Copa da Espanha: encanto e lágrimas
Sou um privilegiado por ter vivido os anos 80. Embora fosse apenas uma criança, na minha humilde opinião, foi a década de ouro em diversos segmentos da sociedade: Música, arte, dramaturgia, política, é claro no esporte, principalmente o futebol.
Em âmbito regional, Caratinga, América e Esplanada dominavam as competições, protagonizando duelos fantásticos entre eles, e contra times fortíssimos como: Bairro das Graças, Santa Rita, Botafogo de Inhapim, Rodoviário, Anápolis e tantos outros. Em nível nacional, Flamengo, Atlético e Grêmio dominavam o cenário. Porém, o grande momento foi a Copa de 1982, disputada pela primeira vez na Espanha.
O timaço de Telê
Substituto de Cláudio Coutinho que comando o Brasil na Copa da Argentina em 1978, o mineiro Telê Santana foi ídolo no Fluminense quando jogador, campeão como treinador pelo Atlético em 1971, era visto como estrategista e disciplinador. Mestre Telê reuniu uma geração que contava com um craque em cada posição. O resultado em campo, o time brilhou. Com um elenco repleto de grandes jogadores, a equipe montada por Telê jogava bonito desde antes da Copa do Mundo, sempre de forma ofensiva e envolvente. Os talentos individuais se mostravam em grande fase e a sintonia entre eles era notável. Passes de primeira, de calcanhar, lindos gols em jogadas bem tramadas e classe de sobra até nas roubadas de bola — assim jogava a Seleção de 82. O esquema tático 4-4-2 considerado moderno para e época, foi criticado por outros. Aliás, um quadro do programa do humorista Jô Soares, usava o bordão ” põe ponta Telê” porém, na Copa, a seleção chegou apontada como a grande favorita, e fez uma campanha brilhante até encontrar a Itália e Paolo Rossi pela frente: Estreia contra o URSS (União Soviética) vitória com golaço de Éder 2 a 1. Depois atropelou Escócia 4 a 1, nova goleada 4 a 0 diante da Nova Zelândia. Nas oitavas de final, o clássico contra os atuais campeões os argentinos da sensação Diego Maradona. Vitória tranquila por 3 a 1.
Brasil e Itália chegavam em situações opostas para o jogo. O time de Telê cheio de confiança e visto como grande favorito pela imprensa mundial. Os italianos, chegaram totalmente desacreditados depois de uma campanha sofrível na primeira fase. A imprensa italiana, só torcia para que a derrota que era dada como certa, não fosse humilhante. A certeza da eliminação era tão certa que as passagens de volta já estavam reservadas.
Quando a bola rolou, o pequenino bambino de ouro Paolo Rossi, que foi convocado de última hora por ter se envolvido num escândalo de apostas em seu país, estava
num dia genial. Aproveitou os espaços dados por um time extremamente ofensivo e marcou três gols. O Brasil jogou bem, mas a Itália jogou tudo que não havia jogado até ali. A derrota que ficou conhecida como o “desastre de Sarriá” entrou para a história como um time e um estilo que encantou o mundo, mas não conquistou a copa. Uma geração onde alguns ficaram marcados por toda a vida.
O dia que eu chorei
1982, eu era mais um dos milhões de meninos que viviam pelos campinhos e ruas do bairro brincando de ser: Zico, Sócrates, Falcão e Cia. Naquele dia 5 de julho, sai de casa na Rua da Piedade segurando a mão da minha mãe, com uma bandeira feita por ela mesmo, com dois pedaços de pano verde e amarelo, para assistir ao jogo na casa da minha tia Zita, na praça da estação. TV na minha casa só na Copa seguinte, em 1986. Eu, minha mãe e minha tia assistimos ao jogo na sala. Ao final, me lembro de ter chorado todo o caminho de volta enrolado na bandeira. Porém, aquele time, o melhor que já vi em toda minha vida, me fez ser ainda mais apaixonado pelo jogo e transformou aqueles jogadores em ídolos eternos. Já adulto, e profissional, tive a oportunidade de conversar e olhar entrevistar alguns craques daquele time. 40 anos depois. Obrigado seleção de 82 por me fazer gostar de futebol.
Rogério Silva
@rogeriosilva89fm