Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais
Pesquisadora CNPQ.
Primeiramente desejo a todas as mães um domingo maravilhoso! A mensagem vai para todas, mesmo para aquelas que não conseguirão reunir a família na data exata (como será meu caso). Pois afinal, o que vale a pena é ser mãe, seja com os filhos perto ou não. Aliás, vocês já pararam para pensar o que é “ser mãe”? Que missão complexa, pois envolve tanto amor que às vezes nos deixamos levar por aquele choro e fazemos tudo o que podemos e que não podemos pelos nossos filhos. Quando as crianças são pequenas, principalmente, temos uma tendência a permitir tudo, principalmente quando trabalhamos fora e consequentemente ficamos menos tempo em casa e quando retornamos estamos cheias de culpa pela nossa ausência e nos tornamos permissivas, deixando de estabelecer limites e de ensinar o que é certo e errado. Esquecemo-nos que ensinamos com os exemplos e não com as palavras. E depois, os filhos se tornam adultos, homens e mulheres, dotados de certa ética ou não.
Reflitamos sobre a operação Lava Jato, denominada como a maior investigação sobre corrupção conduzida até hoje no Brasil, e que envolve empresários, políticos de vários partidos e as maiores empreiteiras do país. É interessante que, diante do número expressivo de denunciados, “ninguém” tem culpa alguma, pois os acusados se defendem alegando que “não é meu”, “é do meu amigo”, “que nunca falei com o Ciclano ou Beltrano”, “que isso é uma perseguição política” e tantos outros dizeres. Essas falas nos levam a crer que a operação é uma mentira, é uma farsa, foi criada pelo imaginário para desordenar a ordem.
As delações deram impulso às investigações e mesmo assim, todos os citados se dizem inocentes. É o que nos mostra a mídia on-line, televisão, rádio, impressa etc. É inacreditável que numa operação com tantos suspeitos de corrupção não tenha nenhum culpado.
Isso é arrepiante, assustador, e diante disso fico a pensar em meu papel de mãe: – Qual seria a educação que dei para as minhas filhas? Quantas vezes eu fui condizente com pequenas atitudes que eu pensava que não teriam a força de influenciar em suas personalidades? Quantas vezes larguei o carrinho no meio do supermercado, no meio do estacionamento, estacionei em vagas de gestantes, idosos e deficientes só para ir “ali rapidinho” ou até mesmo “passei a mão em suas cabeças” quando não deveria? Quantas vezes deixei que trouxessem um lápis ou uma borracha de um (a) coleguinha, mesmo que fosse um empréstimo, e não os devolvi delegando de certa forma toda a responsabilidade para as professoras (as)? Quantas vezes não aceitei as críticas dessas professoras e apoiava minhas filhas em atitudes indisciplinadas? Quais desses deslizes ficaram arquivados na memória de minhas filhas a ponto de incliná-las para a falta de ética? Como de fato se educa?
Zigmunt Bauman, filósofo, criador do conceito de “modernidade líquida” forjada pelas relações efêmeras do presente, nos ensina: “uma coisa certa é que, num cenário líquido, rápido e de mudanças imprevisíveis – como o atual –, a educação deve ser pensada durante a vida inteira. O resto vai depender de nossas escolhas dentro do que é possível para essa obrigação”. E me deixa enfatizar que esse “nós” que faz escolhas não é limitado aos profissionais de educação. Nesse mesmo sentido, Will Stanton, escritor australiano, ativista e professor, nos mantêm sob alerta de que existem muitos que pretendem ensinar nossos filhos apenas a obedecer: “Devemos aceitar autoridade como verdade em vez da verdade como autoridade”. Ele ainda diz: “o que é a mídia mainstream, se não outra plataforma de educação defendendo autoridade como verdade? Nós nos sentamos em frente ao noticiário noturno e escutamos repórteres nos dizendo o que pensar, a quem apontar nossos dedos, porque nosso país precisa ir para a guerra e com o que a gente deve se horrorizar”.
Nesse contexto o paradigma precisa mudar, a humanidade precisa evoluir, e as crianças aprender como pensar, ter um pensamento crítico. Nos tempos atuais, a educação precisa realmente formar e transformar as presentes e futuras gerações de seres humanos.
Dessa forma, é preciso que nós, mães, sejamos mais críticas em relação ao nosso entorno, para que possamos discutir com os nossos filhos as questões éticas e compreender que aqueles acusados de corrupção não estão tão distantes de nós, assim como pensamos, como parar de pensar que não temos responsabilidade alguma sobre os acontecimentos políticos do nosso país, pois na verdade, tais sujeitos “saíram” da própria sociedade, constituída nada mais nada menos, que por nós mesmos. Solta aos nossos olhos, uma grande insegurança, fruto da crise ética institucional, a liberdade de imprensa (o que considero de extrema relevância) nos permitiu enxergar os escândalos de corrupção ao mesmo tempo em que uma impunidade corre solta, cada um se defendendo como pode.
Com isso, parabenizo mais uma vez as mães pelo seu dia, mas também peço lhes peço: pela ética, na convivência humana, para acabar com a mentira, com o desrespeito em face da sociedade, precisamos olhar com mais carinho para os nossos princípios, os nossos valores, e criarmos nossos filhos de forma que eles possam se tornar indivíduos íntegros e de fato ativos na sociedade! Vamos dizer não as imoralidades!
E para dizer que não falei de flores, vai um pedacinho de um poema de Mário Quintana:
“Mãe
São três letras apenas.
As desse nome bendito:
Três letrinhas nada mais:
É nelas cabe o infinito.
E a palavra tão pequena.
– Confessam mesmo os ateus_
É do tamanho do céu”!