Walber Gonçalves de Souza
Somos seres sociais, vivemos em comunidade e dependemos demasiadamente uns dos outros. Ser assim não é uma escolha, faz parte da nossa natureza e colabora decisivamente para a formação das sociedades e consequentemente da cultura de cada uma delas.
Sendo assim, precisamos cuidar uns dos outros, pois além da contínua perpetuação da espécie humana, o cuidado permitirá que vivamos plenamente nossas virtudes humanas que se manifesta através do amor, da caridade, da compaixão e do zelo.
Mas algo estranho parece estar amedrontando nossa sociedade, além das inúmeras mazelas provenientes da famigerada corrupção, aos poucos estamos nos tornando indiferentes em relação a tudo e a todos.
Estamos vivendo uma espécie de apatia social, acostumando com a barbárie que se manifesta da forma mais cruel e brutal quando o ser humano passa a agir como se fôssemos bichos. Brigamos por qualquer coisa, falta-nos paciência a todo o instante; a fome, a miséria, a prostituição, a dependência química, o menor abandonado, o maltrato aos animais e tantas outras coisas. A lista seria infinita, são situações vistas e aceitas como normais como se fossem consequência da própria evolução da espécie e da sociedade.
Um dia desses perguntei em sala de aula se éramos responsáveis uns pelos outros e obtive a resposta de alguns alunos dizendo enfaticamente que não. Acabei aproveitando a situação e discutimos um pouco sobre nossa responsabilidade social. Mas foi estranho ouvir a manifestação da indiferença.
Como canta uma famosa dupla sertaneja “é a sua indiferença que me mata”. Literalmente podemos afirmar que a indiferença mata e este sentimento vem nos corroendo aos poucos, sem que percebamos estamos aprendendo a ficar alheios a tudo como se não estivéssemos todos no mesmo barco que chamamos sociedade.
É preciso combater a indiferença, não podemos acostumar a conviver com ela. Precisamos urgentemente criar uma corrente do bem, praticar a solidariedade, condoer com o sofrimento alheio, buscar a justiça, acreditar que podemos melhorar a nossa sociedade. Mas sem o cuidado nada disto acontece.
É preciso combater a indiferença, pois ela cria um sentimento de cegueira coletiva, promove o egoísmo exacerbado. A maldita indiferença fomenta uma sociedade em que cada um pensando somente em si passa a não acreditar em seu próprio papel e importância frente ao outro. Essa ciranda de cada um por si está destruindo tudo.
Somos convocados a todos os instantes a olhar para o lado e colaborar para a construção de um mundo melhor, para o desenvolvimento de uma sociedade melhor. Somos corresponsáveis pelas mazelas, da mesma forma que se quisermos podemos ser corresponsáveis pelas mais honradas atitudes que promoveram o tão desejado bem-estar social. Pense nisto, se a indiferença mata, o olhar atento somado ao cuidado promove a vida!
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.
Um comentário
Antonio Carlos Cabral Aguiar
Prezado Professor Walber,
meu cordial bom dia.
Acabo de ler seu artigo ” Combater a indiferença ” na folha ” Opinião ‘ do jornal Estado de MInas”. Concordo plenamente com seu diagnóstico sobre o estado de alheamento e indiferença vigente na sociedade contemporânea, com sintomas evidentes de alienação nos comportamentos ” desumanos” em todo o Planeta. Sobra egoísmo e falta afeto no mundo. Falta a consciência de que estamos no mesmo barco. O planeta tornou-se pequeno face aos avanços das comunicações e dos transportes. Estamos cada vez mais próximos fisicamente, porém mais distantes do ponto de vista sentimental. Imperam o isolamento e a solidão. O que acontece no convés desse “barco” repercute no porão e vice-versa. O que acontece na proa repercute na popa e vice-versa. Estamos conectados metafisicamente. O que pensamos, falamos ou realizamos, positivamente ou negativamente, promove reflexos afins no demais. É uma visão holística do mundo. Se nos omitimos frente ao mal, à injustiça, aos desvios de conduta, somos cumplices. O bem é infinitamente maior que o mal, só que o bem é muitas vezes tímido e se acomoda. Concordo que é necessário organizar o bem, unindo-o como se faz com os elos de uma corrente. Sou engenheiro, tenho 70 anos, e sou voluntário no Movimento ” Conspiração Mineira pela Educação”. Penso que temos ” figurinhas para trocar”. Gostaria de conhecer mais seu pensamento. Meu e-mail é [email protected]. Moro em Belo Horizonte.