1985: Deu zebra paranaense
Depois de três títulos flamenguistas, um gremista e a conquista do tricolor carioca em 1984, nossa viagem pela história do Brasileirão chega ao ano de 1985. Em minha humilde opinião, o campeonato mais surpreendente em todos os aspectos que já tive a oportunidade de assistir. Para muitos, um dos piores e de nível técnico mais fraco da história. Porém, eu, uma criança de apenas 11 anos, completamente apaixonado por futebol, vi tudo com muita curiosidade e emoção. Até porque era a primeira vez que assisti um campeonato decidido por pênalti. Em 1977 quando o São Paulo conquistou o título em cima do Atlético-MG eu tinha apenas três anos.
Pela primeira vez um clube paranaense foi o campeão. Foi o ano em que, na prática, a Taça de Ouro e a Taça de Prata foram fundidas num único campeonato. Os 20 clubes melhores colocados no Ranking da CBF (que então era o chamado Ranking de Pontos) foram reunidos nos grupos A e B. O campeão e o vice da Taça de Prata do ano anterior (Remo e Uberlândia), mais 22 clubes de 22 estados brasileiros (classificados via campeonatos estaduais) disputaram os grupos C e D. Passaram para as fases seguintes os oito melhores classificados em cada um dos “subcampeonatos”. Sem dúvida o Coritiba não estava entre os favoritos ao título. Sob comando do então bicampeão Ênio Andrade, O Coxa havia sido vice-campeão paranaense em dezembro de 1984, perdendo para o Pinheiros (que quatro anos mais tarde se uniria ao Colorado para formar o Paraná Clube) e ficou apenas na oitava colocação do grupo A no primeiro turno do Brasileirão de 1985, sendo que o grupo contava com dez equipes. Por conta do estranho regulamento do Campeonato Brasileiro de 1985, a segunda fase contou com alguns clubes de pouca tradição no cenário nacional, como Mixto-MT e CSA-AL. Vale lembrar que 44 equipes disputaram o campeonato.
Embalado pela boa campanha no turno anterior, o Coritiba chegou às semifinais após terminar a segunda fase na primeira colocação do grupo G, formado por Sport, Joinville e Corinthians.
Não tinha jeito. Para chegar à final o Coritiba ainda teria que eliminar o grande favorito Atlético-MG, de João Leite, Nelinho, Paulo Isidoro, Reinaldo e companhia. Um Couto Pereira ensandecido foi o palco para uma surpreendente vitória coxa-branca por 1 a 0 no jogo de ida, com gol do zagueiro Heraldo, aos 13 minutos do segundo tempo. Na volta, no Mineirão, uma maravilhosa atuação do goleiro Rafael fez com que a partida terminasse em 0 a 0. Coritiba classificado.
O classificado na outra semifinal foi o Bangu, que venceu os dois confrontos contra o Brasil de Pelotas e chegava embalado à final.
DECISÃO
Eu me lembro como se fosse hoje. O Maracanã completamente lotado. Afinal, com os grandes cariocas fora da final, todos se uniram em torno do time do bicheiro Castor de Andrade. Até acho que o Bangu era favorito por toda a atmosfera. Mas, o Coritiba tinha no banco o saudoso Ênio Andrade comandando o time. Rafael, Heraldo, Gomes, André e Dida; Marildo, Almir e Tobi; Índio, Lela e Edson. Esses foram os onze escolhidos por ele para a consagração. O Maracanã lotado não foi suficiente para evitar que Índio abrisse o placar para os paranaenses ainda aos 25 minutos do primeiro tempo, em uma belíssima cobrança de falta. Dez minutos depois, no entanto, Lulinha igualou o placar. A tensão se arrastou até o fim do tempo regulamentar.
Nos pênaltis, nenhuma cobrança foi desperdiçada pelas duas equipes durante a primeira série de cinco. Porém, na primeira cobrança alternada, Ado, do Bangu, chutou para fora. Na sequência, Gomes converteu para o Coritiba, parando a capital paranaense. Nas ruas de Curitiba, o que se via eram bandeiras, fogos de artifício e gente, muita gente. Pela primeira vez na história, uma equipe paranaense havia alcançado o lugar mais alto do futebol brasileiro.
Com apenas 41,37% de aproveitamento, esta foi a pior campanha de um campeão até então. Porém, o Coxa-Branca escreveu seu nome entre os campeões brasileiros e é isso que importa.