(Noé Neto)
“Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor…
Não sou escravo de nenhum senhor.”
(Samba Enredo Paraíso do Tuiuti 2018)
Historicamente o carnaval e o samba inspiram ar de rebeldia. São marcas daqueles que utilizam da cultura, arte, música, dança e poesia, para se manifestar contra desigualdades. A alegria da festa, que mesmo não sendo brasileira tem a cara do Brasil, traz traços de luta dos negros na capoeira, no toque dos tambores, nos louvores às divindades.
Ocorre que durante muitos anos o que se viu na grande festa popular brasileira foi um banho de ouro, luxúria e riqueza que não são condizentes com a realidade de quem verdadeiramente produz a festa, que são as comunidades carentes do Rio de Janeiro. Enredos sofisticados, carros cobertos de alta tecnologia, plumas e paetês dando a entender que tudo vai muito bem, que o país segue em perfeita ordem. Criou-se até mesmo o jargão dizendo que “Deus” é brasileiro e tem samba no pé.
Contudo, 2018 foi um grande marco de um carnaval renovado e revelado na Sapucaí. As agremiações, de uma forma especial a Beija Flor (campeã) e a Paraíso do Tuiuti (segunda colocada), trouxeram para a avenida a miséria, a corrupção e o desgoverno que assolam nossa nação. Retratando as ações que escravizam o povo e tornam a vida das comunidades carentes cada dia mais sofridas, em um sistema fraudulento “onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre.”
Amantes ou não do carnaval, todos terão que admitir que a festa deste ano retomou suas origens, tornando-se uma verdadeira manifestação popular. Um clima de comoção e manifestação tomou conta das rodas de conversa e das redes sociais. O assunto do dia foi um só: o resultado e os impactos do carnaval carioca.
A sensação é que pairou no ar na última quarta-feira é que ela não teve nada de cinza, brilhou forte, refez a esperança das comunidades mais sofridas, dos esquecidos pela casa grande, escravizados pelo preconceito e pela corrupção, mas coroados pela vitória de um desfile que sambou na sociedade escravagista.
Alguns críticos dirão: “Então todos os problemas estão resolvidos!”, outros farão a velha analogia do pão e circo, talvez os próprios criticados estejam rindo do resultado e dizendo que quando não acaba em pizza, termina em samba. Mas, a verdade é que há muito mais impacto que se imagina por traz desse desfile. Ele revela que a grande massa, o povo, não está desacordada, desinformada e quando tem a oportunidade manifesta seu desejo.
Dizem que o ano no Brasil só começa depois do carnaval, sendo assim, sem delongas, encerro essa coluna de hoje desejando aos caros leitores um feliz ano novo e tendo a certeza que tem muita gente com a pulga atrás da orelha, pois ao povo é dado o direito de se manifestar duas vezes, no carnaval e nas urnas, espero que o primeiro tenha refletido bem o que ainda está por vir. Assim seja!
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel