Rubi Martins dos Santos Correia atua como coordenadora de Diversidade
DA REDAÇÃO- Rubi Martins dos Santos Correia, uma caratinguense que transformou desafios em conquistas, é a primeira mulher trans no Ministério das Mulheres. Ela foi nomeada para ocupar o cargo de coordenadora de Diversidade.
Com uma história marcada pela luta por direitos humanos e inclusão, Rubi compartilha sua jornada, desde sua origem humilde no interior de Minas Gerais até sua atuação no governo federal, promovendo políticas públicas que impactam diretamente a vida de pessoas LBTI, quilombolas, indígenas e periféricas. Rubi tem bacharelado em Serviço Social pelo Centro Universitário IESB, de Brasília.
Nesta entrevista, ela reflete sobre os desafios enfrentados, as conquistas alcançadas e suas esperanças para um Brasil mais inclusivo e igualitário.
Como foi a sua mudança de perspectiva, de uma trajetória que iniciou em Caratinga no interior de Minas até se tornar a coordenadora de Diversidade do Ministério das Mulheres?
Me mudei para Brasília em 2012, como boa mineira interiorana em busca de mais oportunidades de vida, estudos e trabalho, visto que nasci e cresci em uma família humilde e trabalhadora, cuja mãe é doméstica e meu pai marceneiro. Como em Caratinga já evidenciava potencial para com políticas públicas e sociais, Brasília foi um “start” para dar visibilidade às minhas lutas e à carreira.
Quais desafios você enfrentou como mulher trans ocupando espaços no setor público, especialmente em posições de liderança?
Os desafios não foram somente para minha inserção em espaços de liderança, encontrei dificuldades até mesmo de me inserir no mercado de trabalho formal, devido ao preconceito e transfobia enraizados na sociedade. Já nos cargos de liderança, a minha atuação visceral nos movimentos sociais, em prol dos direitos humanos inclusive das mulheres transexuais e travestis foram cruciais e determinantes para que hoje eu possa atuar enquanto gestora de políticas públicas, apesar de ainda lutar contra os preconceitos diariamente. O desafio é constante.
O que você aprendeu durante sua experiência como consultora técnica no projeto “Livres e Iguais” da ONU Brasil, e como isso impactou sua atuação posterior?
O projeto Livres e Iguais da ONU foi um divisor de águas em minha vida, além de obter conhecimentos sobre ativismo em direitos humanos voltados para a população trans e suas interseccionalidades, foi de extrema relevância curricular, de aprendizado e de imersão nos direitos humanos.
Em 2024, o Governo Federal assinou acordo inédito para inclusão de pessoas LBTI em políticas públicas para mulheres. Como você avalia o papel do Ministério das Mulheres na promoção da diversidade e inclusão no Brasil?
O acordo de inserção das mulheres LBTI é um marco do governo Lula, da Gestão da ministra Cida e da luta de todas as mulheres, além da garantia de direitos para a nossa população já tão esquecida pela sociedade. O programa é uma forma de mostrar para a população brasileira que também somos agentes de direitos como qualquer outro cidadão, que vota, trabalha e cumpre com seus deveres de cidadãs brasileiras.
Quais suas prioridades como coordenadora de Diversidade do Ministério das Mulheres?
As prioridades são levar politicas o públicas para todas as mulheres sem deixar nenhuma para trás, seja LBTI, quilombola, indígenas ou da periferia, defendendo uma agenda de cidadania e respeito à diversidade e puridade das mulheres brasileiras.
Poderia compartilhar sua visão sobre a importância de políticas públicas voltadas à população LGBTQIA+, especialmente no contexto das repúblicas LGBTQIA+ no Distrito Federal?
As pessoas LGBTQIA+ no Brasil são historicamente excluídas não somente do seio familiar, mas também da escola, da empregabilidade e até mesmo do direito à cidadania. As repúblicas LGBQIA+ vieram para dar mínimo de acolhimento e esperança de dias melhores para a nossa população no âmbito da política de assistência social do Distrito Federal. Isso é inédito.
O que significou para você receber o Prêmio Jorge Lafond na categoria Políticas Públicas em 2023?
O prêmio Jorge Lafond significou que eu sempre estive no caminho certo, mas o prêmio foi só um detalhe, o reconhecimento vem das vidas que consigo alcançar com minha trajetória, com meu trabalho, com meu ativismo.
Como você espera que o Brasil avance em termos de direitos e inclusão da população trans nos próximos anos?
Eu tenho viva esperança de dias melhores para a população trans. Obtivemos avanços, porém singelos, ainda seguimos pela 15ª vez como o país que mais mata pessoas trans no mundo, há muito que avançar para combater a transfobia. A evasão escolar por violência de gênero, na empregabilidade pois 90% das mulheres trans/travestis ainda sobrevivem da prostituição, em todas as áreas temos que avançar para conseguirmos viver nesse país, livres de qualquer preconceito e violência.
- Rubi durante participação em Grupo de Trabalho Interministerial de Enfrentamento à Violência Política Contra as Mulheres (Foto: Arquivo pessoal)
- Rubi com a deputada federal Erika Hilton (Foto: Arquivo pessoal)
- Rubi com a ministra Cida Gonçalves (Foto: Arquivo pessoal)