Semana passada foi marcada pelo respaldo das eleições na Grécia. A Europa comunitária está em estado de choque com a vitória do partido Syriza, que com 36,34% dos votos, quase nove pontos à frente do partido conservador Nova Democracia, do ex-primeiro-ministro (com 27,81%). Sobre as negociações cruciais com os credores do país, a União Europeia e o FMI, o líder do Syriza ressaltou a disposição do futuro governo grego de participar de um diálogo sincero e abordar um plano nacional e um plano sobre a dívida. Com esta disposição, o atual primeiro ministro grego deixa a alemã Angela Merkel de cabelos em pé, assim como deixa os portugueses, espanhóis e irlandeses com uma vontade secreta de fazer o mesmo. O tempo corre e veremos o que como a Europa irá resolver estas questões.
Outro dia, nas amenas cavaqueiras próprias das comemorações de aniversários, fui questionado pelo amigo Silvio Pagy sobre alguns escritores angolanos que poderia aconselhar.
Nesta troca de ideias, Silvio aconselhou-me e emprestou-me Francisco de Azevedo e o seu “O Arroz de Palma”. Fiquei realmente muito impressionado com a escrita fluente:
“…A cadeira que Tia Palma escolhe é a mesma, a quarta, a que papai restaurou e lhe deu de presente pelo nascimento. A cadeira das pazes que fizeram. Aquela em que ela se sentava para me contar a história do arroz e tantas outras. A cadeira é a mesma, mas a Tia Palma é outra. E eu sou outro. A vontade é de me sentar no chão diante dela, mas me falta coragem de ser menino. Contento-me em me acomodar, adulto e direto, na cadeira da frente. A fala é minha. Fala estranha, sem emoção. Por quê?….”.
Gosto desta simplicidade difícil de alcançar, só possível na pena dos eleitos. Francisco hoje vende muito sem que para isso tivesse que se fazer um marketing á volta dele.
Mas ao investigar na net bibliografia de Francisco Azevedo, encontrei outro Francisco, mas este Francisco João Azevedo, padre paraibano inventor da máquina de escrever. Nascido em 1814, este inventor sobre o qual já passei breves palavras em artigo anterior, a sua vida daria claramente um belíssimo romance. Com apenas um canivete e uma lixa, modelou e inventou um protótipo da maquina de escrever. Entre a sua vida no seminário e as aulas no arsenal da Marinha, Padre Francisco criou uma máquina de escrever feita em madeira. Com esta maravilha chegou a ganhar uma medalha de ouro na Exposição Agrícola e Industrial de Pernambuco, dada pelo Imperador D Pedro II. A máquina inventada pelo Padre era um móvel de jacarandá equipado com dezesseis pedais com aparência semelhante à de um piano. Cada tecla de sua máquina adicionava uma haste comprida com uma letra na ponta. Era possível na máquina datilografar todas as letras do alfabeto, além dos sinais ortográficos. O pedal servia para trocar de linha do papel. O Padre Azevedo desenvolveu ainda outros inventos. Em 14 de outubro de 1866, obteve a medalha de prata pela invenção do elipsígrafo, na Segunda Exposição Provincial. Inventou um veículo terrestre movimentado pela força do vento, destinado ao transporte entre Olinda e Recife. Uma máquina para aproveitar o movimento das ondas do mar e aplicá-lo ao movimento do navio, em 1875. Infelizmente, não conseguiu produzi-los em série.
Segundo Ataliba Nogueira, biógrafo do padre, ele foi enganado e seus desenhos roubados. Tudo isso feito por um agente de negócios que o convenceu a não continuar o projeto da máquina e desistir de tudo. O Padre aceitou essa ideia. O agente de negócios então roubou tudo sobre a máquina e entregou nas mãos tipógrafo Christopher Latham Sholes (1819-1890) que aperfeiçoou a máquina e apresentado a todos como sendo seu o projeto veio a ser reconhecido como o inventor da máquina de datilografia.
Grande Padre Francisco acabou por não ter reconhecimento internacional, mas fica em aberto a possibilidade de alguém escrever a sua história romanceada.
Aproveito e passo aos interessados alguns escritores angolanos que tal como Francisco Azevedo merecem ser lidos:
Pepetela
Romances hilariantes Jaime Bunda, Agente Secreto Jaime Bunda e a Morte do Americano
Ondjaki
Qualquer uma das suas obras é essencial numa biblioteca de língua portuguesa. Passo uma lista completa das suas obras
- Actu Sanguíneu (poesia, 2000)
- Bom Dia Camaradas (romance, 2001)
- Momentos de Aqui (contos, 2001)
- O Assobiador (novela, 2002)
- Há Prendisajens com o Xão (poesia, 2002)
- Ynari: A Menina das Cinco Tranças (infantil, 2004)
- Quantas Madrugadas Tem A Noite (romance, 2004)
- E se Amanhã o Medo (contos, 2005)
- Os da minha rua (contos, 2007)
- AvóDezanove e o segredo do soviético (romance, 2008)
- O leão e o coelho saltitão (infantil, 2008)
- Materiais para confecção de um espanador de tristezas (poesia, 2009)
- Os vivos, o morto e o peixe-frito (ed. brasileira / teatro, 2009)
- O voo do Golfinho (infantil, 2009)
- dentro de mim faz Sul, seguido de Acto sanguíneo (poesia, 2010)
- a bicicleta que tinha bigodes (juvenil, 2011)
- Os Transparentes (romance, 2012)
- Uma escuridão bonita (juvenil, Brasil/Portugal, 2013)
- Sonhos azuis pelas esquinas (contos, Portugal, Caminho, 2014)
- Os vivos, o morto e o peixe frito (teatro, 2014)
- O céu não sabe dançar sozinho (contos, Brasil, Lingua Geral, 2014)
José Eduardo Agualusa
Outro nome da nova literatura Angolana reconhecido internacionalmente
Lista das obras dele:
- A Conjura (romance,1989)
- D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverosímeis (contos, 1990)
- O coração dos Bosques (poesia, 1991)
- A feira dos assombrados (novela, 1992)
- Estação das Chuvas (romance, 1996)
- Nação Crioula (romance, 1997)
- As Mulheres do Meu Pai (romance, 2007)
- Na rota das especiarias (guia, 2008)
- Barroco Tropical (romance, 2009)
- Milagrário Pessoal (romance, 2010)
- Teoria geral do Esquecimento (romance, 2012)
- A educação sentimental dos pássaros (romance, 2012)
- A vida no céu (romance, 2013)
- A Rainha Ginga (romance, 2014)
João Abreu é natural de Angola, mas tem nacionalidade portuguesa. Ele reside em Caratinga e é empresário com formação em Marketing.
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