132 anos depois…
Neste dia 13 de maio, se completam 132 anos da assinatura da lei áurea pela princesa Isabel. Aprendemos na escola que foi essa lei que acabou com a escravidão até então legalizada no Brasil. Fomos ensinados pelos livros didáticos que se tratava de uma “bondade” da coroa portuguesa. Porém, basta mergulhar um pouquinho a mais na história, principalmente fora dos chamados livros oficiais, pra sabermos que não foi bem uma “bondade”. Mas, esse é assunto para outro espaço. Aqui, vamos abordar hoje a inserção do negro no esporte mais popular do Brasil.
Muita gente não sabe, mas o negro era proibido de jogar futebol quando aqui chegou à primeira bola em 1894 trazida por Charles Miller, considerado o “pai do futebol brasileiro”. Considerado um esporte da aristocracia inglesa, jogar futebol era uma diversão apenas para brancos ricos, sócios de clubes da capital paulista, posteriormente no Rio de Janeiro. Funcionava como um símbolo de status, como um diferenciador de classes e raças, um referencial para os queriam se auto afirmar brancos, ou “embranquecidos”, e serem aceitos na alta sociedade. Alguns intelectuais acreditavam que a mestiçagem terminaria por branquear o povo brasileiro. Considerado o negro menos evoluído biologicamente, o cruzamento inter-racial perpetuaria apenas os genes do branco. Assim, alguns para serem aceitos, mesmo tendo muito talento, eram obrigados a disfarçar sua raça. Arthur Friedenreich, o primeiro grande craque que o futebol brasileiro por exemplo, era um mulato claro, de olhos verdes, filho de um alemão com uma negra brasileira. O craque alisava os cabelos crespos para disfarçar. Não por acaso, muitos negros assimilaram os preconceitos, os valores sociais e morais dos brancos. Nesse contexto, o racismo brasileiro e peculiar, pois a própria vítima assume o papel de algoz. É triste mas existem muitos negros preconceituosos em relação a própria raça.
Foi no Rio de Janeiro que o negro começou a mostrar seu valor com a bola nos pés. Mas, não antes de sofrer com racismo e preconceito. Em 1907, o registro de “pessoas de cor” foi proibido no futebol carioca. Tudo isso porque em 1905, Francisco Carregal jogou pelo Bangu. O Fluminense por exemplo, passou a admitir negros, desde que disfarçassem a cor usando pó de arroz na pele. Porém, não durou muito e foram descobertos. O Vasco então resolveu comprar a briga. Afinal, o futebol estava começando a se profissionalizar onde o mais importante era a questão técnica e não a cor. Em 1922 e 23 o Vasco se tornou imbatível com um time onde predominava negros e mestiços. No ano seguinte, os dirigentes dos principais clubes cariocas resolveram criar uma nova liga de futebol, sem a presença do Vasco.
O racismo no futebol não ficava restrito aos dirigentes de clube. O governo federal estava atento ao apelo popular do esporte. Em 1920, a Seleção Brasileira ao jogar em Buenos Aires não teve uma recepção das mais amistosas. Os argentinos pareciam nunca terem visto tantos negros em um único time. O jornal Crítica, da capital portenha, publicou uma fotogravura representando todo o time brasileiro com a cara de macacos. Nos anos seguintes, os presidentes Epitácio Pessoa, em 1921, e Arthur Bernardes, em 1925, concederam à Confederação Brasileira de Desportos algumas dezenas de Contos de Réis R$ para participar dos Campeonatos Sul-Americanos dos respectivos anos. Em troca, determinaram que somente fossem convocados atletas rigorosamente brancos, por motivos de “prestígio pátrio”.
132 anos depois da abolição, e muitos craques negros espalhados pela história, incluindo o rei do futebol, o negro se tornou ídolo com a bola nos pés. Mas, fora das quatro linhas o cenário é bem diferente. O próprio Pelé foi cobrado e criticado por muitos movimentos que poderia ter se engajado mais e feito mais pela causa. Porém, manteve seu comportamento muitas vezes indiferente. Numa estudo recente, o Superesporte mostra que apenas três entre 100 dirigentes e treinadores da Série A são negros: o técnico Roger Machado, do Bahia; o diretor do Grêmio, Deco Nascimento; e o assessor de futebol do Palmeiras, Zé Roberto. A investigação levou em conta os cargos de presidente, vice de futebol, diretor, gerente, executivo, coordenador, supervisor e técnico (inclusive os interinos) dos 20 clubes da elite do futebol brasileiro. Uma pergunta para reflexão: Será mera coincidência?
Rogério Silva
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