Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais.
Pesquisadora CNPQ.
A resposta do secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moom, que acredita na sabedoria e na liderança do presidente eleito Donald Trump, quando foi questionado sobre a possibilidade de Trump cumprir sua promessa de campanha e retirar os Estados Unidos do regime climático me surpreendeu : – “a campanha política agora acabou e o candidato Trump é eleito o presidente dos Estados Unidos.”
O que Ban Ki-moom quis dizer com isto? Será que para ele esses tipos de jogadas na política para se ganhar as eleições podem ser justificadas?
Para mim, seu posicionamento demonstrou que não se importa se Trump estava em campanha e mentiu para o povo americano deixando de lado suas promessas que o levaram à vitória. Como assim, me questiono?
Foi só uma “mentirinha”, dessas que são contadas pelos candidatos durante as campanhas para enganar o povo! Sem problemas…
Sei que são absurdas as promessas de Trump, no entanto estou analisando aqui a resposta de Ban Ki-moon considerando a normalidade de se mentir durante uma campanha eleitoral. Eu entendo que para Ban Ki-moon, a mentira que Trump contou para o operariado frustrado em perder seu emprego com a globalização e para a classe média que vê sua renda estagnada botando a culpa nos imigrantes mexicanos, nos muçulmanos, nos chineses, não tem problema algum, pois estava em uma campanha para se eleger o presidente dos Estados Unidos. Pronto. Trump já foi eleito e agora pode agir como quiser.
Eu fico triste em pensar como a mentira se constrói nas instituições, na política e de uma mentirinha ali outra aqui, vai se constituindo uma democracia que produz uma cultura que não valoriza os princípios democráticos, éticos, a força moral que engrandece a dignidade. Infelizmente é a crueldade e a vaidade dos homens.
A humanidade está doente no plano espiritual, no entanto temos diversas doenças também causadas por danos psicológicos. Não sou psicóloga, mas penso que seria um desafio entender essas doenças e aprendermos a tratá-las.
Olhem para o mundo, são milhares de pessoas que aceitam dinheiro em troca da falta de caráter.
Há uma intolerância e insatisfação em todos os níveis sociais. As pessoas estão se sentindo oprimidas, ultrajadas e enganadas por esta situação política de crise forjada na corrupção e a violência explodiu inclemente. Cidadãos sitiadas e desgoverno é a realidade do nosso Brasil, e aqui no Rio de Janeiro.
Eu estava em sala de aula, assistindo pela janela o dia marcado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para apresentar o pacote de austeridade fiscal que busca salvar o Estado da bancarrota que se encontra mergulhado. O Executivo se vê contrariado com as ameaças, consequência da aprovação das medidas, pelo clima de guerra que tomou conta das ruas do centro do Rio. Milhares de manifestantes cercaram a Alerj, derrubaram as grades e entraram em confronto com os policias militares que protegiam a sede do Legislativo.
Parecia um filme! Bombas de efeito moral, veículos blindados, cavalaria da Polícia Militar foram utilizados para dispersar os manifestantes, que eram os funcionários públicos contra o pacote de austeridade fiscal, do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
E eles não teriam razão?
Os funcionários públicos invadiram a Assembleia Legislativa com o objetivo de tentar impedir a votação de um pacote de ajuste que promoveria descontos de até 30% em seus vencimentos, além de terem trabalhado e não receberem seu 13º salário, de qual fazem jus.
Além dos casos de corrupção entre a elite política, surge a gravíssima crise econômica, tudo isso misturado com a ostentação contrasta com os caos em que se transformou o Estado do Rio de Janeiro, nos dias de hoje.
Vejam bem:
Anthony Garotinho, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, e secretário de Governo da Prefeitura de Campos dos Goytacases, onde Rosinha sua esposa, que também foi governadora do Rio, é prefeita por duas vezes, é preso acusado de compra de votos, no curso da Operação Chequinho.
A jornalista Cláudia Cruz, mulher do deputado cassado Eduardo Cunha, acusada de receber cerca de um milhão negou que soubesse do fato de ser titular de uma conta no banco suíço Julius Baer.
Sérgio Cabral é preso, acusado de ter desviado R$224 milhões de recursos públicos durante os seus mandatos no governo do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2014. A primeira dama, Adriana Ancelmo, advogada da Assembleia Legislativa do Rio teve de se explicar à Polícia Federal sua suposta participação no esquema de corrupção investigado pela Lava-Jato.
Os dois governadores do Rio, foram presos com pouco mais de 24 horas de diferença, respondendo cada um por um caso de corrupção diferente.
Quem são os responsáveis pelo alto número de assassinatos, pelos mortos na fila dos SUS, a má qualidade da educação nas escolas públicas, a falta de saneamento básico?
A corrupção é um crime bárbaro, posso defini-la como crime contra a humanidade.
E quem para a conta? Policiais, bombeiros, professores, profissionais de saúde, funcionários públicos, milhares de desempregados.
Passaria aqui citando nomes e mais nomes de pessoas envolvidas em esquemas de corrupção. Será que tudo começa com “uma pequena mentira”?
Concluo dizendo que os manifestantes invadiram o Plenário da Câmara dos deputados conscientes e cansados de ouvir tantas mentiras, desconfiam das promessas de governo, ao mesmo tempo em que professam certo ceticismo quanto aos benefícios e querem que as decisões não deixem margem para a ambiguidade.
Sou a favor de que o povo se expresse, respeitando os bens públicos e não podemos ignorar a complexidade do mundo moderno, e entendermos que a realidade não exclui a sabedoria do povo em contraste com a visão das elites, gerando a desconfiança nas autoridades.
Vivemos a era das incertezas, estamos anestesiados para a violência, uma banalização, o estamos vivendo entre o céu e o inferno com a maldita corrupção!