BAIRRO DAS GRAÇAS: UMA HISTÓRIA DE SUCESSO

Elenco do Bairro das Graças em 1955: Mundinho, Niquita, Bretas, João Pereira, Plínio, Faraedes, Abel Teixeira, Zé Rezende, Kardec, Niltinho, Sebastião Rezende, Monoelzinho e Sô Ênio (foto: Arquivo)

O Bairro das Graças, indiscutivelmente, é um dos bairros mais aprazíveis e simpáticos da cidade de Caratinga. Famílias tradicionais e empreendedores construíram uma comunidade forte, recheada de personagens que contribuíram muito para a história de nossa cidade em diversos setores e atividades. Quando o assunto é futebol, a contribuição é igualmente importante.

Bairro das Graças Futebol Clube é gigante

 

Segundo o livro ‘Memória Esportiva’, escrito pelo saudoso Nelson Souza e o professor Monir Ali Saygli, na década de 50 o desportista Emílio Teixeira de Siqueira fundou o Bairro das Graças Futebol Clube. Três dos melhores craques do time (Abel, o goleiro Mundinho e Niltinho) eram filhos do fundador. Nos anos cinquenta, a Liga Caratinguense de Desportos não existia, as competições eram promovidas pela LAF (Liga Amadora de Futebol). Em 1955, o BG decidiu o título contra o Esporte Clube Caratinga e ficou vice-campeonato com a seguinte formação: Mundinho, Niquita, Bretas, João Pereira, Sô Ênio, Sô Hélio, Abel Teixeira, Cardeck, Zé Rezende, Niltinho, Sebatião Rezende, Faraídes Ruy e Samarico. Na grande decisão, o Bairro perdeu para o Esporte Clube Caratinga por 5 a 4. Entretanto, Abel Teixeira considerado um dos maiores craques da história do clube, fez três gols contra o Dragão.

Primeiro campo
O fundador do clube Emílio Teixeira, também foi responsável pelo primeiro campo ás margens da BR-116. O campo ficava onde atualmente é um posto de gasolina e parte da unidade II da UNEC. Anos depois, houve uma negociação com o Dr. Fábio Geraldino de Macedo, engenheiro chefe do Posto Agropecuário, o campo foi transferido para outro local, conhecido como Beira-Rio.
Em 1965, aconteceu o primeiro Campeonato oficial promovido pela Liga Caratinguense de Desportos, o Bairro das Graças, apesar de sua tradição e time forte, não era filiado a LCD. Porém, como tinha um ótimo plantel, foi convidado para uma fusão com o 1º de Maio Futebol Clube, que tinha todos os documentos em dia para disputar o primeiro campeonato da LCD, certame que o time alvinegro do Bairro Aparecida acabou conquistando contra o Esporte Clube Caratinga. Animado pela conquista, Abel Teixeira resolveu regularizar a documentação do BG, outros desportistas aderiram ao clube: Valdir Correia, Carlos Onofre, José Corrêa, Juquita, Gerson e José Onofre do Santos “Zé Camelô”.
Timaço campeão de 1987

Baleia Bicampeão

Me lembro muito bem a primeira vez que ouvi o nome Baleia, como sendo referência de mascote do Bairro da Graças, foi ouvindo as transmissões da Rádio Caratinga AM 970, em jogos narrados pelo saudoso Jota Baranda. O primeiro título da era LCD, foi em 1987, vencendo o Bela Vista de Piedade de Caratinga pelo placar de 3 a 0. O time ainda teve o artilheiro da competição, Sula, que marcou 14 gols no certame. O time titular tinha: Amarildo, Jaburu, Anísio, Edervane, César, Mauro, Rafael, Buna, Fabinho, Sula e Carlinhos Marcelino. O elenco ainda contava com Piquinho, Ivan, Pelezinho, Toninho e Simplício. Zé Canuta era o técnico. Esse time também venceu o Torneio do Povo.
O Campeonato promovido pela Liga Caratinguense de Desportos ficou paralisado por seis anos. De 1996 até 2002. Um dos desportistas que tive a iniciativa ao final de 2001 para que voltássemos a ter um certame, foi exatamente José Onofre dos Santos. Zé Camelô, ao lado de Jorginho Mixidinho, Jovino Lopes e Fernando Magalhães, estiveram no Grupo Sistec em busca do apoio da imprensa para que o Campeonato fosse promovido. Eurico Gade então reuniu Jota Baranda, Élio do Carmo, Juarez Salles e Rogério Silva, mais jovem integrante da equipe de esportes da Rádio Caratinga AM 970. Assim, em 2002, a LCD voltou a promover o Campeonato, o Esplanada ficou com o título, vencendo exatamente o Bairro das Graças na decisão.

O Bi em 2008
Sempre fazendo ótimas campanhas, o Baleia montou um timaço mais umas vezes para o Regional 2008, não teve erro, o time chegou a mais uma decisão e conquistou o segundo título da era LCD. A decisão foi contra o Esplanada e o Bairro das Graças venceu os dois jogos disputados no bairro Dr. Maninho. A primeira partida foi 3 a 0 e segunda, 4 a 2. O time foi dirigido por Carlos Antônio.

 

 

Zé Camelô: Esse tem história

Como já descrito anteriormente nesse artigo, muitos foram os personagens que fizeram a grandeza do Bairro das Graças, mas, quando o assunto é futebol, o nome José Onofre do Santos, “Zé Camelô” se confunde com a história do próprio clube e o colocou em outro patamar.
Nasceu no distrito de Santa Efigênia, na década de 50, onde iniciou os estudos. Mas, logo se mudou para a cidade, mais precisamente na rua Francisco Vítor de Assis, (rua dos Cavacos), onde foi morar com a avó e estudar no colégio Dom Carloto. Foi um bom goleiro nos times da época, principalmente no União Rodoviário, no infanto-juvenil, comandado pelo senhor Manoelzinho, pai do saudosos Zé Rebolo, Zé, viu de perto a construção do estádio Tancredo Tassar. Na década de 60, mudou-se para o bairro das Graças para morar com os pais que vieram se Santa Efigênia. Ali se casou e formou família. Um problema no joelho o afastou do futebol, e virou diretor em 1976.
Entrevista

Quais os grandes times da época?
Nossa senhora, eram muitos os times: Esplanada, Caratinga, América, Faixa Azul e Botafogo de Inhapim, Anápolis, Santa Rita, Santa Bárbara, Juventus de Dom Cavati, 1º de Maio, Fluminense. Cada bairro tinha pelo menos um time forte.
Quais as recordações dos times do BG dos anos oitenta?
Rogério, para ser sincero a década de 80 foi muito iluminada para nós. Tínhamos a dificuldade de ter que alugar campo para jogar os campeonatos. Mas, numa reunião eu disse que se fosse pra alugar campo, se for pra jogar em outro campo não sou mais diretor, o presidente Carlinhos uniu forças e conseguimos em 1982 inaugurar o campo que ficou conhecido como Beira-Rio. A partir deste ano, o time mudou seu status, porque a torcida passou a chegar junto. Principalmente a torcida feminina. Fizemos uma ótima campanha, em 1983 fomos vices campeões.
1987 foi especial Zé?
Montamos um time muito forte, com vários jogadores campeões em outros clubes como: César, Anísio, Carlinhos Marcelino, Sula, Mauro, Amarildo. Um time montado pela amizade. Uma diferença com os tempos de hoje, jogadores queriam que conseguíssemos empregos para eles. O país caminhava bem, era mais fácil conseguir empregos para muitos jogadores. Em 1983 por exemplo, Harlem e Juninho vieram de Bom Jesus em troca de emprego na cooperativa. Juninho estava no América-MG, fiz a reversão dele e foi artilheiro do campeonato em 1983. Futebol me deu grandes amizades como Carlinhos Marcelino, temos um carinho enorme em pelo outro.
Cita para o Diário de Caratinga, os melhores jogadores que você viu com a camisa do BG?
Nossa Rogério, vi muitos, começamos nos velhos tempos: Abel Teixeira, Mundinho, Niltinho, Cardec, Zé Rezende, Girgilim, Genipapo, Manoelzinho, Egídio, Chiquinho, Quincas do Aeroporto, Orlando, Rafael, Carlinhos Marcelino, o César nem se fala, sobrava em campo, Juninho, Harlem, Pepe, Carlinhos Foguete, Paulinho Bugarelli, fez o primeiro gol do campo do Bairro, Angelo, Renato (Diao Loiro), Sula, Perrola, Pipica, Pampinha, Piquinho, Gersinho, Ivan, Pelé, Simplício, Edervane, Adauto, foi três vezes artilheiro do time. Ronaldo Jota Alves, João Honório, Valdir, Juninho do Pelota, Neiton, Dedel, Alexandre, Carlos Alberto, Fabinho, Padeiro, Bruninho, Gilsinho, Geremias. Sou grato de ter trabalhado com essa turma toda.

Depois da enchente ficou ainda mais difícil Zé?
Verdade, logo depois da final em 2002 contra o Esplanada na volta dos campeonatos da Liga, em 2003 tivemos a enchente que destruiu parcialmente o campo. Dalí pra cá, muitas tentativas para recuperar o campo. Um engenheiro que trabalhava com prefeito Ernane deu ideia de levantar o nível do campo. A ideia foi aprovada, o Adauto que jogou no clube, agrimensor, mediu tudo laudo técnico. Mas, um vereador do bairro, por confrontos de ideia, entrou a favor do fazendeiro dono de parte do terreno, começou uma guerra, mas teve várias reuniões, começou o trabalho, mas, depois o secretário Agricultura Álvaro Tápias pediu para retirar muro para ter uma corrida de cavalo lá, o fazendeiro viu a situação, ficou chateado, entrou no Ministério Público contra o clube e a prefeitura, depois veio autorização para construção do campo em outro lugar. Mas, se passaram quatro gestões e nada de resolver: Ernane, João Bosco, Marco Antonio e Dr. Wellington. Chegou-se a prometer o campo dentro do Parque de Exposição, mas, ainda não foi cumprido. Chegamos a ter reunião com a atual gestão, foi nos prometido. Tenho esperança ainda de ver o campo do Bairro das Graças. A comunidade tá esperando por isso, campo de futebol e esporte faz falta para tirar muitos meninos da droga e caminhos errados.

Qual conselho que você pode dar para dirigentes que estão começando?
O trabalho é esse que você tá fazendo na LCD, incentivando as categorias de base, levando os meninos para o esporte, dá resultado, tira os meninos das drogas. É o melhor trabalho, tenho certeza que os pais estão muito satisfeitos com isso.

NOTA: Diante da realidade atual do futebol amador, exigindo receitas cada vez maiores, e o fato de ainda não ter seu campo de volta, o Bairro das Graças Futebol Clube tem ficado ausente dos certames ultimamente. Mas, sua gloriosa história de títulos e grandes craques, essa está eternizada.

Rogério Silva

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