Coco e seu amor pelo futebol
Já faz algum tempo, que o futebol regional não desperta mais o mesmo encanto de épocas passadas. Os mais antigos sentem saudades de um tempo que imaginam não volta mais. Os mais jovens apenas ouvem falar de algo que não tiveram o privilégio de ver. Estou no time dos nostálgicos. Vivi intensamente os anos 80 e 90 do nosso futebol. Assisti a grandes jogos e muitos craques em campo. Porém, o futebol de Caratinga e região, já vivia sua época de maior pujança bem antes dessas duas décadas. Nosso personagem de hoje, viveu intensamente praticamente toda essa história. Mais que isso, participou ativamente atuando de forma marcante em diversos setores, dentro e fora de campo.
Waldevino Alexandre da Silva, o “Coco”, nasceu em 07 de março de 1930 em Ipanema (MG). Em 1948 já em Caratinga, iniciou sua carreira como jogador no Esporte Clube Brasil, time criado pelo Raimundo Puri e o Antônio das Meninas. Era considerado por todos bom jogador e companheiro leal. Nesta época, o time treinava num campo onde hoje está o Santuário de Adoração Perpétua. Pouco mais tarde, Coco foi jogar num time chamado Olaria, criado pelo Tricô Carroceiro. Pouco tempo no time, passou a ser jogador e auxiliar do treinador. Os jogos e treinos aconteciam num campo onde atualmente está construída o terminal Rodoviário Carlos Alberto de Matos. Porém, em 1950, Zé Paggy convidou Coco para ser massagista no América, com direito a jogar no Aspirante do Leão (vale ressaltar que o América Futebol Clube como conhecemos hoje, ganhou personalidade jurídica apenas em 1959, antes era América Esporte Clube).
Inquieto como sempre, Coco decidiu depois de algum tempo trocar o América pelo União Rodoviário. Vestindo a camisa azul e branca do time do bairro Santa Zita, além de jogador, foi auxiliar técnico e cobrador.
Em 1954, passou a colaborar com o João Alves no comando de um time do bairro Santa Cruz chamado Itaú. Pouco tempo depois, uma reunião mudou o nome do time para Esporte Clube Santa Cruz. Em 1956, Coco passou a integrar o Departamento Nacional de Endemias Rurais (já foi, SUCAM e atualmente FUNASA). Na época conhecida como “malária”. Com o surgimento de alguns bons jogadores, Coco fundou um time chamado Nacional. Entretanto, jamais deixou de colaborar com demais times da cidade sempre que solicitado.
Em 1960, foi convidado para ser auxiliar técnico e massagista do Esporte Clube Caratinga onde ficou por cerca de dois anos. Segundo relato no livro “Memória Esportiva” do saudoso Nelson Souza e do professor Monir Saygli, o motivo de sua saída foi um desentendimento com o craque Fidélis do Rubro Negro. No ano de 1962, foi convidado para fazer parte do primeiro quadro de árbitros da recém-criada Liga Caratinguense de Desportos.
Em 1968, Coco foi treinador de alguns times da região: São Domingos, Botafogo de Inhapim, Bairro das Graças e o Esporte Clube Santa Cruz.
Nascimento do Anápolis
Em 1973, Waldevino Alexandre da Silva decidiu que era hora de fundar um novo time na cidade. Assim nasceu o Anápolis Futebol Clube. O time ganhou personalidade jurídica no mesmo ano e passou a contar com campo próprio o Estádio Omar Coutinho, atualmente ginásio que Cocão (justa homenagem). Na década de 70 o time teve bons resultados como vitória por 2 a 1 sobre o todo poderoso Caratinga com gols de Carlinhos Preto e Getúlio Dias. Uma semana depois desse feito, o Anápolis recebeu o América em seu campo. Coco ficou feliz pelo fato de seus atletas não aceitaram propostas para “facilitar” o jogo para o alvirrubro que precisava vencer de qualquer jeito para ir a decisão do campeonato da LCD. O América exigiu então um árbitro da Federação Mineira. Ângelo Ferrari veio apitar o jogo que foi super emocionante e acabou em 0 a 0, resultado que tirou o Leão da decisão. Em 1984, o time do Coco conquistou o Torneio Povão goleando o Esplanada por 4 a 1. Garrinchinha um dos craques daquele time, contou sorrindo, da briga que aconteceu entre ele e o Batatinha, outro craque da história do nosso futebol. Ambos se equiparam na estatura, e no tamanho do grande futebol que jogavam. Em 1985, o Anápolis venceu a Taça Geraldo Cevidanes ao bater o Bairro das Graças por 1 a 0 no estádio Dr. Maninho. Em 1990, o Anápolis fazia grande campanha no último campeonato oficial promovido pela LCD. Porém, uma tentativa de virada de mesa que prejudicaria o time do Coco, paralisou a competição. Aliás, o certame terminou sem um desfecho. Um acidente na volta de Belo Horizonte onde tinha ido resolver sobre recursos na FMF, perto da cidade de Rio Casca, vitimou o presidente da Liga Zé Neto e deixou ferido o vice Darquinha. O campeonato não teve uma decisão, exatamente no ano que o time do Coco era um dos favoritos ao título.
Na década de 90, com o número 17.673, pelo partido PDC, Coco tentou se eleger vereador com objetivo de trabalhar pelo esporte. Porém, não conseguiu votos suficientes para ser um representante do esporte no legislativo.
Em maio de 2007, aos 77 anos, Waldevino Alexandre da Silva nos deixou. Porém, deixou também um legado rico de realizações e muito história pra contar. Coco foi um homem que teve atuação marcante em mais de meio século no futebol de Caratinga e região. Poucos fizeram tanto quanto ele pelo esporte. Sem dúvida, seus familiares têm muitos motivos para se orgulharem de sua trajetória. Nos desportistas, muito para aprender com seu legado.
Rogério Silva
Abrindoojogocaratinga@gmail.com