Diego Bramusse, transexual, fala das mudanças que passou e que espera conseguir ter seu nome social nos documentos
CARATINGA – Diane Bramusse, 27 anos, que se identifica como Diego Bramusse, designer gráfico, que aos 24 anos começou a fazer a transição de gênero com hormônios, ainda não teve seu nome mudado nos documentos, como a lei permite e ele deseja. No entanto, essa mudança pode estar mais perto para o jovem. De acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), o Brasil nunca registrou tantas mudanças de nome e sexo como no 1º semestre deste ano.
No total, foram 1.124 alterações no período, 43,7% a mais que os 782 atos do ano passado e 20% maior que as 937 mudanças de 2019.
O direito vale para transexuais e transgêneros que não se identificam mais com os nomes registrados em suas certidões de nascimento. A permissão vem desde 2018, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou essas minorias a alterar o nome e o sexo nos cartórios.
Desde então, a decisão está regulamentada no Provimento nº 73 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Para alterar o nome e o sexo, a pessoa não precisa ter passado pela cirurgia de mudança de sexo nem de autorização judicial.
Para realizar o processo de alteração de gênero em nome nos cartórios, o interessado precisa apresentar todos os documentos pessoais, comprovante de endereço e as certidões dos distribuidores cíveis, criminais estaduais e federais do local de residência dos últimos cinco anos.
A reportagem entrou em contato com o cartório de registro civil Fernando Patrício, para saber como está o movimento em Caratinga, mas teve a informação que os “dados não foram levantados”.
A HISTÓRIA DE DIEGO BRAMUSSE
Diego conta que desde criança se sentia como um “E.T.(extraterrestre)”, pois não fazia as coisas que a maioria das meninas faziam, e não se enquadrava na sociedade como uma mulher. “Achava que era coisa da minha cabeça, que uma hora iria passar e até quando era criança eu lembro que pedia a Deus para no outro dia acordar um menino, ou acontecer um milagre, ou então eu via os filmes de magia, e queria que acontecesse uma magia e eu acordasse um menino. Mas eu achava que um dia isso passaria, mas não passou, e eu não tinha noção que existia a possibilidade de transicionar de gênero, até eu ver uma entrevista, por isso eu acho tão importante entrevistas”, disse Diego.
As coisas começaram a mudar quando o designer gráfico assistiu uma entrevista com Tarso Brant, nome artístico de Tarso Alexandre da Silva Borges, ator e modelo transgênero brasileiro, que se apresentou como Tereza Brant, porque ainda não tinha feito a mudança de nome. “Quando vi a entrevista, aí falei assim, cara e isso que eu sou, e eu não sabia que era possível. Eu tinha 20 anos na época, fiquei quatro anos sofrendo internamente porque eu tinha medo família não me aceitar, da sociedade não me aceitar. A gente fala de preconceito todo dia, mas as pessoas não sabem na pele como é sofrer o preconceito. Então fiquei quatro anos pensando que iria segurar firme, até vir uma depressão muito grave, e ai pensei que quem gosta de mim de verdade, quem me ama de verdade iria aceitar como eu sou. Aí comecei a transição com hormônios aos 24 anos”.
Depois da transição, Diego disse que se sentiu realizado, e passou a se olhar no espelho e se encontrar. “É difícil explicar pra quem não vive na pele, mas é como se eu conseguisse ver só o meu rosto, eu negava minhas curvas, não encaixava na minha cabeça. É como quando uma pessoa está com uma espinha gigante, ela fala que aquilo não lhe pertence, ou quando nasce uma verruga e ela diz que vai tirar e ficar perfeita, era assim que eu me via. Aí quando vi tudo tomando forma, era como se uma peça de quebra-cabeça finalmente se encaixasse, era como se antes eu tentasse encaixar e não desse, e agora finalmente as coisas se encaixam, me vejo como realmente queria ter me visto desde criança”, comenta.
Mesmo tendo a aparência de um homem como sempre quis, Diego diz que ainda existe preconceito. “Ainda acontece o preconceito quando conto sobre minha infância, muitas pessoas trans não gostam de falar sobre seu passado, e tem hora que preciso falar. Já sofri preconceito do mesmo grupo LGBT, a pessoa descobriu que antes eu era mulher, passou me tratar do nome anterior, aí perguntei o motivo, aí ela respondeu que eu tinha nascido assim, tinha que ser assim. Existe o preconceito, mas graças a Deus ando nas ruas as pessoas que não sabem o que fui antes, então não sou apedrejado, se eu falar têm pessoas que aceitam e outras não. Hoje tenho uma noiva, uma pessoa que me aceita, porque tem uma série de questões, como para ter um filho, pra eu ter um filho tenho que pensar em adoção ou fertilização in vitro, não é natural, mas cada um tem a ‘tampinha da panela’ e daqui a pouco tem casamento”, declarou.
Sempre usando o nome social, Diego disse que já tentou fazer a mudança e formalizar a mudança em seus documentos.
O jovem conta que certa vez ligou no cartório e foi informado que para fazer a mudança teria que ir onde foi registrado quando nasceu. “Como não nasci em Minas Gerais, nasci em São José dos Campos, fui até lá, peguei toda documentação necessária, e aí como morei boa parte do tempo em Minas e boa parte do tempo em São Paulo, tinha que reunir os documentos de São Paulo e os de Minas. Peguei os documentos e voltei lá, mas disseram que ainda faltavam documentos, aí o tempo expirou, fiquei revoltado e continuei usando o nome social”.
O grande problema para Diego acontece na hora de apresentar sua carteira de identidade, pois aí vem a preocupação das pessoas falarem o seu nome de registro em voz alta, e passar constrangimento. “Sempre apresentava e explicava que meu nome estava assim, o rosto mudou porque sou transexual. A maioria das pessoas entende. Uma vez fui a uma lotérica a pessoa começou a perguntar, disse que não parecia, mas não importo de explicar’, concluiu.