Esta semana fomos bombardeados com mais uma notícia ruim acerca do nosso “jeito brasileiro de ser”. No auge da discussão sobre a reforma, ou não, da Previdência Social, com o tema tomando conta da agenda de políticos, mídias e de boa parte da população, eis que surge no noticiário a “Operação Carne Fraca”. Um título que, por si só, já demonstra a fragilidade de muitos diante dos encantos que o poder, a riqueza, o ganho fácil e a vontade de se dar “bem” exercem sobre grande parte dos brasileiros.
Em relação ao segundo assunto, não posso deixar de questionar: o que mais falta acontecer a este país? Adulteração de remédios, notas frias, sonegação de impostos, comércio generalizado de produto pirata, cola na escola, plágio, utilização de agrotóxico acima do aceitável, roubo de estatais, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, assaltos, furto de energia, furto de água, furto de sinal de internet, evasão em pedágios, desrespeito às filas, golpe no INSS, fraude no seguro desemprego, atestado médico falso, queima de arquivos, subornos, roubos em supermercados etc, etc, etc. A lista das infrações e dos desvios de conduta que costumam permear o dia a dia de milhões de pessoas parece não ter fim. Até com o futebol nós conseguimos acabar e, para coroar a nossa péssima imagem, agora chega a “Operação Carne Fraca”, para nos dizer que, provavelmente, há muito tempo, estamos comendo carne fora do padrão de qualidade.
Há quem diga que esta noticia foi dada como forma de tirar a reforma da Previdência do foco das discussões. Se a intenção era essa, quase deu certo. No entanto, a péssima notícia trouxe um prejuízo tão grande, tão fora de controle, que os principais veículos de comunicação e a maioria dos políticos trataram logo de conseguir outro tema que, também, desviasse o foco da carne. Até o presidente foi parar com convidados em uma churrascaria como forma de dizer que estava tudo bem com a carne e que os brasileiros poderiam consumir o produto. Esquece-se o presidente que pouquíssimas pessoas no país podem levar uma delegação tão grande para almoçar na Churrascaria Steak Bull, uma das mais caras do Distrito federal. Mais: ela não serve carne bovina nacional, mas sim a importada.
E as noticias ruins não param de chegar e, enquanto escrevo esse texto, ouço na TV que o país, pela primeira vez, não melhorou a sua posição em relação ao IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – medido a partir dos dados de 2015. Aliás, a pesquisa mostra que, quando considerada isoladamente a renda do brasileiro, o Brasil caiu 19 posições em relação à ultima medição. Segundo os “especialistas do Planalto”, defensores da reforma da Previdência, esses dados justificam, ainda mais, a implementação das reformas, já que eles demonstram um país completamente estagnado. Ou seja, tudo o que acontece de ruim nesse país tem servido para justificar a retirada de direitos de muitos e melhorar os “rendimentos” de alguns.
Enquanto isso, quase que a mulher de Sérgio Cabral passa a cumprir prisão domiciliar, sob a alegação de que os pais estão presos e os filhos menores em casa, sem eles. Como se isso fosse considerado em relação às milhares e milhares de outras mães presas, cujos filhos, muitas vezes, são encaminhados a abrigos…
Carne podre, reforma da previdência, prisão domiciliar para a senhora Cabral, fantasmas no Planalto, estagnação do IDH, Lula querendo voltar, Magnólia presa, tiro no Tanaka, Big Brother, final de “Sol Nascente”, enfim, um monte de noticias a nos tirar do foco… Sim, porque qualquer coisa serve para nos tirar a atenção do que, realmente, interessa.
E enquanto a caravana passa, continuamos na janela, assistindo nossa miséria, comendo carne podre e correndo o risco de nunca nos aposentarmos. Mas enquanto isso o Congresso Nacional, aquele órgão lá em Brasília cuja maior parte dos seus membros frequenta com assiduidade as páginas policiais, ensaia editar mais uma pérola legislativa para contribuir com o aprimoramento da jovem democracia brasileira, uma reforma política que, se aprovada, irá eternizar em sucessivos mandatos os atuais caciques, vice-reis e coronéis que hoje lá estão, blindando-os, para sempre, com a benesse da prerrogativa de foro, e consequentemente, bem longe de Sérgio Moro e da masmorra que merecem ser lançados.
É gente, tá difícil de ser feliz…!
Mas como somos brasileiros, e já que acabou o Carnaval, vamos nos preparando para o São João!!!
Anarriê!!!
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG