Meninos do Ninho: Dor sem fim
Início esse texto fazendo duas perguntas aos pais: Quanta vale a vida de seu filho? Teria coragem de permitir alguém colocar fogo na casa com seu filho dentro em troca de 10 milhões?
Passado um ano da tragédia que ceifou a vida, e os sonhos de dez garotos da base do Flamengo no CT Ninho do Urubu, pouco se fez até hoje para apontar culpados e reparar os danos causados nas vidas das famílias. Órgãos de fiscalização, prefeitura, bombeiros, todos devem explicações e provavelmente tem sua parcela de culpa na tragédia. Mas, ninguém é mais culpado que o Flamengo. Afinal, um pai quando permite que um filho saia de casa, normalmente autoriza sob a responsabilidade de um adulto. Neste caso o clube, que ficou responsável pela educação, alimentação, formação do atleta e do cidadão, e obviamente por sua segurança. O Flamengo fechou acordo com três famílias e meia até o momento. Não sou especialista em precificar vidas. Não sei mesmo quanto custa uma vida. Principalmente vida de filho. Portanto, me considero incapaz de julgar se o valor é muito ou pouco, justo ou injusto. Só posso dizer que nem todo dinheiro do mundo vale a vida das minhas filhas por exemplo. Porém, na minha humilde opinião, o Flamengo já deveria ter se empenhado um pouco mais para entrar em acordo com todas as famílias. Primeiro por ser uma questão de humanidade, pra que cada um possa tocar suas vida e viver seu luto, e a saudade dos filhos que será eterna. Segundo porque na minha humilde opinião, o clube tem conduzido de forma equivocada sua comunicação sobre o caso. Até mesmo a imprensa esportiva tem dificuldade em obter informações concretas sobre o andamento das negociações com cada família. As informações chegam basicamente através da TV do clube. O clube tem tratado de forma muito fria e técnica toda a situação. É verdade que tem cumprido o que foi determinado pela justiça em relação aos pagamentos mensais de R$ 10.000 pra cada família. Porém, do Flamengo espera-se mais. Nem tudo é só uma questão financeira. Essa será determinada pela justiça sedo ou tarde. Trata-se de calor humano, carinho, afago.
A tragédia expôs também o que a de pior no ser humano em minha opinião. É impressionante como as pessoas perderam completamente o poder de sentir EMPATIA (capacidade psicológica para sentir o que sentiria outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela) e COMPAIXÃO (sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal do outro, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor). A tragédia do Ninho, escancarou torcedores extremistas que em nome da paixão pelo clube ou ódio por ele, ignoram totalmente o significado dos sentimentos citados acima. Flamenguistas atacando familiares das vítimas por acharem que estão querendo enriquecer ás custas do clube. Óbvio que alguns estão sendo orientados por advogados que dentro do que entendem, irão tentar o maior valor possível. Oque é perfeitamente compreensível. Alguns torcedores chegam ao absurdo de colocar preço na vida do filho dos outros. Por outro lado, torcedores Anti-Flamengo, não tem o menor pudor em usar a dor das famílias como argumento em discussões esportivas. Estes misturam rivalidade esportiva com questões muito mais importante que são vidas. Usar a morte dessas crianças como argumento para atacar o time rival é de uma canalhice monstruosa. Como exemplo, o que fez a torcida do Fluminense no clássico que venceram merecidamente, chamando os jogadores Rubro Negros de “assassinos”.
Outro ponto que foi bastante debatido nos últimos dias, foi a dispensa de alguns atletas sobreviventes do incêndio da base do clube. A explicação que o critério técnico foi o único levado em conta é aceitável. Porém, será que é justo avaliar esses meninos que passaram por uma tragédia vendo amigos morrerem queimados, e eles mesmos correndo risco, com o mesmo rigor de outros que não viveram o terror do incêndio? Será que não mereciam um pouco mais de tempo para se recuperarem psicologicamente?
Rogério Silva
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