DA REDAÇÃO – Radicado há sete anos na capital francesa, o caratinguense Robson Closue Martins Silva, 33 anos, fala sobre os três dias de terror vividos em Paris depois que extremistas islâmicos mataram doze pessoas, sendo dez ligadas a revista Charlie Hebdo. O clima de insegurança ficou ainda maior depois que outro extremista fez vários reféns num mercado judaico de Paris.
Nesta sexta-feira (9), os irmãos Chérif e Said Kouachi, suspeitos do massacre na revista Charlie Hebdo, e Amedy Coulibaly, um sequestrador que mantinha reféns em um mercado, foram mortos pelas forças de segurança francesa.
Há quanto tempo você mora em Paris e qual é o seu trabalho?
Moro em Paris há quase sete anos e trabalho com restauração e pintura. Na quarta-feira (7), estava trabalhando quando meu patrão chegou e falou que Paris estava sobre ataque terrorista e logo em seguida minha esposa ligou pra saber se eu estava bem e pedir para eu ter cuidado na rua. (O mesmo eu disse a ela, pois ela também trabalha em Paris.) A França já vinha recebendo ameaças dos jihadistas desde que iniciou uma ofensiva contra o terrorismo junto aos Estados Unidos e tantos outros países. Por a França ter uma população imensa de mulçumanos eu já estava esperando um ataque surpresa a qualquer momento.
Qual sua reação ao saber do atentado terrorista?
Eu fiquei assustado ao saber do ataque a revista Charlie Habdo e que 12 pessoas haviam morrido, dez estavam feridas e que os terroristas haviam fugido. Quarta (7), quinta (8) e sexta-feira (9) foram dias de pânico nas ruas de Paris. Dava pra ver o medo nos olhares, pois para nós que trabalhamos em Paris, a incerteza de que voltaríamos para casa era grande, pois não sabíamos a que horas e nem onde poderia haver um novo ataque.
Você tem sensação de segurança ou o medo impera na capital francesa?
Uma mistura de medo e insegurança impera em Paris. A polícia e o exército estão nas ruas, nas estações para fazer a segurança de todos, mas as pessoas olham umas para as outras desconfiadas, pois todos são suspeitos neste momento.
Como a população está avaliando a atuação da polícia francesa?
A população aprova e agradece a atuação da polícia francesa, pois são treinados e estão preparados para combater o terrorismo. As orientações que são passadas nas estações de metrô e na TV são para que denunciemos qualquer atividade suspeita, bagagens abandonadas e no momento ficarmos mais quietos em casa e sempre atentos. Toda primeira quarta-feira do mês uma sirene soa por cinco minutos e dá para ouvi-la por toda Paris, pois têm alto-falantes em lugares estratégicos. Esta sirene foi criada durante a Segunda Guerra Mundial e avisava a população quando estava sofrendo um ataque. Hoje ela toca toda quarta-feira ao meio dia, e se ela tocar em outro dia, ou outra hora, ela estará avisando sobre ataques terroristas. Todo cidadão parisiense deve estar sempre atento a isso.
Quais as orientações passadas pelas autoridades para a população?
Sexta-feira (9) o presidente François Hollande fez um pronunciamento avisando a população que os três terroristas responsáveis pelo ataque estavam mortos e isso com certeza nos trouxe certo alívio, mas o medo ainda ronda a Cidade Luz. Antes destes atentados as autoridades francesas já haviam desmantelado cinco tentativas de ataques dos jihadistas. Um vídeo foi enviado a França avisando que isto foi só o início e que eles fariam um chamada a todos “freres” que quer dizer ‘irmãos atiradores’ que estivessem na região parisiense para atacar e engolir a França. A ameaça é real. Os Estados Unidos e tantos outros países se uniram à França, que prometeu não se esconder, mas lutar contra o extremismo islâmico e acabar com estes terroristas. Infelizmente eu acho que ainda não acabou. Que Deus nos guarde. Que Deus guarde a França.
Depois desse atentando você acredita que mudará o jeito do francês tratar pessoas que vem de outros países?
A França recebe muito bem pessoas de qualquer nacionalidade, mas depois das ameaças jihadistas os franceses não estão recebendo bem a população árabe.
Depois desses atos terroristas ocorridos em Paris, você pensa em voltar a morar no Brasil?
Na quarta-feira (7), a França sofreu um atentado terrorista que deixou 12 mortos, dez feridos, sendo quatro em estado grave. Na quinta-feira (8), próximo à casa de uma amiga, duas pessoas armadas abriram fogo contra a polícia, matando uma policial e ferindo um cidadão. Sexta-feira (9) eu estava próximo a Vincennes (periferia oriental de Paris), quando o patrão chega falando que pessoas estavam sendo mantidas reféns em um magazine por um terrorista, o mesmo que matou a policial na quinta-feira e que participou também do atentado a Charlie Hebdo. Três dias seguidos de medo e insegurança. Lembrando que quinta-feira também explodiram dois carros próximos à nossa igreja, mas a polícia não sabe se tem ligação com os atentados e não houve vítimas. Mesmo diante desse terror não penso em voltar para o Brasil, não agora, pois no Brasil não tem “terroristas”, mas as últimas informações que tive sobre minha cidade natal, Caratinga, são que um assassino tinha matado três pessoas e que Silvio Carlos havia sido baleado e lamentavelmente veio a falecer. Então estando na França ou no Brasil, no caso em Caratinga, a violência e a crueldade são reais e somente Deus pode nos guardar.
O que fazer a partir de agora?
Sabe de uma coisa? Vou tentar acreditar que acabou o pesadelo e tentar ficar e viver em paz!