Filha de caratinguense, Maria Luiza Mendonça é coroada Miss Brazil Model
DA REDAÇÃO – “A beleza quando é demais, machuca”, essa é uma das frases soltas do filme “Beleza Roubada” (1996), de Bernardo Bertolucci. Mas a beleza de Maria Luiza Mendonça não é roubada e não machuca. Sua beleza é herdada, fruto do amor do caratinguense Egberto de Carvalho e da rio-clarense Telma Regina Bastos. A família vive em Goiânia (GO). Sua cultura, educação e simpatia as tornam ainda mais bela e foram fundamentais para que ela fosse coroada Miss Brazil Model, concurso realizado entre os dias 22 e 24 de setembro, em São Paulo (SP), e que reuniu concorrentes de vários estados do país.
O CONCURSO
Sobre o Miss Brazil Model, esse concurso vem sendo trabalhado desde 1998 e já é considerado um marco para as passarelas, pois o concurso é baseado em diferenciais, e o primeiro objetivo é oferecer oportunidades amplas às jovens que atuam na área de modelo. Neste concurso, a altura e estado civil deixam de ser obstáculos às pretensões destas jovens de 15 a 28 anos.
TRAJETÓRIA
Maria Luiza Mendonça nasceu em 14 de dezembro de 2000, em Goiânia (GO). Na infância e adolescência se sentia um pouco ‘patinho feio’. Mas no florescer de sua juventude, começou a trabalhar como modelo e em 2022 tornou-se Miss Goiânia Model e ainda neste ano, ganhou o concurso estadual. Em sua carreira de modelo, já participou de desfiles na Fashion Week goiana, além de eventos em shoppings. Fez um ensaio de moda muito elogiado para Revista Atitude. Ela gosta de cultura, em especial de Shakespeare, e é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Para manter a forma, pratica pole dance. Para ela, ser modelo e miss, representa muito mais: “Acredito que todo corpo é político e quando você trabalha com algo que inspira e representa pessoas é ainda mais importante você saber de que deve sim lutar contra as injustiças”.
O contato para essa entrevista foi feito, via WhatsApp, na quinta-feira (28/9). Polidamente, ela atendeu ao DIÁRIO e ficou muito satisfeita. As perguntas foram enviadas às 15h52. Maria Luiza tinha tempo para responder, porém, às 17h19 do mesmo dia, as respostas chegaram. “Eu escrevo rápido graças à faculdade”, brincou Maria Luiza.
Vale destacar que quem avisou à redação do DIÁRIO sobre essa conquista de Maria Luiza, foi seu pai Egberto de Carvalho. “Filha de caratinguense é Miss Brazil Model”, disse de imediato. Ele ainda contou um pouco de sua vida e mostrou ser um paizão: “Me formei em Engenharia Civil em 1977. Vim para Goiás em 1992. Como trabalhava muito nos trechos, eu e a Telma optamos em não ter filhos. Quando fiquei mais estabilizado em Goiânia, aí veio a Maria Luiza. Hoje tenho 72 anos e ela, 22. Graças essa filha maravilhosa, que quando a vi no berçário comecei a babar e estou babando até hoje”, disse o orgulhoso papai Egberto, que mais uma vez enfatizou: “Maria Luiza é maravilhosa”.
William Shakespeare escreveu: “Ó beleza! Onde está tua verdade?”. A resposta é simples: a beleza está em Maria Luiza Mendonça, uma pessoa que sabe que a aparência não seria nada sem a solidez de caráter e o conhecimento adquirido e posto em prática no decorrer da vida. “Se divirta e seja feliz!”, eis o conselho da Maria Luiza.
“Dos mais belos seres, queremos mais, de tal forma que não finde jamais a rosa da beleza, mas enquanto as mais maduras decrescem com o tempo, seus rebentos jovens possam relembrar suas memórias: Mas tu, contratada a seus lindos olhos, és autossuficiente na luz de tua chama com tua beleza…”. O bardo inglês parece que anteviu a presença de Maria Luiza neste planeta.
A ENTREVISTA
Você começou sua carreira de modelo em 2022. Depois foi eleita Miss Goiânia Model. Agora já venceu esse importante concurso de beleza. Digamos, é uma carreira meteórica?
Eu comecei minha carreira levando tudo como diversão, nunca pensei que chegaria onde cheguei. Quando me mandaram mensagem me chamando para ser modelo e comecei a fazer desfiles em Goiânia eu não esperava chegar muito longe, quando com o passar do tempo fui crescendo de pouco em pouco e fui convidada a participar do meu primeiro concurso e ano passado consegui o título estadual. Muitas vezes pensei em desistir, pois eu não pensava ser alta o suficiente ou estar aos 22 anos um pouco atrasada para perseguir uma carreira que geralmente se inicia tão cedo em muitos casos, mas sempre iam aparecendo oportunidades para mim que me faziam no final não querer largar meus sonhos.
Se sente mais à vontade nas fotos de estúdio, como no ensaio para a Revista Atitude, ou nas passarelas? Qual a diferença de um espaço para outro? Onde se senta mais à vontade?
Eu tenho um carinho muito grande pela passarela, mas tento lidar com o fato de que estou bem na margem de altura mínima para trabalhar na área, então tento me dedicar ás fotos ao máximo. Tenho muita facilidade nos estúdios, por mim passaria horas e mais horas ali. Os dois exigem muita concentração e treino. Tive bastante dificuldade nas primeiras aulas de passarela, já até sai chorando de algumas e admito que tive que treinar muito para conseguir o resultado que queria, já que na passarela não há espaço para erros e muitas regras a se seguir enquanto nas fotos em estúdios sempre é possível escolher entre várias fotos e tentar de novo se algo saiu errado.
Para quem te vê, logo imagina que segue uma dieta rigorosa. É isso mesmo? Qual é sua dieta e qual comida ou bebida que te faz sair da dieta?
Muito pelo contrário, eu tento não ser tão rigorosa neste assunto. Obviamente desde que comecei minha carreira passei a tentar a não exagerar em nada, mas continuo comendo um pouco de tudo e bem menos salada do que as pessoas imaginam. Já cheguei em muitos lugares com pessoas preocupadas com o que eu iria comer, mas não tenho problema em comer uma besteirinha, só não como na quantidade que comia antes. Hoje procuro muito mais comer saudável pela minha saúde do que para me manter magra e minha maior dificuldade é me manter longe de chocolate.
O que você gosta de fazer no seu tempo livre e o que teve de abdicar para se dedicar à carreira?
Eu sou uma pessoa bem mais caseira, então adoro ficar em casa assistindo séries ou lendo livros, algo que eu faço muito desde a adolescência. Gosto de sair só se for com minhas amigas para o shopping ou restaurantes. Mas no meio do ano passado quando minha carreira estava muito ativa e estava escrevendo meu TCC, meu tempo livre eram os intervalos durante as aulas de passarela com minhas amigas modelos e tive que abdicar de muita coisa para focar nas coisas que queria.
Como foi sua preparação para o concurso Miss Brazil Model?
Eu venho me preparando desde que venci o concurso estadual no ano passado, minha passarela já estava muito boa, pois preparei muito bem ela antes do Miss Goiás Model, mas continuei treinando. Também cuidei dos meus dentes para manter um sorriso mais bonito e continuei meus cuidados com a pele e cabelo, algo que eu faço desde minha pré-adolescência. Mas acima de tudo me preparei psicologicamente com minha família, meu coordenador estadual Leôncio Nunes, minha assessora Sabrina Vilela, meus amigos e minha psicóloga para tudo que eu iria enfrentar.
Em sua avaliação, qual foi o diferencial para vencer esse concurso?
Eu estava muito insegura, realmente não pensei que seria capaz de ganhar, pois as outras meninas eram muito mais bonitas, mas para ser uma miss não basta só beleza. A simpatia, educação e elegância ajudam muito, durante todo o concurso e contado com os jurados fui muito honesta e humilde, não é possível levar a coroa para casa sem esses atributos e acredito que minha passarela foi muito boa, já que foi muito elogiada.
O que sentiu quando foi anunciada como vencedora do Miss Brazil Model?
Eu estava muito nervosa, como eu disse, eu realmente não pensei que iria ganhar, embora acreditava que seria capaz de ganhar algum lugar no pódio. Minhas pernas tremiam tanto que nem sei como consegui ficar em pé e quando chamaram meu nome nem consegui chorar de tanto choque. Foi um misto de emoções muito forte e acho que até agora não caiu a ficha.
“Uma miss é mais do que beleza, é um corpo político”, disse Maria Brechane, Miss Universo Brasil 2023. A miss torna-se uma voz a ser ouvida. Você defende quais bandeira e por que?
Acho esta fala importantíssima, acredito que todo corpo é político e quando você trabalha com algo que inspira e representa pessoas é ainda mais importante você saber de que deve sim lutar contra as injustiças. Estou sempre aberta para aprender mais deste assunto e acho que devo usar meu lugar privilegiado para lutar pelas pautas sociais que acredito. Levanto principalmente as bandeiras das causas feministas, dos LGBTQIAPN+ e contra o racismo. Agora pra frente que ser mais ativa na luta e usar minha voz de forma ativa, já falo inclusive de alguns tema feministas na minha pesquisa da faculdade.
Você é muito bem instruída, formada em Artes Visuais pela UFG, tem uma carreira de modelo consolidada. Em sua avaliação, como a sociedade encara mulheres de sucesso como você?
Embora eu tenha muitos privilégios, é impossível não falar sobre o quanto a sociedade encara mulheres de sucesso de maneira tão discriminatória. Dentro da minha própria faculdade e do meu ramo profissional de modelo, posso citar diversos momentos que eu ou minhas amigas foram vítimas diretas do machismo. É extremamente triste quantas incríveis colegas artistas minhas nunca tiveram o reconhecimento de maneira tão fácil do que certos homens do nosso ramo que não possuíam metade de seu currículo teórico ou talento e dedicação. Além disso, a carreira de modelo é vista como algo fútil para nós mulheres, a sociedade espera que sejamos bonitas e perfeitas, mas também abomina quando abraçamos nossa feminidade.
Falando de sua formação, Artes Visuais, que é o conjunto de artes que tem a visão como principal forma de avaliação e apreensão. Qual dessas artes você mais gosta? Você tem algum projeto nessa área?
Durante meu curso pude explorar diversas formas de se fazer arte, algo que sou apaixonada desde pequena, já fiz aulas de pintura, teatro, canto e piano, além de ser fluente em inglês. Minha pesquisa durante o curso foi focada na fotografia, em uma junção de literatura, teatro, música, pintura e moda, onde produzi principalmente sobre os temas de feminidade, natureza, moda e a personagem Ofélia de Shakespeare.
Por que Ofélia? E não a apaixonada e ousada Julieta ou Desdêmoma de Otelo ou a ambiciosa Lady MacBeth? Sem falar de Catarina, a Megera Domada.
Essa é a pergunta que mais respondi durante minha pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso. Ofélia surge de uma ideia estética de um ensaio fotográfico que produzi durante minha disciplina de Fotografia: mulheres deitadas em água em meio à flores. Durante todo minha vida as mulheres foram muito importantes para mim, em especial na história da minha família que me inspiraram a lutar tanto pelos direitos das mesmas. Em especial, tenho minha avó que por ironia do destino também se chama Ofélia e de certa forma é homenageada na minha pesquisa, sendo a dedicatória de meu TCC para ela. A Ofélia de Shakespeare é vista pela crítica literária como apenas uma personagem que está ali para a narrativa masculina do livro, mas os artistas são tão apaixonados por ela que a transformaram na personagem de Shakespeare mais representada nas artes visuais, roubando assim para si o protagonismo masculino de Hamlet, enquanto discute temas como a feminilidade, a loucura, a morte e a ligação com a natureza.
Ao longo da sua vida, sua beleza te atrapalhou ou te ajudou?
Na verdade, quando eu era mais nova eu não era considerada pelos meus coleguinhas uma criança e pré-adolescente bonita, então cresci ouvindo coisas que me fizeram bastante insegura. Todos os comentários maldosos me fizeram procurar na maquiagem e cuidados da pele e de cabelo como saída para agradar os outros, porém eu acabei encontrando uma verdadeira terapia nisso já que hoje eu adoro cuidar de mim mesma.
Agora, a pergunta inevitável, poderia nos contar sua ligação Caratinga? Você conhece a cidade?
Minha família por parte de pai é da cidade. Meu pai cresceu em Caratinga com os irmãos dele, mas hoje eu não possuo mais parentes na cidade, então nunca cheguei a visitar a cidade, embora já tenha ido a Minas Gerais várias vezes. Com certeza tenho muita vontade de conhecer Caratinga.
Já que falamos de sua família. Não poderíamos deixar comentar o quanto ela é importante pra você e o alicerce para sua carreira.
Meus pais sempre me apoiaram em tudo que quis fazer desde pequena, nunca me forçaram a seguir uma carreira “normal” ou me disseram que não deveria gostar de artes ou moda. Eu agradeço muito a eles por todo apoio, meu pai por todas as lagrimas de orgulho e minha mãe por ficar sentada me esperando durante todas minhas aulas de modelo e artes. Também sou muito grata a todos meus tios, primos e minha avó que me ajudaram da forma que podiam e sempre me apoiaram.
Qual conselho daria para as meninas que sonham em entrar para o mundo da moda e dos concursos de beleza?
Se dediquem muito, não é apenas uma questão de ser bonita e sim de muito treino e preparo físico e psicológico. Você precisa acreditar em você mesma e saber quais comentários você deve ouvir para melhorar e quais são os que vão somente te botar para baixo. Nunca perca sua humildade e educação, seu coração bom vai ser o que mais vai te ajudar nesta jornada. E acima de tudo: se divirta e seja feliz!
Ofélia é uma personagem da clássica tragédia escrita por William Shakespeare e publicada entre 1599 e 1601. Ela era uma jovem rodeada por dúvidas existenciais, vivendo a expectativa do casamento com o príncipe Hamlet, que cria repulsa pelo ser feminino após se decepcionar com a atitude de sua mãe que se casa com seu tio após a morte de seu pai. Hamlet nega o amor de Ofélia e ela vai à loucura.
Ofélia virou um ícone pop graças as várias representações dela na pintura. Vamos a alguns exemplos: O quadro ‘Ofélia’, de Sir John Everett Millais (1851). No filme ‘Melancolia’ (2011), de Lars von Trier, a personagem Justine (Kristen Dunst), em uma cena, faz referência a Ofélia. E a música pop também, caso do grupo The Lumineers, que em 2016 lançou uma canção chamada “Ophelia”.
“A Ofélia de Shakespeare é vista pela crítica literária como apenas uma personagem que está ali para a narrativa masculina do livro, mas os artistas são tão apaixonados por ela que a transformaram na personagem de Shakespeare mais representada nas artes visuais, roubando assim para si o protagonismo masculino de Hamlet, enquanto discute temas como a feminilidade, a loucura, a morte e a ligação com a natureza”, explica Maria Luiza Mendonça.