1982: A grande final
Depois de ouvir algumas baboseiras de pessoas certamente com pouco, ou nenhum conhecimento histórico sobre nosso futebol, resolvi contar uma “historinha”; não uma que me contaram, mas uma que vivi e fui testemunha ocular. Como todos sabem, tive o privilégio de ser criado passando boa parte de minha infância na casa de dois dos maiores craques da história do futebol regional: Élvio e César do Canuta. Uma casa onde se respirava futebol 24 horas por dia. Cresci ouvindo e participando de muitas conversas sobre os times e campeonatos da época. Curiosamente, eu morava no bairro Esplanada, e passava boa parte do dia na Santa Zita. O ano era 1982. Eu então com oito anos já estava na escolinha do Caratinga. Muito por causa de César, meu maior ídolo no futebol depois de Zico. Porém, morando no bairro Esplanada.
O Campeonato daquele ano teve América x Caratinga numa semifinal e Esplanada x Rodoviário em outro confronto. Passaram para a decisão Esplanada x Caratinga. Na época, o Rubro-Negro já era dono de oito títulos de campeão da cidade (como era chamado o certame). Já o Esplanada, ainda não tinha sentido o gostinho de levantar o caneco nem uma vez. Passou perto em 77, quando perdeu para a ASBJ. Comparando com os dias de hoje, o Verdão seria o Limoeiro na decisão. O Brasil ainda vivia a ditadura. Partidos e políticos tinham uma influência enorme no futebol. O todo poderoso Esporte Clube Caratinga, além de contar com um timaço, base campeã Regional sobre o Democrata GV vencendo fora de casa por 2 a 1, ainda contava com a “simpatia” nos bastidores e a torcida de muitos políticos influentes. Salvo engano, o presidente era Wantuil Teixeira de Paula (Petisco & Mara). Ingredientes mais que suficiente para muitos com “complexo de vira-lata” como diria Nelson Rodrigues, achar que o título estava ganho. Porém, se esqueceram de combinar com o Esplanada. Que também tinha um timaço. O presidente de honra era Miguel Grossi, homem forte do clube. Mas, também era o time da união de todo um bairro que contava com pessoas como: Mariposa, Dona Mundica, Pepê, Mineiro o técnico Palavrão, colaboradores e todo o bairro. Lembro-me como se fosse hoje. Estádio da Grota lotado, não cabia uma única alma mais para o primeiro jogo. Menino aos oito anos de idade, me posicionei atrás do gol que dá fundos hoje para uma quadra. Antigamente uma cerca de bambu. Dali vi o Esplanada dar um show. Ainda me lembro da escalação sem recorrer a livros. Se é que existe esse registro em algum. No Gol tinha Amarildo, o mais jovem. Apenas 18 anos, vindo de Ubaporanga. Lateral direito era Betão da enorme família do Baiano, Getúlio e Quincas formavam a dupla de zagueiros (aliás, Getúlio marcou dois golaços de falta nesse jogo). O lateral esquerdo era Mangelinha, um verdadeiro “carrapato” na marcação. O volante era João Bosco, que chegou do Anápolis. O meia-direita camisa 08 era o craque Carlinhos Marcelino. A bola colava em seu pé independente da irregularidade do campo. O camisa 10 era Perrola também da família Baiano, outro craque que depois da final foi jogar profissionalmente em Portugal, onde mora até hoje. O centroavante era o artilheiro de saudosa memória Sula, irmão de Perrola e Betão. Aberto pelas pontas tinha Miltinho, outra craque, e Robson Cirilo rápido e habilidoso. Do lado do Caratinga também me lembro de quase todos daquele jogos. Artur, o melhor goleiro que vi jogar; Guilhermino, o lateral que chutava forte como Nelinho. Anísio, o zagueiro que nunca foi expulso e raramente fazia faltas; Maguila, o zagueirão viril que não aliviava; Fifi, o zagueirão que fez história no futebol do nordeste. Jorginho ótimo lateral, o meio campo tinha Heleno, um dos grandes da posição que passou por aqui; Marcinho, apelidado pelo locutor Jota Baranda de “Diabo Louro”, um fora de série. César o maior jogador que vi atuar em nossa região. Aesso outro artilheiro da época. O Caratinga ainda contava com um elenco que tinha feras como: Rerré, Nélio, Vagalume, Carlinhos Carraro, Quinha e tantas outras feras que não me lembro. Afinal, eu tinha apenas 08 anos né gente!
Depois de sapecar 4 a 1 na Grota, muitos ainda achavam que o Caratinga iria virar no estádio Dr. Maninho. No jogo da volta lá estava eu novamente. O resultado de 1 a 1 deu ao Esplanada seu primeiro título. E acabou com aquela história de “final comprada” se realmente tinha, esqueceram de combinar com o Verdão.
Estou contando isso, para dizer que esse tipo de comentário sempre existiu. Porém, o Esplanada mostrou que bastidores pode até pressionar. Mas quem decide é quem joga.
Como estão hoje alguns personagens da decisão de 1982: