Poesia
A Poesia nasce do espanto – disse o poeta Ferreira Gulart. Do espanto diante de um fato – alegre ou triste – a poesia acena com desejo de ser cumprida. O poeta, então, tira de sua fonte interior palavras e ideias que, ao toque de Deus, tornam-se Poesia – bela e indescritível. Como o amor, a Poesia é indefinível. Tudo o que se disser sobre eles, qualifica-os, mas não os define de forma completa, fica sempre faltando um conceito, uma palavra.
O escritor e poeta Elias José foi muito feliz quando escreveu “Tem tudo a ver”, seu livro de poemas: “A Poesia tem tudo a ver com tua dor e alegrias, com as cores, as formas, os cheiros, os sabores e a música do mundo. A Poesia tem tudo a ver com o sorriso da criança, o diálogo dos namorados, as lágrimas diante da morte, os olhos pedindo pão. A poesia tem tudo a ver com a plumagem, o voo e o canto. A veloz acrobacia dos peixes, com as cores todas do arco-íris, o ritmo dos rios e cachoeiras, o brilho da lua, do sol e das estrelas, a explosão em verde, em flores frutos. A Poesia – é só abrir os olhos – tem tudo a ver com tudo!
O poeta tem o condão de transformar em beleza os fatos mais frios e tristes e insólitos, como também os belos e festivos. Vejam o poema feito por um pai-poeta, o escritor Alonso Rocha da Academia Paraense de Letras que, de forma pungente, conversa com Deus.
Prece por meu filho morto
Ele era um pássaro, Senhor,
cujas asas feriste antes do voo.
Ele era fonte
e sufocaste o canto em sua garganta
e pouco além da lágrima e do riso
– como apelo ou mensagem-
lhe deixaste.
Ele era frágil, Senhor,
e lhe enevoaste o entendimento
e com agudos espinhos o pregaste
tantos anos em seu leito.
Até seus olhos, Senhor,
– inquietos peixinhos coloridos –
aprisionaste no reduzido aquário de seu quarto.
Mas eu te louvo, Senhor,
por tua bondade
quando lhe ensinaste a gritar a palavra “mãe”
– única de sua boca –
como sinal de angústia e como hino de amor.
Hoje, dá-me a beber, Senhor,
o vinho de tua paz
na mesma taça de fel e sofrimento
com que o premiaste,
para que eu possa de joelhos
celebrar contigo
o retorno de um Anjo ao teu reinado!
Que esses poemas possam tocar a alma dos leitores neste domingo em que a primavera vem chegando para oferecer a Poesia do verde e das flores.
Marilene Godinho