do Frederico Lourenço Ferreira Delfino, o “Fred Ferramenta”, diretor de operações centro-leste da Copasa. Marco Antônio explicou que ontem estaria anunciando um decreto amplo para que pudesse tomar uma série de medidas em relação à crise hídrica, porém com a chuva na noite passada, foi possível adiar por ao menos uma semana a publicação deste decreto. “Obviamente que estaremos monitorando semanalmente com a Copasa, e se houver necessidade faremos o decreto, mas por enquanto estamos emitindo um decreto restrito, que é administrativo, para que a própria prefeitura comece a dar seu exemplo”.
Marco Antônio disse que foi bem recebido em Belo Horizonte nesta quinta-feira (22) e Fred Ferramenta disponibilizou rapidamente que o superintendente viesse falar à sociedade de Caratinga e dar esclarecimentos sobre a crise hídrica. O prefeito disse que na oportunidade, abriu a discussão para vários outros assuntos de interesse do município e de alguns distritos que ainda não tiveram água tratada, a exemplo de Cordeiro, Dom Lara, da Ilha e dos 25% da população de Caratinga que não receberá o tratamento de esgoto que será concluído no final do ano, como também a expansão da cidade e quantidade de água necessária. “Mas quero noticiar que as aulas continuarão normalmente semana que vem, assim como as unidades de saúde e todas as atividades da prefeitura, as instituições privadas e do estado que estavam solidárias também seguirão o mesmo procedimento, e a cada semana estaremos monitorando junto com a Copasa a necessidade ou não de se intervir em todos esses procedimentos e deixar bem claro que há uma proposta que gostaria de ouvir diretamente dos representantes da Copasa, emergencial, para que a gente possa manter o abastecimento, porque vamos entrar no período de chuva, mas acreditamos que para o próximo ano, temos que já de imediato tomar algumas medidas para que não passemos por esses problemas novamente”.
Marco Antônio destacou que no final do ano passado aconteceu o mesmo problema, mas logo vieram as chuvas, e agora foram quase dez dias de crise e uma medida precisa ser tomada. “Há necessidade deste decreto, de se formar com a sociedade organizada, com os vereadores, com a Copasa e com o executivo, uma comissão para discussão e terei que fazer este decreto para que tenhamos um planejamento para o ano, apesar de que a Copasa nos garantiu agora para o próximo ano uma medida de emergência que é a transposição do Rio Preto para que a gente possa manter o abastecimento da nossa cidade”.
Questionado sobre determinadas medidas não poderiam ter sido tomadas há um ano e o que representantes políticos como Adalclever Lopes estão achando da situação, Marco Antônio disse que a oportunidade de estar com Fred foi possível pelo empenho do presidente da Assembleia Legislativa e também de priorizar as ações, porque são mais de 144 municípios que estão passando por isso. “O deputado se sensibilizou com Caratinga, porque os estudos técnicos feitos pela Copasa não previam isso e na verdade foi uma surpresa que Caratinga entrasse nesse processo de crise hídrica em comparação as cidades que já passam por isso há mais tempo. Hoje estamos na lista de prioridades da Copasa de investimento. É claro que todo esse estudo não é minha especialidade, mas já ouvimos falar desta crise, estou acompanhando e os estudos para nossa região foram totalmente adversos do que se era proposto, exemplo disso que ontem (quinta-feira) escutamos autoridades falando da quantidade de chuva que cairia, se calculou 8 mm e recebemos 60 mm. É interessante como para as autoridades científicas, previsões imediatas estão sendo difíceis, mas a médio e longo prazo elas tem acertado e demonstrado que apesar da gente entrar num período de tranquilidade, para o próximo ano temos que começar agora a trabalhar e estudar”.
REPRESENTANTES DA COPASA
Durante a entrevista, o chefe do Departamento da Região Leste de Minas Gerais da Copasa, Maurício Pereira, e o gerente regional, Albino Campos, foram questionados sobre a situação em Caratinga.
A Copasa já tinha informações que Caratinga passaria por falta de chuva, já que especialistas falaram que todos sabiam desse fato?
MAURÍCIO PEREIRA – Conforme já falado pelo prefeito, até os institutos especializados em mananciais e capacidade de produção de água tem sido surpreendidos, em especial ao que se refere ao volume de precipitação, já tenho observado no mínimo nos últimos três anos, que esse volume tem diminuído muito em relação à média, especificamente sobre Caratinga. No ano passado tivemos uma situação próxima ao esgotamento, mas não foi necessária nenhuma providência, logo depois tivemos chuva, o manancial respondeu e não foi necessário nenhum racionamento. Especificamente neste ano, nessa região, não só em Caratinga, mas em vários outros municípios, tivemos uma série de surpresas, como em algumas cidades que nunca tínhamos tido sinalização de que teríamos esgotamento de mananciais. Tivemos que tomar uma série de medidas e para garantir este abastecimento, mesmo contrariando os estudos de especialistas. Como exemplo aqui em Caratinga, os estudos dos especialistas em mananciais garantia uma vazão de 240 litros por segundo, chegamos a trabalhar esse ano com 98. Então este 240 é a maior vazão que poderia se tirar, garantindo inclusive, o que chamamos de vazão residual, que é aquela que desceria pelo rio e pelo córrego, então, diante deste fato, da surpresa que foi a Copasa tomou uma série de medidas, primeiramente nas suas instalações cortando todo gasto, todo uso de água, sendo revertido para a população, posteriormente implantamos o sistema de rodízio para tentar levar o mínimo de água a toda população. No primeiro momento foi muito complicado porque houve uma reação em acumular água, então o consumo que deveria diminuir, aumentou muito, as partes altas ficaram extremamente prejudicadas, mas no final foi um pouco mais equilibrado. Felizmente tivemos uma precipitação considerável, que nos dá uma tranquilidade momentânea. Iremos não diariamente, mas toda hora monitorar o manancial e observar o comportamento dele. Ele tem uma bacia de contribuição e nessa bacia pelos levantamentos que tivemos, hoje (ontem) pela manhã teve um volume de chuva bom, então nós esperamos que ele tenha uma regularidade, mas não é garantia. Vamos acompanhar porque é a primeira vez que ocorre corte de vazão do manancial desta forma.
Estão previstas novas obras, como represas?
MAURÍCIO PEREIRA – Diante deste fato e não só aguardando a chuva, a Copasa agiu. Uma das ações foi trazer equipes especializadas em perfuração de poços, locamos poços às margens do Lage. Já iniciaram os trabalhos, inicialmente com um pouco de dificuldade com o proprietário, mas hoje já foi resolvido e independente da chuva, este trabalho continuará. Outra frente que a Copasa abriu imediatamente após a determinação da direção, foi acelerar os estudo da transposição do Rio Preto. É um manancial que hoje tem garantia de vazão, é uma obra de mais ou menos de 7 km. Haverá na cidade um bombeamento e quando necessário, a água irá para o ribeirão do Lage e consequentemente garantirá o abastecimento da população de Caratinga.
A preservação dos mananciais é responsabilidade de qual órgão? A Copasa não deveria ter acompanhado e cobrado isso uma vez que a companhia é contratada para o abastecimento, que além de ter compromisso de levar a água até os consumidores, se beneficia financeiramente deste serviço?
A competência de preservar os mananciais, as áreas de recarga, a parte de reflorestamento, de cobertura vegetal são de vários órgãos. Temos Instituto Estadual de Florestas (IEF), temos a Emater, para medir o manancial temos o Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas). O que precisamos entender é o seguinte: precisamos ter uma consciência de todos os usuários, todos os que necessitam da água, que é preciso preservar. A natureza vem sinalizando, principalmente em 2014, em outras regiões, que há necessidade de mudarmos o comportamento, tanto dos atores que estão lá no meio rural, como nós da população das áreas urbanas, um uso racional, mais consciente. Uma série de ações são possíveis para preservar os mananciais, logicamente que não é responsabilidade única da Copasa, mas em momento algum se esquivará de participar deste processo. Todos esses atores que citei deverão estar nesse processo de buscar a preservação desses mananciais.
Diferentemente de outros estados e cidades, Caratinga não tem reservatórios. Por que a Copasa não investiu nisso?
MAURÍCIO PEREIRA – A Copasa possui um sistema de reserva de distribuição de água tratada. Nisso a cidade é bem servida, se não me engano são 9 milhões de litros, tá dentro da norma, atende plenamente. No que se refere a reserva de água bruta, esse estudo já foi realizado pela Copasa também, só que lá no Lage, pela bacia de contribuição, teria que se fazer uma barragem muito alto, que iria primeiramente a rodovia, depois vários condomínios, então num estudo preliminar que a empresa fez, buscar água no Ribeirão Preto é tecnicamente e financeiramente mais rápido e mais viável. Então este é o estudo que está sendo detalhado hoje para se tornar um empreendimento.
Que tipo de poço está sendo construído próximo ao Lage e como pode contribuir com o fornecimento para a cidade?
MAURÍCIO PEREIRA – É um poço profundo, normalmente tem mais de 100 metros de profundidade, e uma vez perfurado e constatado a presença capacidade para ação de água será feito sistema de bombeamento e lançado no ribeirão Lage, que consequentemente chegará à cidade.
Com a chuva de ontem (quinta-feira, 22), parece que o abastecimento para a semana foi garantido? O sistema de rodízio continuará?
O rodízio foi suspenso pelo comportamento da vazão que chegou à cidade e em nossa estação. Como é a primeira vez que acontece a diminuição de vazão pelo manancial, não sabemos exatamente como será o comportamento dele. Por isso disse que acompanharemos hora a hora, pelo tamanho da bacia de contribuição que são mais de 30 km, entendemos que a recarga será por um período longo, mas não temos essa garantia. Estamos firmando aqui com o prefeito com sua equipe, é que iremos monitorar continuamente e caso sinalize que o manancial não garantirá a demanda da população, imediatamente serão comunicados e tomaremos as providências necessárias.
Como a Copasa pensa em fornecer água para vários loteamentos que estão surgindo com o crescimento da cidade?
MAURÍCIO PEREIRA – A Copasa está atenda ao crescimento da cidade e nos seus estudos providenciará vazão e capacidade para atender esta questão.
Tem a previsão de transposição do Rio Preto para o abastecimento de Caratinga?
MAURÍCIO PEREIRA – Estamos trabalhando que caso ocorra outra estiagem em 2016, esteja em condições de funcionar.
Em vários lugares estão acontecendo vazamento de água limpa, como está sendo o trabalho da Copasa em relação a isso?
ALBINO CAMPOS – A Companhia está atenta a esta situação e a maioria destes vazamentos é exatamente nos próprios registros manobra da Copasa, em função dos rodízios, que estavam sendo aplicados nestes últimos dez dias, os registros precisavam ser acionados, isso facilitava a passagem de uma pequena vazão de água. Não era momento de fazer a substituição deste equipamento, porque interromperíamos o abastecimento de uma grande região. A Copasa já tem todos esses pontos cadastrados, são 12 registros com este tipo de vazamento em função de suas operações, eram registros que se mantinham sempre abertos, em função do rodízio, tivemos que fazer fechamentos, mas faremos a substituição. Sobre vazamento de água, a Copasa tem uma equipe que trabalha 24 horas. Antes de fazermos qualquer serviço precisamos reduzir perda física de água. O sistema de Caratinga é privilegiado. O índice de perda física é baixo em relação a média nacional e regional, nós perdemos entre 17% e 19%, enquanto a média nacional é 40% e nem sempre essa perda é física, as vezes é pelo ato infracional pelo roubo de água, mas consideramos também como perda.
Por que o rodizio não estava sendo cumprido conforme a Copasa informava?
ALBINO CAMPOS – Pelo comportamento da população, que começou a armazenar de uma forma muito maior o volume de água na região. Tinha cerca de 50% de redução da vazão, tínhamos dividido a cidade em duas, ou seja, abastecendo 50% a cada 36 horas. Conseguimos abastecer a parte baixa, mas a alta foi extremamente prejudicada em função da utilização de reservas imensas. Em época de rodízio, a população buscar reservar 50 litros, ou 100, mas temos caso que clientes compraram 20 mil litros de água para uma residência. Isso extrapolou nossa proposta, por isso tivemos que mudar, porque as pessoas da parte baixa começaram a consumir de forma muito maior. Neste sentido, na última terça-feira (20), mudamos o rodízio onde tínhamos dividido a cidade em três, mesmo com 50% de vazão para que pudéssemos de fato atender a todos. A Copasa foi muito criticada, mas fizemos o primeiro rodízio, tentando minimizar o impacto junto à população, mas não fomos ajudados, então precisamos fazer um rodízio que fosse mais impactado para garantir o abastecimento a todos.
Onde o poço está sendo perfurado é área particular. Caso a empresa encontre água, pretende negociar com o proprietário?
ALBINO CAMPOS – Sim, ontem conversamos com o proprietário e fomos a um órgão ambiental onde ele tinha necessidade de uma regularização, acertamos com ele, estamos prospectando, não quer dizer que vamos encontrar água. Hoje com 26 metros de perfuração não tínhamos encontrado nem um litro de água por segundo. Vamos fazer até 200 metros de profundidade, caso a empresa consiga uma vazão que seja satisfatória, vamos negociar a área com o cliente através de cessão de uso gratuito ou oneroso e também a aquisição da água. Temos outras locações de águas na cidade, independente da situação estar se normalizando momentaneamente ou não, porque é uma alternativa no que se refere ao abastecimento de Caratinga.
Existe alguma instituição que tem prioridade no abastecimento?
ALBINO CAMPOS – Casa de saúde e hospital, tanto é que alguns clientes que estão próximos tiveram água o tempo todo. A maternidade tem reservatório e a Copasa encheu este reservatório. Para o presídio, todos os dias enviamos seis caminhões-pipas, pois não estão na área de abastecimento, mas temos convênio com a Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS).