CARATINGA – Após ocuparem de maneira totalmente improvisada e sem condição mínima de sobrevivência o prédio em construção do Centro de Zoonoses, os idealizadores da ONG Latemia, Marta Lopes e Joel Batista, juntamente com as centenas de cães que ocupam o abrigo foram transferidos para uma área do Parque de Exposições João da Costa Mafra.
O transporte dos cães até o novo abrigo aconteceu durante o dia de ontem. O espaço foi cedido por meio de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado
entre a Prefeitura de Caratinga, Latemia e o Ministério Público. Para isso, Joel foi nomeado pela Prefeitura para o cargo de coordenador de Unidade de Saúde I, símbolo CC-3. Foram instalados um canil e um gatil provisórios para receber 114 cães, sendo cinco filhotes, e 23 gatos.
De acordo com a médica veterinária
da Vigilância Sanitária Epidemiológica, Clara Romanzotti, o novo espaço vai apresentar melhoria significativa na qualidade de vida dos cães. “Eles receberão atendimento veterinário, alimentação, água à vontade, trabalho de recreação e voluntários apadrinhando. Agora será feita uma triagem de acordo com a frequência cardíaca, temperatura, vamos avaliar clinicamente, amanhã (hoje) a gente vai fazer a etapa de vacinação contra raiva e teste de leishmaniose em todos os animais. Eles serão castrados, vermifugados e prontos para adoção”.
Os cães abrigados pela Latemia foram abandonados nas ruas, onde sofreram violência. Para Clara, esta é uma nova etapa rumo à defesa dos animais, que ainda estão se adaptando ao novo lar. “Esses cães são apedrejados, maltratados, acabam não tendo o que comer. São vítimas de maus tratos mesmo. O que difere os animais dos seres humanos é a crueldade. O ser humano ainda consegue ser muito cruel. Os cães são muito traumatizados com isso, sofreram nas ruas, mas esse momento é assim mesmo, de estresse, eles estão acabando de chegar e estão agitados, mas vão se adaptando com o tempo. Aqui a gente vai ter um abrigo para eles serem hospedados; com todo o carinho e cuidado”.
Segundo a médica veterinária, após todos os atendimentos que serão ofertados aos cães, eles serão totalmente aptos para adoção. “Vai adotar um cão completamente sadio, com toda qualidade que um animal precisa ter para ser adotado. Aqui é um local provisório, o lugar para cada animal é dentro de casa, no aconchego do lar, onde possa receber carinho”.
A notícia do novo espaço também foi comemorada pelas voluntárias da ONG Latemia, Iara Laborne e Ana Marta. Mas, elas acreditam que apesar da expectativa em torno desta área cedida ao abrigo, é preciso ter cautela e acompanhar as medidas de proteção a estes animais.
Para Ana Marta, o momento é de satisfação para as pessoas que lutam pela defesa dos animais. “Foi uma vitória para a Marta do Latemia, mas eles ainda precisam de muitas coisas aqui no abrigo. O abrigo ainda está incompleto, mas só de já terem vindo para um lugar e saber que vão ser mais bem cuidados, já é uma vitória. Vamos lutar para que isso seja uma coisa crescente e que a cada dia o espaço possa melhorar, para que esses cachorros possam ter uma vida melhor e cuidados específicos”.
Iara Laborne afirma que os voluntários continuarão com um trabalho de apuração e fiscalização das futuras adequações do espaço, às necessidades da Latemia. “É uma sensação maravilhosa de ver que a Marta, com essa simplicidade, humildade, conseguiu junto à Prefeitura, aos deputados que vieram e esse movimento nosso, trazer os cachorros para cá. Se me perguntarem se está ideal, vou dizer que não, mas a gente percebe que a Prefeitura está com muita boa vontade de ampliar o espaço, adequá-lo, pois é provisório e segundo informações, depois a Marta vai voltar pra lá. Nós, os protetores, estaremos aqui lutando com a Marta, de olho. Mas, estamos percebendo uma receptividade muito grande do prefeito Marco Antônio e da equipe da Vigilância Sanitária”.
O presidente da Latemia, Vinícius Assis Morais, conta que a ONG tem boas expectativas com a mudança de endereço. “O nosso objetivo é trazer os animais, cuidar de todos e deixá-los aptos para a adoção responsável, pois o nosso grande desafio é conscientizar a população sobre a responsabilidade que é adotar um animal de estimação. O que queremos evitar é que as famílias adotem o animal e que o abandonem quando ele adoece ou envelhece”.
E após uma longa batalha, até mesmo abrindo mão de seu conforto em prol dos animais, Marta Lopes, voluntária da ONG Latemia, comemora o resultado satisfatório, a partir da assinatura do TAC. “É uma vitória, uma luta de nove anos, trabalhando, conscientizando a população, o poder público de que os animais não podem ser sacrificados. Agradeço aos deputados que vieram que hoje a lei está sendo cumprida. A cidade de Caratinga hoje está ganhando um presente que é a defesa e proteção aos animais. Chamo a população para estar junto com a gente nos ajudando. E não é porque isso aqui é um começo, que as pessoas podem abandonar seus animais nas ruas. Estaremos com a nossa equipe, vigiando quem está fazendo isso porque já existe lei e vamos fazer ser cumprida”.
Marta afirma que não se arrepende de ter invadido a área do Centro de Zoonoses e acredita que a atitude deu maior visibilidade à causa que defende. “Da dificuldade que nós tivemos de estar morando na Zoonoses, dessa forma, conseguimos chamar atenção. Muitos pessoas viram o nosso problema e criamos um grupo para castrar e doar muitos cães. É o que vamos continuar fazendo, agora com a Prefeitura e a Vigilância nos ajudando, isso que precisava, a união. E nunca é tarde para que isso aconteça”.