Polícia Civil prende dois pistoleiros suspeitos de assassinar empresário do ramo de café em 2018. Executores podem ter recebido até R$ 300 mil pelo crime
CARATINGA – Através de uma investigação longa e complexa, a Polícia Civil conseguiu desvendar detalhes importantes do crime que vitimou o empresário caratinguense do ramo de café, Antônio Eduardo Figueiredo Xavier, no dia 14 de agosto de 2018.
Em uma entrevista coletiva nessa quinta-feira (17), concedida pelos delegados Ivan Sales, Sávio Moraes e pelo investigador Pedro Celestino, foi possível saber que mandantes fizeram um consórcio que pode ter chegado ao valor de R$ 300 mil para pagar os executores que tiraram a vida de Antônio na frente de sua família, dentro da padaria Colombo, no bairro Santa Zita.
Os executores José Antônio Ferreira da Silva, vulgo “Zezinho”, e Humberto Dias Monico, o “Alemão”, estão presos no estado de Tocantins, onde cometeram outros assassinatos.
O delegado regional Ivan Sales iniciou a entrevista informando que nessa quinta-feira (17), a Polícia Civil deu cumprimento a prisão dos executores do crime. Mesmo eles já estando presos em Tocantins, o mandado expedido pela comarca de Caratinga também foi cumprido. “A gente conseguiu identificar o autor que efetuou os disparos, e um segundo autor que participou da execução dando a fuga e fazendo o planejamento do homicídio que vitimou o empresário. Trata-se de um crime de uma complexidade absurda, porque os executores são pistoleiros. São pessoas que vivem disso, matam por dinheiro. Na medida em que eles já praticavam diversos homicídios, eles iam se cuidando pra deixar o menor rastro possível”, disse o regional.
O delegado aproveitou para destacar a importância de uma polícia investigativa qualificada, “que por mais difícil que seja de apurar o crime, consegue trazer uma solução”, e ainda enfatizou “a união dos policiais e delegacias, que contribuíram para apuração de um caso muito difícil, um crime de mando”.
DINÂMICA DO CRIME
O delegado Sávio Moraes agradeceu o trabalho do seu antecessor, Rodrigo Cavassoni, que começou a investigação do caso junto da equipe de homicídios, mas que atualmente está em outra regional e também o compartilhamento de informações por parte do delegado de Ipanema, Alfredo Serrano. “A dinâmica foi que o empresário estava na porta do estabelecimento, como era comum dele fazer, sendo que chegou um motoqueiro, e efetuou três disparos de arma de fogo, levando a vítima a óbito, e logo após o crime, ele fugiu nessa motocicleta. Durante a investigação conclui que existia mais uma pessoa envolvida nesse crime, que estava na redondeza, participou de todo levantamento do local do crime, o dia a dia da vítima, negociou valores da execução, e também a possível rota de fuga”.
Portanto de acordo com o delegado Sávio são dois supostos executores desse crime, que foram presos ano passado, em virtude de mandados de prisão expedidos nos estados do Espírito Santo e de Tocantins. “E na data de hoje (17) estamos formalizando a prisão deles em virtude de mandato de prisão expedido pelo poder judiciário de Caratinga, e comunicando entre os estados para que sejam cumpridos”.
MOTIVAÇÃO
A Polícia Civil descobriu que a motivação tem a ver com dívidas, referentes a produção, compra e venda de café. “Foi um crime a mando, trata-se de um homicídio qualificado, crime hediondo, denominado homicídio mercenário, cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão. Trata-se de uma organização criminosa que atua nos estados de Minas Gerais, Tocantins e Espirito Santo”, informou o delegado Sávio Moraes.
PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E ROTA DE FUGA
O investigador Pedro Celestino disse que foram realizadas todas as diligências necessárias, que permitiram que a polícia conseguisse fluir quanto a motivação dos fatos. “Em princípio descartamos a possibilidade de ser crime passional ou ligado a conflitos comuns, e pelo fato do empresário ser ligado ao ramo de café ele adquiriu vultosa dívida, a qual ele não conseguiu sanar junto a esses credores, os quais insatisfeitos contrataram esses executores. Conseguimos analisar as imagens de câmeras de segurança e notar que as características do executor, que são características de crime de mando, também conseguimos traçar uma possível rota de fuga, e a partir da informações da delegacia de Ipanema, intensificamos a busca por pistoleiros que atuam na região de Caratinga, e em trabalho conjunto com a Polícia Civil do Espirito Santo e de Tocantins, conseguimos identificar uma organização criminosa que atua principalmente no Espírito Santo, especializada em tráfico ilícito de drogas, e pistolagem”, disse o investigador.
Ainda de acordo com Pedro Celestino, foi identificada uma pessoa ligada à região de Caratinga, que trouxe o executor que efetuou os disparos contra vítima.
A Polícia Civil conseguiu a partir dos levantamentos e cruzamentos de dados perceber que os executores estiveram na região de Caratinga nos meses de junho e julho de 2018, período que antecedeu o crime. Depois os pistoleiros retornaram no dia 13 de agosto de 2018, onde fizeram os levantamos finais, retornaram para a cidade de Ipanema e no dia 14 assassinaram o empresário. “Esse crime foi executado por apenas um atirador, que empreendeu fuga, e a partir dos nossos levantamentos iniciais nós sabíamos que ele tinha fugido pela BR-116, sentido a Ubaporanga, e conseguimos perceber que eles entraram no bairro Esplanada, dali saíram na estrada de Santa Luzia (zona rural de Caratinga), foram para o distrito de Alegria e posteriormente para Ipanema, cidade onde reside um dos pistoleiros. Ambos pernoitaram na cidade de Ipanema, e o atirador foi para o Espírito Santo. Essa organização criminosa perpetrou diversos crimes em Afonso Cláudio (ES), porque houve um racha dessa organização, eles começaram a brigar entre si, e depois perpetraram um crime em Mutum. Em Afonso Cláudio, usaram uma moto com características idênticas a usada em Caratinga e também em Aimorés e Tocantins”, detalhou o investigador.
A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
O delegado Sávio Moraes disse que as evidências apontam para a organização criminosa, com atuação interestadual, sendo que no inquérito há indícios e provas concretas de que os executores estiveram em Caratinga, dias anteriores ao crime, e no dia da execução. “Há também elementos que comprovam o modus operandi desse crime, o mesmo do praticado em Afonso Cláudio no dia 27 de novembro de 2018, onde também foi assassinado um empresário, e outro praticado em Paraíso de Tocantins, praticado no dia 8 de fevereiro de 2021, onde também foi assassinado um empresário, e eles foram identificados e presos”.
Ainda conforme o delegado, “tendo em vista que usam documentos falsos que pode ajudar em outras investigações, vamos divulgar o apelido deles. O executor do crime, que atirou, tem o apelido de Alemão, e quem arquitetou o crime tem o apelido de Zezinho, que é o que residia em Ipanema. Essa organização criminosa deixa indícios que possui um vasto arsenal de armas, atua em diversos estados e além desses executores que são os chefes, atua também agenciado pistoleiros. O suposto executor dos tiros, o “Alemão”, é um capixaba, tem 32 anos, apontado como uma dos chefes do tráfico do bairro Nova Rosa da Penha, em Cariacica (ES), e da cidade de Anchieta (ES). Ele tinha seis mandados de prisão em aberto, sendo três por homicídio em Cariacica, um por tráfico de drogas na mesma cidade e dois por homicídio em Tocantins. O autor intelectual do crime, Zezinho, também capixaba, 38 anos residia em Ipanema, ele foi o elo entre os supostos mandantes do crime. O Alemão foi preso no dia 10 de novembro 2021, em Anapu, no Pará, por meio de uma investigação conduzida pela delegacia de homicídios de Venda Nova do Imigrante, Polícia Civil do Espirito Santo. Já Zezinho foi preso em 21 de março de 2021, em Ceilândia (DF), na investigação da Polícia Civil de Tocantins. Ambos foram recambiados para o presídio de Tocantins”, destacou Sávio Moraes.
SEGUNDA FASE – MANDANTES
Sobre os mandantes do crime, o delegado explicou que já um rol de suspeitos. “Agora se inicia a segunda fase de investigação, em que a equipe vai deslocar até o estado Tocantins para interrogar esses suspeitos e analisar as provas que foram coletadas para concatenar os elementos informativos e assim apurar e indiciar os mandantes do crime. Como foi um crime de mando, já há indícios de que o valor pago gira em torno de até R$ 300 mil. Essa organização criminosa atua com valores de até R$ 300 mil, inclusive há informações que estavam negociando a prática de um crime em Coronel Fabriciano. A respeito dos mandantes, a insatisfação de alguns dos credores com a vítima a respeito de dívidas com café, fez com que esses credores formassem a base de um consórcio para financiar o pagamento desse crime de pistolagem”, conclui o delegado.