Gestores dos 13 municípios da microrregião elaboram manifesto e programam visita ao governo do Estado
CARATINGA – Na tarde de ontem, o presidente da mesa diretora do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora (HNSA), dom Emanuel Messias de Oliveira e a diretora administrativa Suély Pereira de Souza concederam nova coletiva à imprensa, para atualizar a situação do hospital. Também foram convidados a participarem os gestores ou representantes dos 13 municípios que compõe a microrregião de atendimento: Caratinga, Piedade de Caratinga, São Domingos das Dores, Santa Rita de Minas, Santa Bárbara do Leste, Ubaporanga, Bom Jesus do Galho, Vermelho Novo, Imbé de Minas, Inhapim, São Sebastião do Anta, Vargem Alegre e Entre Folhas; o que totaliza uma população estimada de 250 mil habitantes.
Mais uma vez, a presença dos gestores municipais foi mínima, contrariando o esperado diante de uma situação de urgência. O encontro serviu para formalizar um documento oficial ser encaminhado ao governo de Minas Gerais, manifestando “indignação e solicitação junto ao Estado”, de uma contratualização de R$ 2.780.000 para custeio mensal do hospital. O documento foi assinado pelo provedor do HNSA, padre José Antônio Nogueira, juntamente com os representantes dos municípios.
O hospital enfrenta grave crise financeira, com déficit mensal aproximado de R$ 1.640.000. Hoje, o gasto mensal é de aproximadamente R$ 2.870.0000. O Estado, através da Secretaria Estadual de Saúde, informou que o hospital receberá de verba do Pro-Hosp um incentivo, durante todo o ano de 2016 no valor de R$ 1.103.279,67, pagos em três parcelas, sendo que a primeira foi efetuada no dia 3 de agosto e a segunda já estaria comandada pela área técnica.
Segundo dom Emanuel, o hospital não tem saída. Caso não haja contratualização por parte do Estado, a paralisação será inevitável. Os médicos deram dois meses para que o hospital regularizasse sua situação e pudesse pagar os salários atrasados, no entanto, este prazo está se aproximando do fim, previsto para o dia 10 de setembro. “Precisamos de uma contratualização com urgência, do contrário teremos que parar. Os médicos vão parar, os fornecedores não estão recebendo, então simplesmente teremos que obedecer. Estamos falando de paralisação, há uma diferença entre paralisar e fechar. Ninguém quer fechar o hospital, nem paralisar, mas estamos sendo obrigados, porque estamos em uma situação, onde não temos recurso nenhum. É um hospital centenário, que sempre funcionou, com muita dificuldade e o Estado está sendo omisso. Não só o Estado, mas todos os nossos deputados, relacionados com Caratinga diretamente e municípios da microrregião”.
Além do manifesto que será encaminhado ao governo do estado, os representantes dos municípios da microrregião foram convidados a se unirem, indo até a capital mineira pressionar as autoridades. “O Estado vai gastar muito mais se nós paralisarmos do que se fizer o aporte financeiro. Se uma pessoa pobre vem aqui, precisa de uma urgência e o hospital não atende, ele vai apelar para a Promotoria, que obriga o hospital a dar um jeito. O hospital decide, por exemplo, mandar para o Hospital Cesar Leite (em Manhuaçu), fica tudo por conta do estado, com juro diário. Fica muito mais caro. Nos próximos dias vou agendar uma reunião com o governo do Estado para definir o futuro do hospital”.
Ao se debater a liberação do aporte financeiro na Comissão Intergestores Bipartite (CIB), durante a última reunião realizada em agosto deste ano, concluiu-se que por se tratar de ano eleitoral, a deliberação sobre a liberação das verbas só poderá ser retomada em janeiro de 2017. Para dom Emanuel, se torna impossível para o hospital esperar esse prazo. “Estamos aqui em defesa da vida, não em defesa da lei. O que se torna extremamente necessário neste momento é a contratualização do estado de Minas Gerais com o HNSA, onde o Estado assumiria o compromisso de fazer aportes financeiros mensais em favor do HNSA, custeando as obrigações financeiras e os serviços do hospital. Sem isso, o hospital não tem mais condições de continuar funcionando, sendo obrigado a paralisar suas atividades”.
O manifesto ainda deixa claro que o HNSA e municípios requerem, em caráter de urgência, que seja feito de imediato, a contratualização e definição de “onde serão referenciados os pacientes da microrregião, ante a iminente paralisação do hospital”.
“Não temos condições mínimas de atender”
A diretora administrativa do HNSA, Suély Pereira, acrescenta que o hospital está sendo paralisado aos poucos. A situação é tão caótica, que o hospital não tem o diagnóstico necessário para os médicos receberem os pacientes. “Não temos raio X, tomografia, laboratório e pra agravar temos débitos com os fornecedores de medicamentos, que estão negando nos entregar. Como vamos receber os pacientes? E os profissionais não querem receber também, porque não têm esse apoio de diagnóstico. O que chega de emergência aqui, não temos condição mínima de atender e receber os pacientes de urgência no hospital. Se chegar aqui, dependendo da situação, vai morrer. Isso é muito triste, um hospital dessa importância paralisar. Não temos condições de continuar atendendo, a não ser que queiramos recebê-los sabendo que eles vão morrer aqui. Essa é a realidade.”
Suély ainda explica que o hospital atualmente não conta com instrumental básico, como luvas. Em todos os setores, o cenário é bastante preocupante. “Cada dia para um serviço. Por exemplo, a tomografia precisa de R$ 300 mil para consertar o aparelho. Na maternidade, os obstetras já sinalizaram a paralisação também por falta de pagamento. Hoje já não temos internistas na casa, por falta de pagamento. A UTI neonatal e adulto está funcionando precariamente, primeiro, por falta de profissionais e segundo de medicamentos. Hoje, se tivermos um paciente que precisa da UTI teremos que ver como fazer para colocar o paciente lá. Temos os leitos, mas não temos os profissionais e os medicamentos suficientes”.