Manifestação aconteceu na BR-116, em Inhapim
INHAPIM- Durante todo o dia de ontem, caminhoneiros deflagraram uma paralisação por tempo indeterminado e bloquearam rodovias em pelo menos dez estados. Eles se queixam do reajuste das tarifas do diesel.
Os caminhoneiros de Inhapim também aderiram ao movimento e se concentraram na BR-116, nas proximidades do Posto Faisão. Por volta das 14h30 teve início o bloqueio em meia pista, com liberação apenas para passagem de veículos de passeio, ambulâncias e veículos que transportam carga viva e perecíveis. Faixas indicando greve e pneus também foram colocados para chamar a atenção de quem trafegava pelo local e reforçar o bloqueio da via.
‘VERGONHA’
Nesta segunda-feira (21) foi anunciada mais uma alta do valor nas refinarias, de 0,97% a partir de hoje. Somente na última foram cinco reajustes diários seguidos. De acordo com o caminhoneiro Joandir Salvador dos Santos, a iniciativa dos trabalhadores de Inhapim se deu diante da insatisfação com os preços anunciados. “O caminhoneiro não aguenta mais esse óleo diesel desse preço; muitos falam porque não aumenta o preço do frete, mas não adianta levantar porque o pessoal não tem emprego, então como vai pagar. Levanta o frete, cai em cima dos coitadinhos que precisam comprar o arroz e feijão, que está tudo caro. Queremos que o governo, o povo, as lideranças vejam isso, tenham dó da gente, do povo caminhoneiro que não tem vez de nada”.
Conforme Joandir, fica praticamente inviável ao caminhoneiro arcar com os custos de combustível. “Tenho vergonha de falar, meu coração quase parte de falar o preço de um óleo diesel hoje, é R$ 3,78 o litro. Para se ter noção coloco um litro de óleo diesel aqui, ando 2,5 km a 3 km no máximo. Isso é uma vergonha, uma baixaria, tenho vontade de chorar de raiva. O óleo diesel come 70% do frete. Você bota uma gasolina hoje no carro, anda 12 km ou 13 km e com óleo diesel não se consegue andar nem 3 km. O pessoal tá brincando com a população, com os brasileiros. Somos pequenos, mas grandes ao mesmo tempo, porque se estamos em São Paulo e faltar alimento em Salvador, eles dão a gente 48 ou 50 horas e vamos levar os produtos, descarregamos com dignidade, cuidando da carga e não temos valor. É só judiação, hoje temos que pagar banho, estacionamento, não estamos aguentando. Estamos pedindo a Deus para tocar na cabeça desses governantes, que ajudem a gente”.
O caminhoneiro ainda lamenta que sua profissão não tenha o mesmo reconhecimento de antigamente. “Você chega numa cidade para descarregar hoje, está lá carga e descarga, eles não deixam encostar, tiram de lá. Não tem aquela liberdade como a gente tinha, comecei a mexer com caminhão em 1969, aquilo era respeitado, todo mundo respeitava o caminhoneiro, tratava com dignidade. Hoje é mal respeitado, mal remunerado, ninguém gosta do caminhoneiro e é quem carrega o Brasil nas costas. 90% da população brasileira vive do caminhão”.
Além do valor do diesel, a pauta de reivindicação dos profissionais contempla outras questões, como explica Joandir. “Estamos reivindicando segurança, ter consideração, porque ninguém tem, caminhoneiro é tratado por ‘porco’. E hoje pagamos para tudo e não recebe para nada. O pedágio hoje está uma vergonha, levanto o eixo da minha carreta e tenho que pagar ele levantado sem rodar. Ele está suspenso, não está rodando e eu pago. Queremos ajuda para sobreviver”.
O caminhoneiro ressalta que o protesto foi pacífico e que teve adesão satisfatória. “Estamos fazendo uma reivindicação amigável, não queremos violência. Nós queremos é sossego e bem-estar para o povo brasileiro. Vamos ficar aqui até aguentar, revezar o pessoal. E os caminhoneiros estão aceitando, graças a Deus, todo mundo encostando no posto, ninguém querendo furar o bloqueio. Estamos tendo apoio da Polícia Militar de Inhapim”.
‘ACHAM QUE CAMINHÃO SÓ DÁ LUCRO’
Márcio Henrique Seixas Aredes é caminhoneiro desde os 18 anos de idade. Hoje, aos 40 anos, ele lamenta a situação enfrentada e acredita que é preciso se mobilizar. “Infelizmente hoje o pessoal não sabe o que acontece com a gente, que está na estrada dia a dia. Acham que é uma profissão como outra qualquer, mas tem que ser feita com muito carinho, porque se está em cima de uma pista, tem que ter uma consciência muito plena que se tem muitas outras pessoas ao seu redor. Somos pais de família, dependo do caminhão, fui nascido e criado em cima dele e as pessoas acham que é muito fácil. Somos discriminados em todas as ocasiões e lugares que chegamos. O motorista hoje é considerado drogado, que só gosta de coisa errada e se ele não trabalhar, infelizmente todo mundo vai ficar sem um trabalho, porque 90% hoje depende do caminhão. Sem o caminhão provavelmente a profissão de muitos vai acabar”.
O caminhoneiro ilustra as despesas e afirma que os prejuízos são ainda maiores para quem, assim como ele, é autônomo. “Tenho meu caminhão hoje e pago os impostos. Carrego um caminhão hoje de Ipatinga para São Paulo, é valor de tonelada, R$ 100 a tonelada. Paga sobre o peso carregado, se você carregar 30 toneladas, recebe R$ 3000. Só que dos R$ 3000 como somos autônomos, desconta INSS, Sest Senat é uma coisa que motorista não tem vez. Na nossa região, por exemplo, não favorece nada e é descontado todos os fretes. Mesma coisa é o INSS nosso que é descontado todas as viagens. Hoje numa viagem de Ipatinga/São Paulo, São Paulo/Salvador e Salvador/Ipatinga você gasta 1850 litros de óleo. Os valores devem dar na faixa de R$ 6.000 de óleo.”.
Além disso, no frete bruto, ainda é preciso descontar o pedágio. Somado às despesas, as manutenções do veículo também pesam no bolso do trabalhador. “No final das contas, a gente não põe a proporção; um pneu de caminhão hoje custa R$ 2.000 e ninguém sabe disso, acham que é igual pneu de automóvel. Um caminhão tem a manutenção de lona de freio, um rolamento, tem que se fazer uma troca de óleo periódica no seu carro, senão seu carro vai parar. E a carreta são seis rodas, o cavalo são mais seis, então no caso ali hoje tem 24 pneus rodando a R$ 2.000 cada um. Uma troca de óleo hoje de um caminhão gira em torno de R$ 1.000 a cada 40 dias. Tudo isso não é contabilizado para eles, mas para a gente. Eles acham que caminhão só dá lucro e não dá despesa”.
GOVERNO SE REÚNE
O presidente Michel Temer convocou ainda ontem, reunião de emergência para discutir a alta dos preços dos combustíveis. Foram chamados para participar da conversa com o presidente os ministros Moreira Franco (Minas e Energia), Eduardo Guardia (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil), Esteves Colnago (Planejamento) e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid.
Pela manhã, os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciaram para o dia 30 uma Comissão Geral no Congresso que deverá acompanhar os desdobramentos da política de reajuste de preços de combustíveis no país.
Guardia disse que o governo examina a redução de tributos incidentes sobre os combustíveis, mas não tem ainda nenhuma decisão sobre o assunto. Em teleconferência com a imprensa estrangeira, ele afirmou que medidas para reduzir as alterações constantes nos preços estão sendo discutidas, mas destacou que o governo não tem neste momento “flexibilidade fiscal”.