Profissionais da segurança pública e proprietária falam sobre incidente ocorrido na madrugada do último domingo
CARATINGA – Na tarde de ontem, representantes da segurança pública e a proprietária da boate Prime concederam uma entrevista coletiva para esclarecer os fatos ocorridos na madrugada do último domingo (24), quando houve agressões e disparos.
A delegada Tatiana Neves, responsável pelo caso, falou sobre a questão do porte da arma de fogo pelo policial militar do Rio de Janeiro, que foi muito comentada nas redes sociais. Segundo a delegada, o porte de arma do policial militar é funcional, concedido em virtude das funções que ele desempenha, não sendo proibido pela lei do desarmamento e nem pelo decreto que regulamenta o estatuto. “Em hipótese alguma ele estava errado em portar a arma. Estamos apurando as responsabilidades criminais do ato praticado, o que deve ser levado em consideração no caso é a diferença entre crime e infração administrativa. Naquele momento ele não praticou porte de arma ilegal, então ele poderia estar armado. As normas brasileiras estão aí para esclarecer os fatos à população, tanto a Polícia Militar, como Civil e agentes penitenciários podem portar arma de fogo em locais públicos”, explicou Tatiana Neves.
Sobre Jaime Badaró, pessoa que efetuou os disparos, a delegada informou que foi lavrado auto de prisão em flagrante. Sobre a conduta do policial militar, a Polícia Civil está apurando a questão da lesão corporal. “A briga se iniciou porque teria alguém jogado água, o policial foi conversar com essa pessoa e acabou desferindo um tapa no rosto desse rapaz e aí começou a briga. Com relação a lesão corporal se chegaria a um homicídio na forma tentada, está sendo apurado, as pessoas estão sendo ouvidas. O agressor principal Bruno Daniel foi ouvido, o outro mora em Ipatinga e também será ouvido. Ele diz que agrediu o policial e o amigo, mas teria agido em legítima defesa, pois também foi agredido”.
A delegada esclareceu ainda que a boate não é obrigada a ter o cofre, e se tiver, precisa estar de acordo com as legislações da Polícia Federal. Mas conforme a lei, em locais que recebem acima de mil pessoas, o cofre deveria ser providenciado, o que não é o caso da Prime, que pela licença de funcionamento pode receber 766 pessoas. “Há entendimentos na doutrina que o cofre fora da regulamentação, a pessoa que guarda a arma estaria praticando um crime de porte ilegal, é bem temerário para o estabelecimento tomar esse tipo de atitude”.
POLÍCIA MILITAR
Segundo o major Márcio, em relação ao policiamento lançado no evento, a PM foi informada por ofício com a devida antecedência pela administração da boate Prime. Ele comentou que por ser particular, não é realizado policiamento na parte interna. “Disponibilizamos um policiamento nos arredores com objetivo de proteger as pessoas que ali visitam, estacionam seus veículos e assim evitar acontecimento de algum crime na área externa e dar apoio, pois naquele horário era o local que tinha maior concentração de pessoas da cidade. O policiamento estava nas proximidades e tão logo percebeu o acontecimento de algo diferente da normalidade, atuou em apoio aos seguranças da casa e deu toda assistência devida”, relatou o oficial.
Sobre a questão do porte de arma, o major explicou que o militar do Rio de Janeiro seguiu a mesma determinação adotada em Minas Gerais, ou seja, no local em que não há policiamento interno, e ele estar de porte da arma devidamente documentada, deve se apresentar ao segurança e informar que está portando a arma, o que segundo o oficial, foi feito nesse caso específico. “Com relação aos fatos, a corregedoria da PM do Rio de Janeiro foi noticiada de todos os acontecimentos e recebeu todas as informações através da própria delegacia, e nós também demos toda a assistência para que possam realizar a devida apuração dos fatos na seara administrativa se houver o caso de uma penalização por algum comportamento dele, dependendo do que for apurado ainda”.
BOMBEIRO MILITAR
Sobre as condições de funcionamento da boate Prime, o tenente Cruz, do Corpo de Bombeiro Militar, disse que foram procurados pelo proprietário para renovação da liberação do funcionamento no mês de fevereiro. “Foi realizada vistoria, olhados todos os meios preventivos, renovada a liberação. A boate, de acordo com as normas, está em condições de uso. Sobre o fato, as saídas de emergência funcionaram perfeitamente, a saída foi rápida. No Corpo de Bombeiros houve registro de apenas dois atendimentos pré-hospitalar, coisas simples, duas pessoas ficaram nervosas, estavam com sensação de desmaio e foram conduzidas para atendimento médico”.
A BOATE
A proprietária da boate Prime, Elisângela Campos Batista Soares, disse que foi um momento muito triste vivido no estabelecimento. “Naquela noite eu também estava comemorando meu aniversário e do meu filho de 18 anos. Era um momento muito especial pra nós, mas dos males o menor, não houve maiores danos, ninguém teve lesão grave. A boate desde sua fundação é uma casa que vem se preocupando muito com a segurança e bem-estar dos presentes”.
Elisângela informou que a casa possui dois detectores de metais, 15 rádios comunicadores e a segurança, que não é armada. “Na noite estavam presentes 20 seguranças. Eles se posicionam nos locais estratégicos, como cinco pessoas na entrada, dois perto dos lounges, um na entrada de cada camarote e os demais ficam circulando da área da pista. Pelo apelo midiático parece que foi um fato de grande proporção e é um fato que ocorreu entre as 3h02 da manhã e se encerrou às 3h05. Temos isso tudo devidamente comprovado no nosso circuito interno. A gente tem câmeras pelos principais locais da boate, e podemos disponibilizar para toda a sociedade para sanar qualquer dúvida”.
Ainda de acordo com a proprietária, no dia do fato circularam pela casa, aproximadamente 890 pessoas, o que em sua opinião gera essa polêmica de possível superlotação. “Nosso alvará de funcionamento tem capacidade para 766 pessoas, mas na boate as pessoas entram e saem, muitos nem permanecem durante o show, há uma circulação de pessoas. Temos um programa que quando chega o limite da capacidade mais pessoas não podem entrar, o controle é automático. Falaram que as portas da boate foram fechadas, isso não aconteceu, no momento todos ficaram em pânico, inclusive eu e minha família, até entendermos o que estava acontecendo a orientação da segurança é abrir as portas de emergência e isso está gravado nas imagens, as duas foram abertas. Nossa equipe de limpeza entrou dois minutos após o fato, o primeiro tapa do policial ocorreu 3h02, a chegada do segurança foi às 3h03. O Jaime deu o primeiro tiro às 3h03, às 3h05, já foi abordado pelo primeiro policial, para terem noção como foi rápida a atuação da Polícia Militar. Foi um fato atípico, a questão dos policiais estarem armados em nosso estabelecimento é até muito bem vindo, porque é uma segurança. Foi uma fatalidade, o tiro não foi disparado pelo policial e esperamos dar um basta nessa situação. Sobre os cofres, a arma é de porte e posse do policial, respeitamos a lei federal que normatiza a questão, como advogada falo com propriedade que não há essa obrigatoriedade por parte da casa e nem pode ser impedido de estar armado, desde que apresente sua carteira funcional”.
Elisângela concluiu afirmando que a boate continua suas atividades, esperando que as pessoas continuem tendo confiança nos serviços ali prestados. “Há muitos anos era esperada uma casa noturna em Caratinga, como somos empreendedores houve essa oportunidade, foi muito bem aceita pela população. Esperamos que esse fato isolado não macule nossa imagem, fazemos tudo com muito zelo. Temos em torno de 500 pessoas que saíram com comandas abertas, mas o mais importante no momento não é isso, esperamos que tudo volte ao normal”, finalizou a proprietária.