Casas foram destelhadas e outras desmoronaram. Além disso, árvores caíram e provocaram diversos danos à via pública
SANTA RITA DE MINAS/CARATINGA – O feriado de 7 de setembro foi de pânico para moradores da vizinha cidade de Santa Rita de Minas. Aproximadamente 15 minutos de chuva e rajadas de vento foi o suficiente para destelhar casas e provocar danos à via púbica.
A forte massa de ar seco que até a semana passada deixava quase todo o Sudeste ensolarado, quente e seco perdeu força sobre a região. A umidade aumentou e áreas de instabilidade se formaram novamente em várias áreas do Sudeste, espalhando nuvens carregadas que provocaram fortes pancadas de chuva. O maior volume de chuva registrado nas cidades vizinhas foi de 37.9 milímetros em Santa Rita, com granizo.
Pela rodovia já é possível ter noção da dimensão dos estragos: galhos e folhas de árvores espalhados pelo asfalto. Já dentro da cidade, ruas tomadas pelo barro, entulho e até mesmo uma telha caída na praça principal. “‘Voou’ da casa da esquina até aqui”, disse um morador admirado. Na manhã de ontem, população e uma equipe da Prefeitura se uniam em uma força tarefa para limpeza das ruas.
A maior parte das residências atingidas pelas chuvas está localizada no Bairro Santo Antônio. Na Rua João Corrêa de Faria, um efeito cascata. Pelo menos seis casas vizinhas foram destelhadas ou desmoronadas. De acordo com moradores foram momentos de terror.
Maria Madalena Soares Alves mora com uma filha em uma casa simples. No mesmo terreno há ainda outras duas residências, uma que seu irmão mora de aluguel e outra ocupada por Alexandra Assis e seus quatro filhos.
A casa de Maria Madalena foi destelhada e invadida pelas águas. Ela lamenta os transtornos. “Estava eu e minha menina. De repente a chuva começou a cair, ventania e gelo. Ela ‘agarrou’ em mim; ficou com medo e ficamos lá até a chuva passar. Depois corri pra casa do meu irmão. Ele ficou debaixo do fogão, ajoelhado, porque não tem destreza das pernas. Tive de acudir ele. Quando a chuva acabou saímos para a rua porque não tinha onde dormir, tudo molhado. Agora não tenho pra onde ir, só tenho essa casinha”.
Alexandra lembra que a chuva teve pouca duração e não deu tempo de pedir ajuda. Agora, é contabilizar os prejuízos. “A chuva caiu de uma vez, uma coisa rápida. Não teve como ninguém correr, se tivesse de morrer tinha morrido dentro de casa. A gente já não tem nada, somos pobres, o que tem molhou tudo, cama e colchão. Encostamos no cantinho e ficamos esperando”.
Na casa de Leandra Mendes Martins ainda moram outros quatro moradores. O local também ficou destelhado. “Foi mais ventania e granizo. Entrou bastante água, molhou sofá, geladeira, guarda roupa e colchão, mas graças a Deus, só isso. É a primeira vez que eu vejo dessa gravidade em Santa Rita”.
Além dos danos materiais, algumas pessoas ficaram feridas durante as chuvas desta segunda-feira. É o caso de Andreia Mendes, que precisou levar quatro pontos no braço, após uma tentativa de salvar a filha de sete meses.
Andreia lembra que logo no começo da chuva, sua mãe que também mora na residência, decidiu fechar a porta. Foi quando se deu a ventania, quebrando as telhas da casa. Água e pedras de gelo invadiram o local. “Saímos correndo para pedir socorro à minha prima que mora na casa ao lado. Chegando lá batemos na janela e não houve resposta, porque ela estava no fundo da casa. Como vi que a minha filha já estava ficando sem vida, quebrei a janela e machuquei. Pegamos e colocamos dentro da casa. Minha mãe passou em seguida e está também toda machucada. Minha filha deu quatro pontinhos na perna e nas axilas e vai passar por um ortopedista, pois há suspeita de ter trincado o osso da perna”.
A moradora afirma não se arrepender da atitude que tomou e que os danos materiais são imperceptíveis perto do que poderia ter acontecido com sua filha. “A casa a gente perdeu tudo, acabou tudo. Veio como se fosse um redemoinho, levantando tudo, mas na hora eu pensei que se dane tudo, quero salvar minha filha. Minha mãe enrolou ela na cobertinha. Vimos uma Kombi, entrei na frente e pedi ajuda. Levaram ela pro PAM (Pronto Atendimento Municipal) e ela passa bem. Agora não tenho pra onde ir, mas, vamos ver o que vai acontecer”.
ASSISTÊNCIA
O secretário de Obras, Júlio Cesário de Oliveira, descreve a noite de 7 de setembro de 2015 como “assustadora”. Ele explica que rapidamente uma equipe da Prefeitura de Santa Rita de Minas se deslocou aos locais mais atingidos, oferecendo o suporte necessário. “Começou com um vento fraco, depois veio aquela ventania que parecia um tornado. Quando acalmou, a gente saiu para dar assistência com a equipe da Prefeitura, nas partes mais altas, que imaginamos que seriam mais prejudicados. Chegamos lá, casas destelhadas, paredes desmoronadas. Providenciamos a escola para receber famílias, mas os vizinhos ampararam, não houve necessidade”.
Durante a manhã de ontem, a equipe também estava nas ruas, apurando os estragos e fazendo os primeiros serviços paliativos. “Já levei lona para as pessoas taparem os móveis que estavam molhando. Já foi assistente social e equipe para avaliar o que vai precisar. Estamos limpando a avenida, primeiro porque é onde tem o maior tráfego de veículos e pode algum desviar de algum entulho ou galho e esbarrar em alguém. Tem uma equipe limpando dentro das casas, a Defesa Civil, apurando casas que correm o risco de cair”.
Ventania e estragos no Bairro das Graças
A ventania da noite de segunda-feira (7) também provocou transtornos em Caratinga. A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Defesa Social, informa que o volume de chuva registrado no município foi de 18.2 milímetros, com ventos fortes.
Na Avenida Monsenhor Rocha, o vento arrancou e arrastou a estrutura metálica de um imóvel, causando danos a outras cinco residências. Uma delas é a de Vicente Paulo Soares. Ele navegava na internet em um cômodo da casa. Pensou em preparar o jantar, mas, decidiu esperar mais um pouco. Desta decisão passaram-se três minutos, quando ouviu um barulho.
O teto da cozinha foi atingido pela estrutura metálica e parte desabou em cima da mesa. Se tivesse ido jantar naquela hora, o morador teria sido atingindo. Daí em diante, a caixa d’água estourou e a casa inundou. Os danos materiais foram o guarda-roupa, além de um celular e uma câmera fotográfica que estava sobre a mesa.
Vicente agradece por não ter se ferido. Ele mora sozinho e conta que no momento do acidente, foram minutos de tensão. “Fiquei sem comunicação. E ainda era feriado. Ficamos todos desesperados. Estou na cidade há quatro anos, apesar de ser daqui, morando nesta casa há seis meses, não sabia como funciona aqui”.
A Defesa Civil afirmou ao morador que parte da estrutura, próximo à lavanderia está arriscado a desabar a qualquer momento. Está tudo condenado. Vicente afirma que diante disto, vai desocupar a residência. “A gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Estava ali, dentro de casa, sossegado e de repente aquele barulho, vi aquele clarão e pensei o que poderia ser. Mas, foi só um susto também, quando eu vi que estava inteiro, mantive a calma, até para ver se o restante do pessoal estava bem. Ainda bem que não houve nenhum dano maior”.
Em alguns pontos faltou energia elétrica. Na tarde de ontem, a Cemig emitiu nota sobre este assunto: “A Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig informa que as interrupções de energia ocorrida segunda-feira (07/09), por volta de 19h, nas ruas Paulina Miranda e Jorcelino Miranda, em Caratinga e na cidade de Santa Rita de Minas foram causadas pelas fortes chuvas que atingiram a região, provocando falha em um equipamentos e ruptura de cabo da rede elétrica. Assim que identificou o problema, técnicos e eletricistas da Cemig trabalharam para restabelecer o fornecimento de energia no menor prazo possível. Devido ao alto número de ocorrências e as dificuldades trazidas pelo temporal, os clientes foram reestabelecidos por volta de 22h”.
Ainda há previsão de chuvas para esta semana. São esperados 166 milímetros até o dia 17 de setembro. A Secretaria Municipal de Defesa Social informa que, em qualquer situação de anormalidade a Defesa Civil deverá ser acionada pelo plantão 24 horas nos telefones (33) 3329- 8043 e 199.