Eugênio Maria Gomes
No início da semana, enquanto aguardava atendimento em uma agência bancária, encontrei-me com o advogado Luiz Otávio Pereira dos Reis e, ao falarmos de amenidades, ele me disse o seguinte: “Quanto mais chaves você carrega, mais problemas você tem”. Gostei da frase e dos seus muitos significados. Disse-lhe que tomaria emprestado o viés e, de fato, aqui estou a falar sobre chaves e problemas.
De fato, podemos fazer uma comparação entre determinados momentos da nossa vida com as chaves. Quanto menos problemas, menos chaves temos para carregar. Sim, porque se alguma coisa está fechada, guardada, trancafiada, de certa forma existe um problema guardado. Mesmo que seja dinheiro, se está guardado a chaves, de certa maneira constitui-se em um problema. Lembro-me bem do tempo em que eu não tinha qualquer chave, até porque não tinha nada para guardar. Na medida em que o tempo foi passando, fui acumulando chaves… Chave do cadeado da bicicleta, chave do carro, chave da sala de trabalho, chave do portão da casa, da porta da sala, do cofre…
Sem percebermos, passamos a juntar chaves e, de repente, estamos carregando um, dois, três molhos de chaves. Sem falar nas famigeradas chaves digitais… Sim, cada senha funciona como uma chave. Chave para o celular, para o cartão de crédito, para a conta do banco, para acesso à internet, para abrir e-mail, para acessar aplicativos e redes sociais, para liberar a tela do computador, para acionar alarmes de casa… É chave que não acaba mais.
Há quem utilize, por exemplo, uma mesma senha para tudo o que precisa acessar de forma digital, como também existem aqueles que colocam o mesmo segredo em praticamente todos os cadeados e fechaduras, como forma de carregar um número menor de chaves. No entanto, a quantidade de coisas que precisam ser guardadas continua a mesma. Ou seja, os “problemas” continuam sendo muitos…
Chega um tempo em nossas vidas que aceitamos passar as chaves para outras pessoas, mais novas, mais capazes de enfrentar problemas. No entanto, quando esse tempo chega, já estamos sem energia para vivermos bem, sem as tais chaves. Em verdade, ficamos sem chaves, mas permanecemos com o maior de todos os problemas, qual seja, o grande e grave problema da falta de saúde, da falta de mobilidade, da falta de vontade de fazer outra coisa que não seja ficar quieto, dormir, comer, dormir e comer…
O que fazer? Como nos livrarmos de tantas chaves, de tantos cadeados e fechaduras, enquanto temos energia para usufruirmos dos momentos com poucas chaves? Nem sei se isso é possível… Talvez seja sim, pelo menos era o que pensava Charlie Chaplin, que dizia que a fé é a chave que abre a porta do impossível.
Enquanto não consigo fazer isso e, antes de passar as chaves aos outros, vou tentando ter de abrir cada vez menos fechaduras, mesmo tendo de guardar as chaves. Talvez seja por isso que o meu amigo Humberto Luiz fez o contrário, guardando chaves de cadeados que nem existem, de portas que não se abrem, como se quisesse dizer “eu posso ter quantas chaves eu quiser, sem necessariamente ter problemas, ter fechaduras ou cadeados para abrir”.
Mas eu continuo sempre tentando me livrar de algumas chaves, e continuarei tentando sempre, porque a maturidade, a experiência e a “Lei de Murphy” me ensinaram que “geralmente, é a última chave do chaveiro que abre a porta”.
Eugênio Maria Gomes é professor e pró-reitor do Centro Universitário de Caratinga. Diretor da Unec TV e apresentador de programas nas TVs Super Canal, Sistec, Unec e Três Fronteiras. Presidente da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas e membro das Academias de Letra de Caratinga e Teófilo Otoni. Membro do MAC – Movimento Amigos de Caratinga, do Lions Clube Caratinga Itaúna, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.