EP contendo seis músicas está em fase de lançamento e mostra o lado autoral da banda caratinguense
CARATINGA – No final de 1968 os Rolling Stones lançaram um de seus álbuns clássicos, “BeggarsBanquet”; e um dos carros-chefes desse disco era o petardo “Street Fighting Man”. A letra protestava contra a falta de oportunidades: “Mas o que um pobre rapaz pode fazer/ A não ser cantar em uma banda de rock/ Porque na cidade sonolenta de Londres/ Não há lugar para um lutador nas ruas! Não!”. Independente da condição social, passados quase 40 anos, estes versos caem como uma luva para os integrantes da banda Audácia, que querem a oportunidade de passar sua música para o público. Eles podem não ter as madeixas tão grandes, mas estão cantando em uma banda de rock que acaba de lançar seu primeiro EP “Além do Bem e do Mal”.
BREVE RELATO
A Audácia surgiu há um ano e oito meses em reuniões que aconteciam durante a noite na Praça Getúlio Vargas entre Ícaro Freitas, Paulo, que era o baixista original, e Kelvin Silva. Com violões e ideias começaram a compor a primeira música, “Insônia”, isso aconteceu logo no primeiro encontro, o que se repetiu por algumas vezes semanalmente, onde foram se
desenvolvendo novas composições. Decididos a elaborar melhor o lazer que começava a se transformar em trabalho, foram para o estúdio aprimorar as canções, com o amigo João Paulo que assumiria a bateria provisoriamente.
Entre ensaios semanais, o primeiro show aconteceu na Praça Cesário Alvim em um evento da Jararaca Alegre, após duas trocas de bateristas, apresentações em bares da cidade, Lander Martins assumiu a bateria e a Audácia se apresentou em mais alguns eventos em Caratinga e em Ubaporanga, quando o Paulo decidiu deixar a banda e Gustavo Dutra assumiu o posto.
Segundo Ícaro Freitas, vocal e guitarra, o retorno financeiro é muito baixo, “então manter uma equipe de trabalho artística requer muita paciência e amizade, que é o que nos une, são muitos anos de relação entre nós, uma década podemos dizer. Diversas bandas foram construídas neste período, o cenário underground da cidade sempre foi forte e fomos acostumados a estarmos construindo uma cultura nas praças e ruas da cidade. Hoje com ‘Além do Bem e do Mal’ sentimos o fruto amadurecido desta história germinar”.
A ENTREVISTA
Dentro do trabalho de divulgação, a próxima apresentação da banda Audácia será no dia 29 de janeiro, domingo, quando participa do Encontro de Músicos Beneficentes, que será no Restaurante Casarão. O telefone para contato é (33) 9.8833.4973.
Enquanto isso, Ícaro Freitas falou ao DIÁRIO sobre ‘Além do Bem e do Mal’.
Como é o processo de composição da banda?
As músicas são trabalhadas, primeiro, no violão. Por diversos lugares da cidade como as praças Getúlio Vargas, do Menino Maluquinho, Pedra Itaúna; começamos a unir melodias e onde eu começo a escrever as letras. No início o Paulo me ajudava, o João Paulo já colaborou também, o Kelvin ou eu começamos a criar os riffs e a melodia vai acontecendo. Nos reunimos mais vezes também em casa depois do expediente e tentamos aprimorar, depois vamos para o estúdio e o Lander cria o ritmo e a pegada na bateria.
Em suas canções, qual o principal enfoque? Nas letras são criadas histórias ou elas são mais confessionais?
O foco das canções é retratar a realidade social que muitas vezes passa despercebida aos olhos das grandes massas, que vivem alienadas e estáticas, retratando a evolução que nas últimas décadas foi acelerada pelo desenvolvimento tecnológico do ser humano, tornando-o rodeado de informações, mas que não está apto para usá-las ao favor de uma sociedade mais justa, apoiado principalmente pelas tradições estabelecidas do estado, das instituições civis e religiosas, que mantém às vezes um padrão de exclusão e não inserção, dos indivíduos ao meio, criando às vezes uma dicotomia, em um mundo tão diversificado como o contemporâneo, por isso ‘Além do Bem e do Mal’ há muito mais, há diferenças entre as pessoas e suas experiências.
As músicas variam entre histórias e confessionais. A “Extinção” é uma história baseada em algo incerto, que é a origem e fim do planeta, mas que ao mesmo tempo me coloca como participante ativo deste processo. “Libido” fala de uma ideia Freudiana de mais de 100 anos que ainda não é bem aceita nos padrões sociais, mas tem suas justificativas de controle, apesar de toda evolução e exposição da sensualidade. “Além do Bem e do Mal” me coloca como o adulto olhando sua história de vida e tendo que reconstruir muitos pensamentos, o que gera esperanças e desencantos. “Insônia” trata da noite, da solidão e das paixões, coisas de poeta. “Adolf Hitler” dá voz aos que como nós lamentam o holocausto e não querem se deparar com essa situação novamente, apesar de que ela continue a acontecer no mundo com frequência, não como o nome de nazismo, mas de chacinas ou atentados. “Holograma” faz uma analogia das novas relações criadas no mudo virtual, através das redes sociais, que aproxima e afasta as pessoas quase na mesma proporção.
Quanto tempo demorou a ficar pronto ‘Além do Bem e do Mal’?
‘Além do Bem e do Mal’ levou aproximadamente quatro meses para se concretizar. Primeiro veio a parte da gravação, onde fazíamos as captações com o Walisson Felipe que é a pessoa que realizou a gravação em um Home Estúdio. Foram diversas sessões, cada um gravando seu instrumento em separado. Fomos para um estúdio com boa acústica para captar a voz, o resultado foi impressionante e fomos trabalhando as outras músicas, contando com o empenho de todos e terminamos no fim de novembro. Aí veio a segunda parte que era o lançamento. Sem recursos, começamos a procurar a iniciativa privada com alguns amigos de infância, familiares, empresários da cidade para apoio e conseguimos boa parte do recurso para as despesas do EP. Conseguimos apoio da Prefeitura de Ubaporanga para um evento de lançamento e, então, eu e Lander, que têm bons talentos com designer, nos lançamos na produção da capa e começamos a divulgar, lançando o EP na véspera de Natal em Ubaporanga, num evento unindo músicos e skatistas.
Numa época onde outros gêneros musicais dominam as rádios, vocês ainda acreditam que há espaço para bom e velho rockandroll?
Bem, a população está ouvindo essas músicas que passam, fazem um sucesso estrondoso e desaparecem do mercado depois, como o funk, sertanejo universitário e etc, mas acredito que mais do que conquistar o cenário, nossa música pretende conquistar pessoas, são músicas da alma, que além de emocionarem criam consciência. Em algumas situações vi crianças cantando nossas músicas, os adolescentes, os adultos e até mesmo os idosos ouvem e gostam, não é porque o ritmo não esteja na moda que não será ouvido e apreciado. A mídia tem sua preferência, mas nós temos o carisma necessário para encantar as pessoas com nossa música e nossas ideias que vão ‘Além do Bem e do Mal’. E se olharmos há diversas bandas de rock no Brasil que têm músicas que são atemporais, conquistam independente da moda ou não.
Quais as principais influências do Audácia?
As influências são variadas, pois é o que produz a diversidade do nosso som. O rock é privilegiado por ter diversos gêneros diferentes, por isso nosso som é Alternativo, mesclamos essas facetas nas canções que vão desde o pioneiro Blues ao New Metal. No cenário nacional poderia citar Raul Seixas, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana e Inocentes. De fora, Nirvana, Korn, RageAgainst The Machine, Pink Floyd, Sex Pistols, Alice in Chains, Red Hot Chili Peppers são alguns exemplos, pois nossa influência é muito ampla.
E agora está na fase de divulgação do EP. Tá sendo fácil levar a sonoridade do estúdio para o palco? E como tem sido a reação do público?
Não tem sido fácil, pois esbarramos em muitas barreiras e as opções são poucas, mas temos conseguido levar ao ouvido das pessoas mesmo não sendo nos shows, através do EP onde recebemos elogios e também gera algumas discussões e reflexões sobre a arte gráfica e as músicas, o que já é um objetivo alcançado. Nas apresentações ao vivo da banda com um repertório mesclando clássicos do rock nacional com o EP temos tido boa repercussão e satisfação do público, convite para futuros eventos e o que é mais importante para nós a compreensão de nossas ideias e esperamos que possamos participar de diversos shows e eventos esse ano, não só aqui na cidade, mas na região e por que não por todo o Brasil, onde possamos levar o nome da cidade que é uma terra geradora de artistas de uma forma positiva para o cenário nacional e contamos com a população adquirindo nosso EP para podermos investir neste projeto, que será a realização de um sonho de jovens promissores e audaciosos.