Eugênio Maria Gomes
Novembro ainda não terminara e o pequeno Mauro já vivia o clima de Natal. Todo ano era assim, aquela excitação pela passagem do velho Noel e pelos presentes que ele distribuía. Tinha sido assim, ano após ano, até que o garoto, aos oito anos de idade, resolveu pegar alguma coisa no guarda-roupa de seus pais e lá encontrou guardado o presente que havia pedido ao Bom Velhinho: uma metralhadora que acendia luzes vermelhas e verdes, quando o gatilho era acionado. Ora, se era o Papai Noel quem trazia os presentes, na noite de Natal, como é que aquela metralhadora estava ali? Mauro sempre ouvia a história de que havia um velhinho, lá na Lapônia, que depois de passar anos e anos construindo e distribuindo brinquedos para a criançada de lá, resolvera vestir-se de vermelho e, a bordo de um trenó puxado por renas voadoras, distribuir presentes para todos, no mundo inteiro. Será que os seus pais haviam mentido para ele?
Na medida em que o tempo foi passando, Mauro foi entendendo o quanto tinha sido importante para ele acreditar na existência de Papai Noel. Só não havia sido bom descobrir a forma como ele existia, ao abrir a porta de um guarda-roupa… Faria diferente com os seus filhos, quando os tivesse. E assim ele fez: sempre falou aos seus filhos Yan e Yago sobre a doce figura de Papai Noel. A ponto de, em determinado momento da vida deles, na escola, sofrerem bullying, por ainda acreditarem na existência do Bom Velhinho…
– Papai, você disse que Papai Noel existe, mas os meus colegas estão rindo de nós. “Todo mundo sabe que Papai Noel não existe” é o que eles falam…
– É claro que Papai Noel existe. Fiquem atentos nesse Natal e poderão vê-lo.
Aquela seria uma noite de Natal muito especial. Mauro conseguiu uma roupa de Papai Noel, com barba branca e tudo. Colocou dois pires com um pouco de pólvora no quarto e combinou a encenação com Mara, sua esposa: ela iria acordar os meninos, na madrugada de Natal, por conta de um barulho que viria da sala. Mauro ficaria perto da árvore e, ao perceber que as crianças estavam vindo, ele sairia pelo corredor, em direção ao quarto.
– Meninos, acordem! Tem alguém mexendo na árvore de natal.
– Será que é o Papai Noel, mamãe?
– Acho que sim Yago…
– Vamos lá dar uma olhada, mamãe?
– Vamos sim, Yan… Somente uma “espiada”, sem fazer barulho.
Na sala, perto da árvore, Mauro viu a sombra dos curiosos chegando. Saiu em disparada, em direção ao corredor, de modo que eles viram, apenas, o vulto de Noel seguindo em direção ao quarto. Já no quarto, enquanto as crianças eram despistadas pela mãe, Mauro acendeu a pólvora e, no meio a uma grande cortina de fumaça, viu os pequenos se aproximarem. De boca aberta, os meninos não acreditavam no que estavam vendo… Papai Noel estava ali, na casa deles, no quarto dos pais deles. Não conseguiam se mexer, extasiados que estavam com a figura do Bom Velhinho, assim, tão próximo…
– Ho, ho, ho! Feliz Natal Crianças!
E, de repente, Papai Noel já não estava mais lá. Saíram pela casa a sua procura… Enquanto isso, Mauro que havia aproveitado o momento de “encantamento” e se abaixara atrás da cama, utilizou a saída dos meninos para se livrar do gorro, da barba, da blusa e das luvas da fantasia de Papai e deitou-se na cama, sob a colcha. Não tivera tempo para se livrar das botas e da calça de Papai Noel, pois os meninos vieram logo em seu encalço…
– Papai, o Papai Noel estava aqui. Você viu?
– Não, estava dormindo.
– Venha papai, vamos procurá-lo…
– Não posso, estou com muito sono. Vamos dormir. Papai Noel já foi embora e, amanhã cedo, vamos abrir os presentes que ele, certamente, deixou na árvore…
Tempos depois, Mauro reuniu as crianças para falar sobre o Papai Noel. Não poderia correr o risco de que descobrissem a verdade da mesma forma que ocorreu com ele.
– Crianças, Papai Noel existe. Sempre existiu e, sempre, existirá. Ele está em nossos sonhos, em nosso coração. Ele só deixa de existir quando deixamos de acreditar nele, quando deixamos de acreditar na Magia do Natal.
Sim, Papai Noel existe!
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.