DA REDAÇÃO – Depois de o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) determinar que carros com mais de dez anos de uso deveriam trocar de extintor (de BC para ABC), no começo deste ano, o órgão decidiu, quinta-feira (17), que não será mais obrigatório ter o equipamento nos veículos que circulam no Brasil. A medida passa a valer a partir do momento em que a decisão aparecer no Diário Oficial da União, algo que deve acontecer até segunda-feira (21).
Com isso, o uso será opcional para carros, utilitários, camionetas, caminhonetes e triciclos de cabine fechada. Até então, rodar sem extintor ou com ele vencido era considerado infração média, com multa de R$ 127,69 e cinco pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Essa medida que obrigava o uso do equipamento foi estabelecida em 1968 e passou a vigorar em 1970.
O extintor continua sendo obrigatório em caminhões, micro-ônibus, ônibus, tratores e veículos de transporte de produtos inflamáveis.
REPERCUSSÃO
A reportagem do DIÁIRO foi às ruas e ouviu o que os caratinguenses pensam sobre essa medida. A maioria criticou, alegando que essa foi mais uma forma ‘que o governo arrumou para tirar dinheiro da população’.
Para Eduardo Gomes, dono de uma loja de venda extintores de incêndio, todo o processo foi marcado por equívocos. Ele observa que mudança proposta do
extintor BC para o ABC foi algo que o mercado não esperava e muitos tiveram que repentinamente comprar o produto, que acabou faltado em vários pontos. “Foram várias pessoas que compraram extintores para se adequar a lei. Para minha loja tive que trocar quase seis mil extintores e me adaptar à procura. Agora o governo vem e faz isso. Eu tomei prejuízo. Este governo está perdido e agora parece querer acabar com todo mundo”, disse Eduardo.
Seguindo seu raciocínio, Eduardo Gomes avalia que esta medida afeta ainda as fábricas de extintores. “Quantos funcionários serão demitidos? Foi um prejuízo grande para muita gente. Até mesmo o dono de automóvel, que pagou caro pelo produto e agora esse produto não tem valor”.
O comerciante crê que o movimento em sua loja deverá cair em até 10%.
O representante comercial Daniel Pires é proprietário de automóvel. Ele se viu obrigado a comprar extintor. Para Daniel, essas leis ‘brincam’ com o brasileiro. “Um absurdo. Comprei um extintor e agora ele não serve para nada. Fez-me lembrar de quando surgiu a obrigatoriedade de ter kit de primeiros socorros nos veículos. Foi obrigatório num determinado tempo, depois a lei foi revogada”, reclamou, comparando com a medida tomada em 1998 e, no ano
seguinte, a exigência foi derrubada.
José Otávio Vieira de Farias é corretor de imóveis. Ele defende a obrigatoriedade de ter o equipamento nos veículos. “Isso é péssimo. Posso dizer que já aconteceu comigo. Estava num veículo que pegou fogo, senão fosse o extintor tinha comprometido o meu carro e até veículos de outras pessoas que estavam estacionados perto do meu automóvel”, conta José Otávio.
O pedreiro José de Souza foi taxativo em sua análise. “É uma pouca vergonha. Primeiro nos obrigaram a comprar um extintor caro ou então seríamos multados. Para não ficarmos irregulares, compramos o equipamento. E agora muda tudo? Isso foi uma maneira de mais uma vez roubar do povo. O brasileiro está cansado de ser fraudado pelos políticos”, desabafa.
Nério da Silveira tem uma opinião diferente dos demais entrevistados. Ele disse que se houve um estudo sobre essa situação, “ele tem que ser levado em consideração”.
Já Ângela Maria de Faria pensa que essa medida deveria ser revista. “Acho errado. Vamos precisar do extintor caso haja um incêndio. Isso sem falar que muita gente comprou este equipamento para estar de acordo com a legislação. Mas parece que mais uma vez esse foi um jeito de tomar o dinheiro do povo”, pondera.
Aguinaldo Silva classificou está situação como uma ‘molecagem’. “Como fica a situação de quem já trocou o extintor? Sem falar de empresários que investiram alto para repor o estoque de suas lojas. Esse governo não para de tomar o nosso dinheiro”.
O QUE HOUVE?
O Contran havia adiado para outubro a exigência de troca do item pelo tipo ABC (carros produzidos desde 2005 já contêm esse tipo de equipamento). Por conta disso, houve correria nas lojas e denúncias de alta nos preços.
Segundo o presidente do Contran e diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Alberto Angerami, a prorrogação teve como objetivo dar prazo para reuniões com os setores envolvidos. “Tivemos encontros com representantes dos fabricantes de extintores, corpo de bombeiros e da indústria automobilística, que resultaram na decisão de tornar opcional o uso do extintor”, explica o executivo.
Dos fabricantes, o Denatran ouviu que era necessário um prazo maior, de cerca de três a quatro anos, para atender a demanda. Porém, segundo o presidente Angerami, essa justificativa era dada pelas empresas há 11 anos.
QUASE INÚTIL
A AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) informou que dos dois milhões de acidentes em veículos cobertos por seguros, apenas 800 tiveram incêndio como causa. Desse total, somente 24 informaram que usaram o extintor, o equivalente a apenas 3%.
Além disso, estudos realizados pelo Denatran constataram que as inovações tecnológicas introduzidas nos veículos nos últimos anos resultaram em maior segurança contra incêndio. Entre as quais, o corte automático de combustível em caso de colisão, localização do tanque de combustível fora do habitáculo dos passageiros e baixa flamabilidade de materiais e revestimentos, entre outras.