CARATINGA – “Um exemplo, seja na vida pessoal ou na profissional”, assim foi definida a trajetória de Luiz Alberto Ferreira de Faria, 35 anos, o ‘Luizinho do Sicoob’, que morreu no domingo (17) devido as complicações de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um infarto. Ele estava internado no hospital da Unimed em Coronel Fabriciano. O corpo foi velado durante o dia de ontem no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, na rua Coronel Pedro Martins. Em seguida houve o sepultamento no Cemitério São João Batista de Caratinga.
A ENTREVISTA
Na edição de 18 de junho deste ano, o DIÁRIO publicou a matéria “Guarda mirim: um ‘estágio’ para a vida”, e Luiz Alberto foi um dos entrevistados. Ele falou com carinho e gratidão sobre o período que esteve na Fundação Cidade dos Meninos (Funcime). “A guarda mirim representa tudo que conquistei, que eu cheguei até hoje, da formação do meu caráter, dos meus princípios, além da base que trago da minha família”, disse na ocasião.
Luiz Alberto contou que ingressou na instituição em 1995, onde permaneceu até 1999. Tempo suficiente para ter a primeira assinatura de sua carteira profissional aos 16 anos. “Trabalhei como faixa azul, primeiro como assistente recruta e depois formei como guarda mirim. Meu primeiro emprego foi como mensageiro do Asadom (Associação de Amparo aos Doentes Mentais). Depois trabalhei em dois escritórios de contabilidade e fui trabalhar na agência franqueada dos Correios”.
Ele se lembrou orgulhoso daquele período, que considera ter sido mais rígido, o que exigia uma postura impecável dos chamados ‘guardinhas’. “Quando entrei acho que era muito melhor do que hoje. O jovem, se não tiver certa rigidez, cobrança, realmente fica solto. Tem muita coisa hoje no mundo para poder disfarçar, vir com uma proposta de algo em curto prazo, mas a gente sabe que depois as coisas se encaixam. Tem que haver cobrança, rigidez e lá eu aprendi com o comandante Fausto (Fausto da Silva) a ser realmente um homem mesmo. Gostar das coisas certas, cumprir horários, tudo que a gente precisa para ter uma carreira de sucesso”.
Luiz Alberto também chegou a comparar a sua época na guarda mirim e também deu conselhos. Para ele, o que parece severo demais hoje, principalmente com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, representava disciplina e normas às crianças e adolescentes que ingressaram naquela época. “Assim como está em Provérbios: ‘Ensine o jovem no caminho que deve andar e mesmo depois de velho, ele não se desviará dele’, os castigos são uma forma lúdica de nos mostrar aquilo que se precisa enxergar. Acho que se for de uma forma respeitosa, com dignidade, ninguém vai se revoltar por isso, vai é nos ajudar. De maneira nenhuma acho que era ruim, muito pelo contrário, trago essa história para a minha vida e hoje posso falar com muito orgulho que fui guarda mirim”.
Segundo Luiz Alberto, para os meninos, o uniforme trazia mais que uma vestimenta, mas, o sentimento de cidadão, de ser alguém importante na sociedade. Ele aconselhou as famílias para que encarem a Funcime como uma grande oportunidade às crianças de encontrarem o seu papel na sociedade. “Lembro com muita saudade que fui da equipe da bateria da guarda mirim e a maior alegria que eu tinha era de vestir a minha farda, gravata, camisa manga longa. Pais, não desistam dos seus filhos. Ensinem a eles o temor de Deus, a serem pessoas boas. Qualquer que seja a profissão, se a pessoa tem princípios familiares, com certeza vai ser honrada. O caminho realmente é a palavra de Deus e as coisas que são boas na vida, são difíceis mesmo. Continuem acreditando, que seus filhos vão dar certo”.
A história da Funcime é marcada por pessoas que passaram pelo local e hoje ocupam cargos de destaque em empresas. No entanto, para Luiz Alberto esta não era a principal herança deixada pela Fundação. “Status social, condição financeira, o lugar onde a gente mora não vale nada, isso é tudo transitório. Isso a gente tem por causa da bondade de Deus, porque Deus é misericordioso e dá muito mais do que nós podemos merecer. Mas, o que importa na verdade é a formação do caráter. Quando a pessoa vem de baixo e luta muito para conquistar, não vai perder por qualquer motivo”.
Um comentário
Daniele
Agradeço ao jornal Diário de Caratinga pela matéria feita com meu irmão Luiz Alberto. A matéria retrata exatamente a pessoa que ele foi e o exemplo que nos deixou.