Na madrugada de domingo (24) houve agressão e tiros. Estabelecimento divulgou nota. Autor dos disparos pagou fiança no valor de 7 mil reais; frequentador conta que foram instantes de desespero
CARATINGA – Ainda repercute a confusão ocorrida na madrugada de domingo (24) na Boate Prime, localizada às margens da avenida Presidente Tancredo Neves. No local houve tiros e agressão. Os envolvidos, ambos moradores do Rio de Janeiro, Jaime Badaró Sobral, 33 anos, e Laércio Gonçalves de Souza Filho, 30, que é militar no estado fluminense, foram conduzidos para delegacia. Jaime foi o autor dos disparos e pagou fiança no valor de 7 mil reais.
A CONFUSÃO
Uma guarnição da Polícia Militar estava nas proximidades da boate, quando ouviu barulhos semelhantes a disparos de arma de fogo. Os militares entraram no recinto e encontraram os envolvidos muito exaltados e eles estavam sendo contidos por seguranças e por alguns frequentadores.
Os policiais fizeram a abordagem e encontraram uma pistola 45 com Laércio, que se identificou como policial militar do estado do Rio de Janeiro. Conforme o registro da ocorrência, Laércio e Jaime alegaram que houve uma rixa devido a desavenças referentes a mulheres e em dado momento, o policial sofreu uma agressão e caiu ao chão. Então Jaime pegou a arma e efetuou sete disparos. Segundo ele, os tiros foram para o alto e para o chão. Nesse momento houve muita correria e pessoas chegaram a cair. Toda a confusão foi gravada pelas imagens do circuito de monitoramento do estabelecimento. Alguns frequentadores usaram as redes sociais e se manifestaram dizendo que por pouco não houve uma tragédia. Há registros de pessoas que se feriram e chegaram procurar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). No entanto, nenhum caso de ferimento grave foi registrado.
Os envolvidos, junto de testemunhas, foram encaminhados para delegacia de Polícia Civil. No local foram recolhidos três carregadores para pistola 45, além de 28 cartuchos intactos e um deflagrado. O certificado da arma, em nome de Laércio, também foi apreendido. Após ouvidos, o militar Laércio foi liberado enquanto Jaime pagou fiança no valor de 7 mil reais e também foi liberado.
No decorrer dos trabalhos, os militares conduziram um jovem, 25, que participou da briga. Ele confirmou que desferiu socos para se defender e que fugiu quando percebeu os disparos. O rapaz foi levado para delegacia, onde foi ouvido e liberado.
ADVOGADO DE DEFESA
Max Capella é o advogado que representa Jaime e Laércio. Ele contou que seus clientes não se lembram muito da parte anterior ao acontecimento. “O Laércio, principalmente, que é o policial militar, só se recorda de ter apanhado e acordou já sendo retirado da boate pelo tenente Marco Aurélio, que foi lá prestar a primeira assistência ao evento. Jaime também não se recorda dos fatos, nem de quantos tiros deu, ou se tinha efetuado disparos. Agora a memória vai voltando, ele diz que fez aquilo ali após o início da briga”, contou o advogado
Ainda segundo Max, Jaime e Laércio disseram que não se recordam o motivo da confusão. Especificamente sobre Laércio, o advogado comentou que ele foi vítima. “Ele é policial vinte e quatro horas por dia e, ao contrário do que muitos podem pensar, ele poderia estar armado dentro da boate sim. O que deveria haver é um local para acautelar essa arma enquanto ele estivesse nas dependências da casa. E não havia. E, além do local adequado, haveria de ter também um armeiro, que é uma pessoa treinada e autorizada a manusear e guardar armas de fogo. O policial tinha duas opções: entrar armado ou deixar a arma no carro. Ele tem instruções da própria PM no sentido de que não se deve deixar arma no carro, pois pode ser vítima de furto. Laércio foi agredido violentamente e ficou desacordado caído ao chão. Ao ver tal situação, Jaime, amigo que estava acompanhando Laércio, pegou a arma de fogo do amigo e efetuou disparos para cima e para o chão, no intuito de cessar as agressões e afastar as pessoas da confusão. Não ficou esclarecido os motivos que determinaram as agressões, mas isso está a cargo da Polícia Civil que está dando continuidade às investigações”, informou Capella.
Segundo o advogado, o agressor de Laércio e Jaime já foi detido pela PM e encaminhado à delegacia de polícia. “Quanto a Jaime, a única conduta que se pode dizer ilícita dele é disparo de arma de fogo, prevista no artigo 15 da Lei 10.826/03, o Estatuto do Desarmamento. Devido a isso, o mesmo teve sua prisão em flagrante ratificada pela autoridade policial e foi arbitrada fiança no valor de R$ 7.000,00 a qual foi paga e ele colocado em liberdade imediatamente. Laércio, por ser tão somente vítima da situação, foi liberado assim que foi ouvido na delegacia”, finalizou Max Capella.
“Foi desesperador”, conta jovem que estava na boate
Um jovem, que prefere não se identificar, contou a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA como foram os momentos de pavor assim que os disparos de arma de fogo foram efetuados dentro da boate. “Foi desesperador”, resumiu.
Ele contou que o show de Lauana Prado transcorria tranquilamente, como diversos eventos que já tinha participado na Prime. “Quando perto das 3h escutamos os disparos. No início a gente pensou que era algum efeito do show, mas quando olhamos em direção ao bar, vimos todo mundo vindo correndo pra saída, nós estávamos no meio da pista mais ou menos, perto do palco”, recordou.
No momento, o jovem conta que veio à sua mente os recentes acontecimentos terroristas. “Devido aos fatos recentes, como atentado em Suzano (SP), atentado na Nova Zelândia, e até as ameaças em locais próximos, como o caso de Ipatinga se não me engano, outro caso aqui perto, acho que em São Pedro do Avaí (município de Manhuaçu), e mais as ameaças que vimos de pessoas em redes sociais, a primeira coisa que pensamos é que era um atentado contra os que estavam ali, pois foram três tiros na sequência, e quando começamos a correr, escutamos mais dois tiros. Fomos em direção à porta de saída, minha esposa foi na minha frente, mas chegando perto da porta as pessoas começaram a cair e os que estavam atrás vinham desesperados também. Minha esposa caiu em cima de uma moça que estava na nossa frente, e aí eu cai em cima dela, e aí as pessoas atrás vieram subindo em cima da gente”, relatou.
Conforme o jovem, esse foi o momento mais complicado. “Minha esposa começou a gritar que estava ficando sem ar ali, e a única reação que eu tinha era tentar manter o tronco levantado pra poder respirar e não amassá-la, mas a sensação era de afogamento, e de ir afundando lentamente. Até que um rapaz que tinha conseguido sair veio e começou a puxar a menina que estava debaixo da minha esposa arrastando ela pra fora. Aí eu consegui firmar o pé, porque o peso por trás diminuiu, as pessoas devem ter conseguido correr pro lado ou algo assim, então consegui levantar, consegui levantar minha esposa e saímos correndo, fiquei sem um pé do meu tênis. Ao sair ficamos procurando a amiga da minha esposa que estava lá também e vimos várias pessoas passando mal do lado de fora, algumas meninas desmaiando. Teve uma menina que passou com o pé cortado perto da gente por causa dos estilhaços. Na saída quando eu estava caído, lembrei na hora da tragédia da boate Kiss onde várias pessoas morreram pisoteadas, foi terrível mesmo”, avalia o jovem.
Traumatizado com os momentos que viveu, ele disse que com certeza não voltará à boate. “Tem o trauma de ter vivido aquilo ali, sem contar as consequências, ontem (domingo) minha esposa passou o dia inteiro com dor, aí fomos a UPA e descobrimos que ela fraturou uma costela e vai ter que ficar de 40 a 60 dias sem poder fazer esforço físico, ou seja, ainda teremos prejuízo, pois ela trabalha como artesã e não vai poder fazer as encomendas dela e eu terei despesas com remédio e marmita por exemplo, durante o período”.
LAUANA PRADO
A confusão ocorreu durante o show de Lauana Prado. A cantora se manifestou nas redes sociais:
“Amores tô vindo aqui para falar sobre o ocorrido de ontem no meu show em Caratinga. O momento mais mágico pra mim é quando estou no palco e ontem fomos interrompidos por uma atitude de uma pessoa em uma briga, assustando todo o público que estava no local. Graças a Deus, eu, minha equipe e fãs estamos bem. Ressalto aqui o quanto zelo pela segurança de todos os que me acompanharam. Esse fator sempre veio em primeiro lugar nos shows, que é um dos momentos mais importantes pra mim, de maior entrega e troca entre nós. Compartilho aqui todo o meu afeto por quem esteve no show e que, infelizmente presenciou essa situação. Sintam-se abraçados. Espero poder voltar em breve para fazermos uma festa linda juntos”.
BOATE PRIME
A direção da Boate Prime emitiu nota a respeito da situação. O documento é reproduzido em sua íntegra:
“A “Boate Prime”, em respeito aos nossos clientes e amigos, presentes no Show da cantora Lauana Prado, vem por meio desta esclarecer e se posicionar a respeito do lamentável ocorrido nesta madrugada – 23 de março de 2018 – por volta das 3:00 horas, quando foi interrompida a apresentação da cantora, em razão de um policial militar- usando de suas prerrogativas, portava arma de fogo, que foi disparada por seu amigo no interior da Boate, sendo ambos contidos incontinente pela equipe de segurança, segundos após o fato. Relatamos tratar-se de um fato isolado, provocado por culpa exclusiva de terceiros, eximindo a cantora Lauana Prado e Equipe de toda e qualquer responsabilidade.
Em razão do ocorrido, a atuação da equipe de segurança interna agiu imediatamente, abrindo as portas de emergência para evacuação. Após o adentramento da polícia militar ao local, foram conduzidos os envolvidos a delegacia da polícia civil de Caratinga, estando em apuração os fatos.
Destaca-se que a rápida atuação da polícia se deu em razão dos mesmos já estarem presentes na entrada do estabelecimento, em cumprimento ao ofício enviado a PM, solicitando providencias de segurança para o evento, protocolizado em data de 19/03/2019, no horário de 23:00 às 06 horas, o que foi prontamente atendido pela corporação.
A Boate prime, sempre primando pela segurança de seus funcionários e clientes, possui todos os requisitos exigidos pelo corpo de bombeiros militar, e está com documentação regular”.