1977: O ano tricolor
Aquele abraço amigo do esporte, amigo da bola. Nossa viagem pela história do Brasileirão continua. Depois de recordar os três títulos do Internacional (1975/76/79) na coluna de domingo passado, hoje vamos voltar dois anos pra chegar em 1977.
Naquele ano, foi mantida a política militar de interferir na organização da competição. Assim, o certame passou a ser disputado por 62 clubes. Para os militares, era interessante agradar os simpatizantes do regime que estavam ocupando cargos em praticamente todas as federações. O Campeonato começou em 15 de outubro daquele ano, a final aconteceu em 05 de março de 78. Tenho muitos amigos atleticanos que desde essa época passaram a defender o campeonato por pontos corridos. Exatamente para evitar injustiças como em 1977. Comandado pelo conhecido Barbatana, o Atlético tinha um time jovem com grandes valores. Toninho Cerezo, Marcelo (atual técnico do Palmeiras), Paulo Isidoro, e o jovem craque Reinaldo. Do lado tricolor, a experiência de Valdir Peres, Getúlio, Chicão, Zé Sérgio e a classe de Dario Pereira. O comandante era Rubens Minelli, bicampeão com o Internacional. A injustiça da fórmula do campeonato estava exatamente na diferença de campanhas. O Atlético tinha 20 jogos, 17 vitórias, 03 empates e nenhuma derrota. O Galo havia marcado 55 gols, sofrido 16 ficando com saldo de 29. Do outro lado, o São Paulo tinha 20 jogos, 13 vitórias, 03 empates e 04 derrotas, marcado 40 gols, sofrido 15, tendo saldo de 25. O alvinegro terminou com 10 pontos na frente do tricolor paulista.
A decisão
Por ter feito melhor campanha o Galo tinha o direito de decidir em casa em jogo único. Não precisa dizer que o favoritismo era todo atleticano. Os dois artilheiros da competição não jogaram a final. Reinaldo, com 28 gols; e Serginho Chulapa com 18. Numa entrevista exclusiva ao meu programa Abrindo o Jogo, o eterno ídolo alvinegro contou como foi ver aquela partida de fora. “Rei” como é chamado ainda hoje pela torcida, tem a melhor média de gols do Brasileirão. 1,55; Foram 28 em 18 jogos. Acostumados a comemorar com o punho esquerdo erguido, um sinal de protesto contra a ditadura, um gesto claramente socialista. Visto com uma subversão pelos militares. Por isso, o craque acredita que teve interferência do regime pra que ele não estivesse em campo. Perguntei a Reinaldo na entrevista para o programa: Houve interferência do governo na decisão?
Reinaldo: “Em 77, a ditadura era explícita. Fui expulso um ano antes, na primeira fase do campeonato, mas guardaram o julgamento. Como o [Serginho] Chulapa tinha sido expulso na semifinal, resolveram me julgar. Uma força de interesses superior. Eu era o artilheiro do campeonato, fiz gol em todos os jogos, minha melhor fase. Já tinha trocado de roupa no vestiário quando veio à ordem [para não jogar]. Esse foi o dia mais triste de Belo Horizonte: 5 de março de 1978. A maior frustração de minha carreira”.
Como toda história tem dois lados, a quem conteste a versão de Reinaldo, Alexandre Giesbrecht, autor do livro ‘São Paulo Campeão Brasileiro 1977’, Alexandre diz que Reinaldo, na verdade, foi expulso na terceira fase do Brasileirão, contra o Fast, e não na primeira fase do torneio, como é dito por ele.
– Falou-se que a suspensão seria devido a uma expulsão seis meses antes ou na primeira rodada do campeonato. A expulsão ocorreu em 01 de fevereiro de 1978, na partida contra o Fast Clube válida pela terceira fase. Foi á única expulsão de Reinaldo naquele campeonato, mas foi por agressão. Talvez toda a confusão sobre o jogo em que houve a expulsão tenha origem no fato de o Atlético ter enfrentado o Fast duas vezes, na primeira e terceira fases. Na primeira fase ele não só não recebeu o cartão vermelho como anotou cinco gols na goleada por 6 a 2. O julgamento deu-se no fim de fevereiro, no mesmo dia do julgamento de Serginho, do São Paulo, expulso na partida contra o Botafogo de Ribeirão Preto, em 12 de fevereiro – escreveu Giesbrecht.
Voltando a decisão, Mineirão lotado. Público de 102.974 pagantes. Renda de mais de 06 milhões de cruzeiros. Árbitro da partida era Arnaldo César Coelho. Como era de se esperar, um jogo muito disputado. Porém, o São Paulo criou mais oportunidade no primeiro tempo e até merecia ter saído em vantagem. No segundo tempo o Galo voltou melhor e também poderia ter feito seu gol. Entretanto, o placar de zero a zero persistiu até o final. A prorrogação também não teve bola na rede. Assim, a decisão do título foi para as cobranças de pênalti. O goleiro Valdir Peres começou a provocar os batedores dos atleticanos dizendo que iriam errar, decepcionar a torcida, que iria defender… o resultado foi que Toninho Cerezo cobrou por cima do gol. Joãozinho Paulista também manda por cima da meta. Bezerra cobra bem e coloca o tricolor em vantagem. As esperanças alvinegras estavam nos pés de Márcio. Porém, o zagueiro cobrou muito mal e jogou por cima do gol de Valdir Peres. Final 3 x 2 para o São Paulo campeão brasileiro pela primeira vez. Atlético vice-campeão invicto.
Atlético-MG- João Leite, Alves, Márcio, Vantuir, Valdemir – Cerezo, Ângelo, Marcelo (Paulo Isidoro) – Serginho, Caio (Joãozinho Paulista) e Ziza. Técnico: Barbatana.
São Paulo – Valdir Pres – Getúlio, Tecão, Bezerra, Antenor – Chicão, Teodoro (Peres), Dario Pereyra – Zé Sérgio, Mirandinha e Viana (Neca). Técnico: Rubens Minelli.
Aquele abraço. No próximo domingo entraremos nos anos 80. Década dominado pelo Flamengo.
Rogério Silva
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