Várias partes do território brasileiro eram ocupadas pelos povos nativos. Povos que representavam uma diversidade cultural. Por isso, a generalização utilizada “povos nativos”, não deve nos levar a pensar que todos os indígenas do Brasil viviam e possuíam a mesma cultura e/ou traços fisiológicos semelhantes. Enfim, não podemos cometer o erro de pensar que todos eram iguais.
Presentes em várias partes do Brasil, observa-se que em cada lugar ocupado, os indígenas, possuíam formas peculiares no seu modo de ser e agir. A língua é um exemplo claro dessa diversidade, pois estima-se que haviam cerca de 1200 línguas faladas no Brasil até o momento da sua ocupação, pelos europeus no século XV.
Especificamente, na região de Caratinga, viviam os Povos Botocudos. Que para sua caracterização, segundo a escassa literatura, apresenta contraditórios, principalmente pelo fato de alguns historiadores/pesquisadores defenderem o fato deles serem antropofágicos, que significa que eles comiam carne humana. Mas como já dito é controversa essa afirmação. Outros pontos que os caracterizam são: os botocudos eram poligâmicos; usavam botoques, um tipo de alargador de orelhas e lábios; e estavam distribuídos em vários grupos, que de forma nômade, habitavam o Leste de Minas, inclusive nas terras que formariam Caratinga, abrigando-se no seio da floresta em ocas ou abrigos temporários.
Quando da chegada de Domingos Lana, o poaeiro, num primeiro momento houve uma relação amistosa com os nativos em virtude ao comércio da poaia, pretendido por Lana. Na época, a relação com os botocudos, acontecia em forma de escambo, portanto, trocava-se a planta por algum objeto. Algo, que pela circunstância foi bem-vista e aceita por todos.
Todavia, no processo geral, essa relação de amistosidade já havia chegado ao fim, desde quando a região passa a ser oficialmente e constantemente ocupada pelos demais desbravadores do sertão de Minas. Nesse momento, pelo olhar dos colonizadores, os povos nativos passavam a ser uma forma de empecilho aos objetivos a serem alcançados pelos os novos ocupantes.
Em um primeiro momento, se pensou em um plano de “civilização” que deveria ser destinado aos Botocudos. Outra estratégia, foi usar os próprios índios como combatentes dos demais, fossem de grupos inimigos ou até mesmo do próprio grupo Botocudo.
Mas, como essas estratégias não avançaram em seus propósitos colonialistas, o governo criou uma forma de proteger oficialmente o processo de povoamento da região ao expedir a Carta Régia de 13 de maio de 1808, declarando guerra aos habitantes nativos do sertão, portanto, uma forma de extermínio “velado” e ao mesmo tempo oficial dos Botocudos.
Assim, não diferente dos outros povos nativos do Brasil, os Povos Botocudos foram perseguidos de forma persistente e cruel pelos portugueses e demais desbravadores da região, e os únicos sobreviventes são os Povos Krenak, que vivem em uma reserva nas margens do Rio Doce, entre as cidades de Resplendor e Conselheiro Pena, em Minas Gerais. Desse grupo, pertence o imortal Ailton Krenak, integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor