* Vânia Maria O. Pereira
Amo cinema e sempre que posso procuro algo interessante para assistir. Recentemente foi lançado no Brasil o romance “Como Eu Era Antes de Você” da cineasta Thea Sharrock, baseado no livro de mesmo nome de Jojo Moyes. No Brasil o filme superou outros gêneros e estreou em primeiro lugar de bilheteria, com público de 736,1 mil espectadores e faturamento de R$ 11,3 milhões, no período de quinta a domingo (16 a 19/06/16), de acordo com a empresa de monitoramento comScore.
O filme conta a história de Will Trainor (Sam Claflin), um jovem bonito, rico, esportista, que vivia intensamente tudo que sua privilegiada vida poderia lhe proporcionar. Até que após um acidente, fica tetraplégico e perde, além dos movimentos, o sentido de viver. Torna-se deprimido, ressentido com a vida e sua condição de impotência total. Numa atitude defensiva, age com ironia e hostilidade com todos com quem ainda convive: familiares e cuidadores, revoltado com o que se tornou após o acidente. Após sucessivas passagens de profissionais por sua casa, Louise (Emilia Clarke) é contratada como sua cuidadora.
A partir daí, começa o envolvimento do casal e como já imaginamos pelo título do filme, a magia, possível com o encontro entre as pessoas, mesmo que inconsciente ou involuntariamente. Os mais céticos ou resistentes a esse envolvimento (ou amor?), poderiam argumentar que o filme é “água com açúcar”, “história de mulherzinha”, mas como sou tremendamente crédula nas pessoas (e no amor), acredito na possibilidade de transformação, que pode ocorrer, quando se dá oportunidade para esse envolvimento, seja com a vida, com o outro ou consigo mesmo, redefinindo seus projetos de vida ou sua visão de mundo.
O filme nos seduz, nos mostra que é possível nos tornarmos pessoas melhores e mais felizes através do amor. Nas palavras de minha tia, quase octogenária, que me acompanhou à sessão: “é um filme lindo!” segundo ela, “a gente envelhece, mas o coração não”. Em tempos tão sombrios, só por isto, já valeria a pena assisti-lo.
Mas, além disso, o filme mostra ainda outro ângulo, que gostaria de refletir aqui: que é o limite que temos de intervenção na vida do outro, ainda que o amemos intensamente. Quando amamos, nos sentimos tão plenos, achamos que a vida vale a pena, e acreditamos que isso é suficiente para dar sentido à vida do outro também, que podemos salvá-lo de suas tristezas, problemas e sofrimentos, e principalmente, que se formos correspondidos, isso basta. No filme, o casal se amava verdadeiramente e redescobriram as alegrias que a vida pode proporcionar quando nos abrimos para ela, mas isso não bastou.
O amor (seja entre um casal, entre pais e filhos, entre amigos) nem sempre permite que as pessoas sonhem o mesmo sonho, tenham os mesmos desejos e projetos de vida. Amor não é simbiose, unicidade, por mais intenso e verdadeiro que seja. A trama nos remete a este limite, que como seres humanos, temos em relação ao outro.
Não vou ser desmancha prazeres e contar o final do filme, sugiro que vá assisti-lo. O filme nos enternece, mas não nos promete a salvação, especialmente o desejo onipotente que temos de querer pelo outro, a fantasia de que o amor basta. Queiramos nós ou não, cada um sabe o que basta para si, e para que sua vida tenha sentido, cada um precisa desejar por si mesmo. Quanto a isso, nada podemos fazer. FIM, as luzes se acendem, e só nos resta lidarmos com a realidade.
* Vânia Maria O. Pereira – Psicóloga pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CES/JF, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/Rio, atua em Psicologia Clínica e Organizacional, Professora no Curso de Psicologia do UNEC
Mais informações sobre o autor(a): http://lattes.cnpq.br/2342983547615432