*Eugênio Maria Gomes
Não é fácil escrever. Não me refiro apenas às dificuldades práticas envolvidas nessa tão complexa Arte – dificuldades econômicas, dificuldades com o domínio desse nosso maravilhoso mas complexo idioma lusitano, dificuldades com editoração, edição, publicação, divulgação…Enfim, dificuldades sem fim… Refiro-me à dificuldade de transformar ideias, sentimentos, análises e observações – captadas por nossos sentidos ou frutos de nossas emoções -, em palavras e arranjos que possam ser compreendidos pelo leitor. Que possam chegar ao seu coração, fazê-lo mudar o rumo de sua vida, alterar sua percepção de mundo, às vezes, até transformá-lo enquanto ser humano.
Escrever, não é apenas concatenar palavras, transpor para uma folha de papel ou para um software de edição de textos o que nos vem à cabeça. Escrever é transformar o que sentimos e pensamos, em uma composição que seja inteligível para o leitor, que produza nele, os mesmos sentimentos que estiveram na origem do texto produzido.
Os textos literários, não importa a modalidade de literatura – épica, lírica, dramática ou ficcional -, buscam sempre, invariavelmente, fazer chegar ao leitor, um pouco da essência do escritor. E todo escritor, um artista por excelência, necessita do leitor. Como nas demais Artes, a Literatura só se completa, só cumpre a sua função, quando há plateia, quando há destinatários, quando alguém, em algum lugar, capta, ainda que de forma muito peculiar e particular, aquilo que o Escritor escreveu.
E Como é difícil, hoje, encontrarmos expectadores, leitores de nossas obras. Nunca se publicou tantos livros, mas ainda se lê muito pouco, na verdade quase nada. Poucos, na atualidade, apreciam, em um dia frio, em um lugar confortável, ler um livro, deliciar-se com as infinitas possibilidades que se encontram naquela sem suas linhas…
Tempos de consumo imediatista, de cultura de enciclopédias digitais, de perguntas simples e de necessidade de encontrar respostas simplórias. Não é por acaso, que vivemos um momento de enorme pobreza artística. Poucos conseguem ler um texto de mais de duas folhas. Poucos conseguem se debruçar sobre os clássicos. Espantam-se com seu “volume”, mal compreendem uma sintaxe mais elaborada, cansam-se com as palavras mais eruditas. Enfim, hoje, o retrato da falta de cultura do cidadão médio, pode ser encontrado facilmente, apenas saindo à Rua e olhando ao nosso redor, ou assistindo a uma penosa e atemorizante sessão de telejornal diário.
Sim. Nossos problemas atuais, quase a maior parte, são fruto de nossa falta de cultura, de não termos lido mais, de não termos aprendido mais, de não termos evoluído intelectualmente, de sermos, hoje, infelizmente, uma sociedade extremamente pobre culturalmente.
Será que a sociedade de hoje não é retratada em parte em “Crime e Castigo”, de Dostoievski? Como concluir que “viver é negócio perigoso” sem conhecer a trajetória de Riobaldo, de Guimarães Rosa? Como entender o ciúme, sem as maravilhosa narrativa de Victor Hugo? Ou compreender questões como imortalidade, perfeição, juventude eterna e moralidade sem ler o “Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde? Ou ainda, como entender a base da desigualdade social do Brasil sem os textos de Gilberto Freire? Não é possível. Não se encontrarão as respostas nos sites de busca da internet…
Navegar é preciso…Ler é preciso. Viver é preciso… Aprender é preciso!
Se pretendemos usufruir das dores e das delicias de evoluirmos para um patamar intelectual que torne nossa vida significativa, que permita-nos expressar e desenvolver todas as nossas potencialidades, transformando nossas vidas, a vida ao nosso redor, a vida dos nossos semelhantes e toda a nossa sociedade, dignificando nossa existência neste plano e legitimando nossa superioridade enquanto espécie, só há uma alternativa: Ler! Só há um instrumento: o Livro!
Neste 25 de Julho, Dia do Escritor, recebam nossos parabéns todos aqueles que se lançaram nesta difícil Arte de disseminar ideias, de tocar corações, de mudar rumos, de combinar palavras e rimas, textos e imagens.
Sigo a minha sina, de escritor em construção, de obra inacabada, em constante mutação. Sigo apaixonado pelo que faço e cada vez mais convicto de que, MAIS QUE LIVROS, ESCREVO IDEIAS!
Feliz dia do Escritor!
*Eugênio Maria Gomes é escritor.