* Gabriella Coelho Motta Pizzani
Sim! Além da Língua Portuguesa, desde 2012, por meio da Lei 10.436, nos tornamos um país bilíngue a partir do reconhecimento legal da Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como LIBRAS.
Muitos ainda não sabem, mas a LIBRAS é o instrumento natural de comunicação dos surdos do nosso país. Não é simplesmente uma linguagem ou código que permite a comunicação entre pessoas surdas, inventada por ouvintes para facilitar a vida dos surdos, mas, assim como o Português e as demais línguas naturais, a LIBRAS é a língua “materna” dos surdos brasileiros, uma língua com todos os requisitos para tal (fonologia (quirologia), morfologia, sintaxe, semântica…) que foi convencionada pelos próprios surdos de maneira espontânea e natural a fim de suprir as suas necessidades específicas de comunicação, por isso é baseada num mecanismo de produção e recepção linguística gesto-visual. Sendo assim, por meio dela é possível discutir sobre política, contar estórias, mergulhar na filosofia ou mesmo contar uma piada.
Contradizendo uma visão clínica terapêutica acerca da surdez, onde a pessoa surda é vista, por uma sociedade predominantemente etnocêntrica, como uma pessoa doente, deficiente e limitada, o reconhecimento legal da LIBRAS nos revela que a comunidade surda brasileira é bastante eficiente e politizada no que diz respeito ao reconhecimento de sua língua, cultura e identidade nas diferentes esferas sociais. Prova disso é o fato de não termos reconhecida legalmente nenhuma outra língua usada em nosso território extenso e diversificado, além do Português e da LIBRAS, inclusive línguas nativas, como as indígenas que influenciaram e contribuíram para a formação do nosso vocabulário.
A partir do reconhecimento legal de mais uma língua oficial em nosso país, tornou-se necessárias algumas estratégias para seu ensino e difusão em âmbito nacional. Para tanto ficou estabelecido pelo Decreto 5626/2005 que esta seria amplamente ensinada nos em todas as etapas, níveis e modalidades de ensino. Determinação esta que ainda não está totalmente efetivada, mas que tem caminhado para sua concretização a partir do momento que percebemos cada vez mais as instituições públicas educacionais, assim como as privadas, incluindo em seus currículos o ensino de LIBRAS para alunos e comunidade em geral.
E a busca de instrumentos que promovam a acessibilidade para os surdos não se limita ao contexto educacional. As esferas jurídicas, da saúde, assim como as empresas concessionárias de serviços públicos, em obediência às determinações legais vêm buscando alternativas de incluir a LIBRAS em seus contextos, por meio da capacitação de pessoal para atendimento do surdo em sua língua natural, a LIBRAS.
Brasil, um país bilíngue em busca de acessibilidade às pessoas surdas através da efetivação e ampliação dos efeitos da norma de reconhecimento oficial da LIBRAS, para que a mesma seja reconhecida e usada por um número cada vez maior de brasileiros, alcançando cada vez mais os diferentes seguimentos sociais e tornando a vida da comunidade surda brasileira muito mais digna e participativa. Aprenda essa língua e ajude a tornar o mundo mais acessível às pessoas surdas, você não vai se arrepender!
* Gabriella Coelho Motta Pizzani é tradutora e intérprete de LIBRAS/Português e professora da disciplina LIBRAS em todos os cursos de graduação oferecidos pelo UNEC- Centro Universitário de Caratinga.
-Mais informações sobre autor: http://lattes.cnpq.br/0969249139229201
Um comentário
Larissa
2012? Certeza que não é 2002???