Arbitragem no olho do furacão
Quando Charles Miller chegou ao Brasil em 1894, trazendo com sigo duas bolas e algumas regras do futebol inventado pelos ingleses, muito provavelmente não fazia a menor ideia que naquele momento, desembarcava também o esporte que seria anos depois considerado paixão nacional. Inicialmente, o futebol chegou como modalidade nobre, praticada em clubes frequentados por ricos na capital paulista. A exemplo da terra da rainha, por aqui também era jogado de terno, sapato e gravata. “Não era coisa para pobre, tampouco preto”. Mas isso é assunto para outra coluna. Entretanto, com sua popularização, se tornou o esporte mais praticado e amado do Brasil. Nesses 137 de existência no Brasil, mudaram-se regras, tamanho do campo, material de jogo, tamanho e peso da bola, uniformes ganharam números, foi inserido cartões e permitidos substituições a partir da Copa de 1970. Recentemente, tivemos a introdução do Árbitro de Vídeo (VAR), tecnologia que permite ao árbitro rever um lance e reconsiderar sua decisão. Porém, se tem algo que não mudou ao longo de todos esses anos, são polêmicas envolvendo arbitragem
Esta semana, árbitros que prestam serviço para a AG Eventos, decidiram por uma paralisação incialmente por dois finais de semana, como forma de protestar contra inúmeras agressões verbais, algumas físicas que tem sofrido em alguns campos da região. Infelizmente não são fatos tão isolados como alguns possam pensar. Lamentavelmente, dirigentes, torcedores, e principalmente jogadores tem passado do limite em relação ao direito de reclamar e se indignar diante de alguns erros do homem do apito. Não precisa ter jogador futebol, disputado competição valendo três pontos pra saber que dentro de campo os nervos ficam a flor da pele, a temperatura sobe e todo mundo quer ganhar. Até mesmo em jogo de solteiro contra casado no final do ano, sempre tem alguém que fica mais exaltado quando se sente prejudicado. Entretanto, a partir do momento que se extrapola para agressões, mesmo que tenha razão na reclamação, na minha humilde opinião, AGREDIU, PERDEU A RAZÃO. Tal atitude acontece por diversas razões: Temos no Brasil a mania de dizer que “futebol é assim mesmo”, como se isso justificasse xingamentos, ameaças e agressões. É preciso ressaltar que o futebol não é um mundo à parte da sociedade. As mesmas leis que são aplicadas a qualquer um fora do estádio, valem também para dentro. Outra questão que contribui para a perpetuação dessa prática, é a certeza da impunidade. O “valentão” tem a certeza que nada demais acontecerá a ele. O máximo que pode acontecer, é ser excluído da competição. Convenhamos é pouco. Afinal, não pode jogar a Distrital, mas poderá ás competições nas cidades vizinhas, inclusive o Campeonato Regional da LCD.
Na verdade, onde eu disse “valentões” deveria ter escrito covardões. Afinal, cercado de seus colegas de time e torcedores? Será que num mano a mano seriam tão “corajosos”? Será que passa pela cabeça dele que do outro lado também tem um cidadão que tem esposa, filhos, mãe, pai, irmãos, um trabalho? Que saiu de casa para complementar a renda deixando o momento de lazer com a família em troca de cem reais?
Sugestões aplicáveis
É verdade que nossa arbitragem carece de reciclagem, humildade para reconhecer que se aprimorar é preciso. Sendo assim, cursos sérios, de qualidade e acessíveis com urgência são necessários.
É preciso dar segurança ao trio para trabalhar. Se faz necessário uma relação institucional mais próxima junto a nossa PM. Obviamente, é compreensível que o efetivo da polícia não é suficiente para ficar por conta exclusivamente de futebol. Tampouco é justo com outras ocorrências e demandas. Mas, deixo a seguinte pergunta: Caso ocorra uma briga generalizada, ou pior, uma agressão armada, a polícia não será acionada do mesmo jeito?
Por outro lado, a coordenação da competição, pode consultar o jurídico municipal, em busca de um mecanismo legal que possa prestar todo apoio aos árbitros agredidos, para que possam levar até ás últimas consequências e punir exemplarmente os agressores. Inclusive na esfera civil. Tenho absoluta certeza que quando começar a doer no bolso, muito valentão pensará duas vezes antes agredir.
No campo esportivo, todos desportistas e promotores de futebol na região, deveriam se unir para banir por um bom tempo dos campos, dirigentes, e principalmente atletas que agredirem. Quando o sujeito começar a ter sua inscrição negada na maioria dos campeonatos por conta de seu comportamento independentemente de onde foi, certamente irá fazer uma reflexão, se não fizer, menos um brigão em campo.
Pra finalizar, tenho muitas dúvidas se todos tem mesmo a intenção de melhorar a arbitragem, ou se é só aquela velha história, reclamo quando o erro é contra mim, e fico caladinho quando é a meu favor.
Rogério Silva
@rogeriosilva89fm