Garoto morava com os bisavós, família nega falta de cuidados. Conselho Tutelar e Assistência Social afirmam que acompanhavam o caso
SANTA RITA DE MINAS– A morte de um bebê de apenas três meses de idade com quadro de desnutrição e anemia grave repercutiu nas redes socais ness
e último final de semana. P.V.G. morava com os bisavós, pois segundo informações de familiares, Jaína Gomides, 20 anos, mãe do garoto, lhe deixou sob os cuidados do casal. Ela morava em outra cidade, quando descobriu a gravidez veio morar com familiares em Santa Rita de Minas, no entanto, depois decidiu sair da casa.
No sábado (6), duas moradoras da cidade encaminharam o bebê até Caratinga para atendimento médico. Uma delas postou nas redes sociais que o garoto foi encontrado “morrendo de fome”. Elas teriam procurado a Polícia Militar e em seguida o bebê foi internado no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, onde faleceu no dia seguinte. Muitas foram as críticas em relação aos cuidados que os familiares tiveram com o bebê e o acompanhamento do Conselho Tutelar e Assistência Social. O DIÁRIO esteve na cidade e buscou informações sobre este caso.
‘NADA DISSO ACONTECEU’
A Reportagem esteve na casa dos bisavós de P.V.G, onde acontecia o velório do bebê. Uma tia aceitou dar a versão da família sobre o assunto, mas preferiu não se identificar. Ela nega que faltaram cuidados com o garoto. “O menino não morreu de fome, nada disso aconteceu. Toda a vizinhança está revoltada com essas informações. A assistência social deu uma latinha de leite para ele, o resto era o povo que ajudava. Faltava um leite, eu que ia atrás porque meu pai e minha mãe já são de idade, eu levava ele no pediatra, tenho as receitas e exames dele. Ele deu anemia, no dia que o pediatra daqui encaminhou para o UPA (Unidade de Pronto Atendimento) era para ter ficado internado, mas o médico lá mandou o menino para casa. Não temos culpa de nada, a gente dava os remédios, vitamina, sulfato ferroso”.
A mulher ainda relata que o bebê nasceu com problemas de baixo peso. A família teria dado assistência a
pesar da ausência da mãe do menino. “Eles estão contando de um jeito, mas não vieram saber primeiro de nós o que estava acontecendo. Ele já nasceu doente, não é agora que ficou assim por falta de cuidado. Todo mundo estava ajudando a cuidar, a vizinhança nossa mesma vinha aqui quando eu não podia dar o banho no menino. A mãe dele abandonou ele pequenininho e ficou com a minha mãe novinho. Ela abandonou ele, o que a gente ia fazer, jogar ele na rua? Tinha que cuidar dele e agora estamos sentidos porque estão falando da gente”.
Segundo a tia, P.N.V. foi internado por pessoas “estranhas”, sem o conhecimento da família. “Levaram ele sem documento, porque como a mãe dele é meio ‘descabeciada’, o documento dele ficava na minha casa. Ao invés de irem atrás de mim para pegar o documento e internar o menino, passaram com ele na delegacia, para depois levar para o hospital. Já fizeram errado nisso, duas mulheres que estavam com ele que nem são da família, nós nem conhecemos. Pegaram o menino aqui dentro de casa, mas estamos na nossa, contaram a história que elas quiseram. Mas, não foi o que aconteceu”.
CONSELHO TUTELAR
A conselheira tutelar Alessandra Maria de Paulo, acompanha o caso de Jaína desde a sua gravidez. Ela afirma que o Conselho deu todo o suporte necessário. “Quando a Jaína chegou aqui aparentemente não sabia que estava grávida, depois quando veio nos procurar novamente já havia constatado a gravidez, mas não sabia de quanto tempo, mas a barriga já estava bem grandinha. Começamos a conversar com ela, fazer visitas, mesmo ela sendo maior de idade, devido aos antecedentes dela. Marcamos médico para ela começar a fazer o pré-natal, explicamos sobre a responsabilidade em cuidar desse bebê, perguntamos pelo pai, ela não soube nos dizer. Mas, a todo o momento ela nos procurava para marcar as consultas até o nascimento do bebê”.
Alessandra afirma que ao contrário do que foi divulgado nas redes sociais, os bisavós não tinham a guarda da criança. “Ela veio morar com os avós. Conversamos com eles e os tios, que disseram que iriam ajudar a cuidar. Os bisavós do neném já cuidavam dela, porque quando ela estava fora às vezes vinha para cá e ficava na casa deles. Eles disseram que iriam acolher e cuidar do neto. A informação de que os bisavós tinham a guarda não procede, eles estavam cuidando porque a mãe saiu de casa e deixou aos cuidados deles”.
Janiele de Souza Marques, que também faz parte do conselho tutelar destaca que a desnutrição do bebê era acompanhada pela equipe. “É obrigação do Conselho acompanhar a criança desde a barriga da mãe. Ela não havia feito acompanhamento médico, creio que pré-natal também não, tanto é que a criança já nasceu com alguns problemas de saúde, já nasceu fraquinha. Então começamos a auxiliar ela nos exames e logo após o nascimento da criança começamos também junto com a família. Além dos bisavós, o bebê também tinha o acompanhamento da tia, então não estava totalmente desamparada. Quando a criança tinha mais ou menos um mês de vida, a Jaína começou a se recusar a amamentar, pois dizia que fazia o uso de bebida alcóolica, acredito que por causa disso ele foi começando a ficar fraquinho. Começamos a pedir ajuda para dar o leite para essa criança e o conseguimos a doação de latas de leite, a assistência social também nos ajudou em relação a isso, porque é uma família simples e não tinha condições de arcar com o custo do leite”.
Mas, segundo Jainiele, a família não estava dando a dosagem certa do leite para o bebê, o que pode ter agravado o seu quadro de desnutrição. “Auxiliamos também na amamentação dessa criança porque houve ainda um fato de que eles não estavam dando corretamente o leite para essa criança. E o conselho tutelar faz as visitas, mas não tem como ficar pela demanda da cidade acompanhando 100% todos os dias. As visitas eram feitas semanalmente, agentes de saúde também, mas a dosagem do leite estava errada, por isso a criança não ganhava peso”.
A conselheira lamenta a morte do garoto, mas garante que o órgão agiu dentro de suas funções. “Infelizmente não temos o controle de tudo, muitas vezes somos criticados, mas o Conselho funciona também com a ajuda do Ministério Público, da promotoria. Nem tudo está em nossas mãos, as pessoas alegando muito porque não tiramos essa criança da família, mas não é obrigação nossa em decidir em relação a isso. Fazemos o que está de acordo com nossa competência. Mas, fizemos o que foi possível, infelizmente ela faleceu”.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
O secretário de Assistência e Desenvolvimento Social Ébio Altivo também falou sobre a ação conjunta com o conselho tutelar para atendimento a esta família. “O trabalho nosso foi liberar o carro para marcarem consulta e acompanhar a família; quando fomos acionados liberamos o NAN da criança. Como população de Santa Rita estamos tristes, não só como gestor, mas, dentro do que pudemos ajudamos, auxiliamos no funeral da criança. Não vamos também culpar a família, não é hora de apontar erros, mas dar condolências aos familiares e mostrar que também estamos entristecidos. Teve ajuda, mas infelizmente a criança veio a óbito”.
OS ATENDIMENTOS
O DIÁRIO DE CARATINGA entrou em contato com a Prefeitura de Caratinga, que afirmou que o bebê foi atendido na UPA (Unidade de Pronto Atendimentno) no dia 12 de dezembro de 2017. “Deu entrada na às 16h e foi embora às 19h após ser atendido pelo Dr. Jonas Hintze Filho, que realizou atendimento e prescreveu receita e orientações médicas. Na ocasião o quadro foi de anemia e desidratação, conforme consta no prontuário de atendimento”.
A reportagem também pediu uma nota de esclarecimento ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.