“Mas tudo o que vos peço é que quando meus filhos ficarem adultos, que os puni, atenienses, atormentai os garotos do mesmo modo que eu vos atormentei a todos, quando parecer que eles cuidam mais das riquezas ou de outras coisas do que da virtude. E, se acreditarem ser qualquer coisa não sendo nada, que os reprovai, como fiz convosco”. – Sócrates –
(Apologia de Sócrates – Platão)
Vivemos em um mundo povoado de pessoas de todos os tipos, pessoas que trazem dentro de si inúmeras ambições e desejos. Tais ambições e desejos têm tanta importância que eles conduzem nossas vidas, ditam os rumos pelos quais devemos nos guiar, guiam nossa conduta e formam o nosso caráter, formando a estrutura de nossa personalidade.
Não é novidade para ninguém que muitos são guiados pela vontade de adquirir riqueza, pela vontade de ganhar dinheiro e obter lucro em todas as suas ações e, no meio desses, muitos são os que usam de meios ilícitos e fraudulentos para obter a riqueza desejada; entre a justiça e a vontade de obter lucro injustamente, movidos pelo egoísmo, tais pessoas optam por dar ouvidos e vazão ao egoísmo, que se mostra por suas ações, como senhor de suas vidas, e guia para seus passos. Tais pessoas só se lembram da justiça quando elas são fraudadas, são hipócritas, e vivem muito bem assim, sem se importar com os outros, olhando somente para si mesmas, e se importando somente com o aqui e agora, trilhando suas vidas na busca das coisas efêmeras e sem valor real.
A riqueza material é só o exemplo mais comum das inúmeras coisas materiais que constituem motivo de ambição das pessoas, e que guiam suas ações e vidas. Mas, além dela, muitas outras ambições podem guiar a vida das pessoas que conhecemos, todas centradas, apoiadas, e impulsionadas pelo egoísmo humano, guiados pelas coisas mais banais e passageiras desta terra.
Infelizmente, em nosso tempo, as coisas que têm sido consideradas motivo de ostentação são as mais banais e passageiras que podemos imaginar, incapazes de modificar o interior de tais pessoas, usadas muitas vezes com o objetivo de serem aceitas diante da sociedade, mantendo simplesmente a aparência, sem buscar mudar a essência.
Assim, muitos têm guiado suas vidas pautados em coisas banais e passageiras, como a riqueza, o poder, a beleza, o status, etc., e se esquecem das coisas mais duradouras e elevadas, como a justiça, a bondade, o conhecimento, a sabedoria, o amor, a empatia, a compaixão, etc., coisas que nos elevam como seres humanos. E isso não é uma particularidade de nossa sociedade atual, mas é um costume tão antigo como a própria raça humana.
Na Grécia antiga, Sócrates já chamava a atenção dos atenienses, os “atormentava”, para que eles não dessem muito valor às riquezas e as coisas materiais, mas que eles dessem valor à virtude, ao conhecimento relacionado com tudo aquilo que é bom, justo e perfeito. Sócrates chamava a atenção para que os atenienses dessem mais importância às coisas relacionadas à alma, do que as coisas relacionadas ao corpo e à matéria, que são passageiros, ao contrário da virtude e da alma, que permanecem.
Mais de quatrocentos anos depois da morte de Sócrates, na Judéia, província do império Romano, Jesus, chamado O Cristo, também começou a ensinar e a pregar sobre a necessidade de dar mais importância às coisas eternas, relacionadas à alma, relacionadas ao Reino de Deus, do que as coisas terrenas e passageiras, afirmando ainda que, do egoísmo humano vinham todas coisas ruins e as más ações do homem.
Hoje, dois mil e vinte e três anos depois de Jesus, ainda somos guiados pelas nossas ambições e desejos materiais e egoístas, mesmo que, muitas vezes, isso custe a vida de muitos. Ainda nos matamos na busca pela aparência, pela riqueza, pelo poder, pelas coisas passageiras, enquanto abandonamos as coisas relacionadas à alma, ao conhecimento, e à verdadeira sabedoria, e temos colhido os frutos de nossa escolha.
Ainda precisamos aprender muito com os sábios do passado, ainda precisamos ser “atormentados” todos os dias para que começamos a ambicionar as virtudes da alma do que as virtudes materiais. E para o bem das próximas gerações, precisamos atormentar nossos filhos para que também não se esqueçam disso, para que tenham como valor e ambição aquilo que realmente importa, aquilo que os tornam pessoas melhores.