Servidores ativos e inativos reivindicaram pagamentos atrasados em manifestação na Praça Cesário Alvim
CARATINGA- Um ato para demonstrar insatisfação e os anseios dos servidores da rede estadual de Educação. A manifestação pacífica ocorreu na tarde de ontem, na Praça Cesário Alvim. O objeto foi repudiar o atraso no pagamento dos salários dos servidores aposentados. Segundo o Sind-UTE, muitos deles não receberam nenhuma quantia referente ao pagamento que deveria ter sido neste mês de junho.
De acordo com o coordenador do Sindicato em Caratinga, André Freitas, a região está “coberta pela greve”. “Temos hoje 36 escolas que estão com paralisação total ou parcial. A maioria delas está fechada, sem nenhum aluno assistindo aula e isso não é uma culpa do movimento grevista, mas do governo do estado que infelizmente não tem respeitado a classe dos professores, a maioria dos trabalhadores da Educação. Até a data de hoje (ontem), o aposentado da Educação só recebeu R$ 500 como pagamento do mês de maio. É um vexame, esperamos que o governo repense essa atitude, principalmente porque hoje já tivemos notícia de que outras categorias já receberam inclusive a segunda parcela”.
André ressalta que o movimento não é contra nenhuma categoria, mas acredita que todos os trabalhadores merecem receber seus salários. “Estamos todos no mesmo barco, inclusive discordamos deles terem que esperar também até o dia 25 para receber sua parcela. O certo é o governo pagar todo mundo no quinto dia útil, agora isso é um planejamento que ele tem que executar e não deixar aposentados, como hoje estão passando dificuldade de alimentação, aluguel e outras obrigações”.
O coordenador do Sind-UTE ainda afirma que o movimento segue na região, enquanto não houver uma resposta do governo. “Os professores da ativa que deveriam ter recebido no dia 8, tiveram uma promessa do governo de pagamento no dia 13. Eles esperaram, não foi pago e foram receber uma parte da primeira parcela no dia 15 e outra parte no dia 20. Alguns desses professores já tiveram o fechamento do seu pagamento, mas a maioria permanece indignada, porque colegas não terminaram de receber até hoje e também os aposentados que estão à míngua. Esse ato quer deixar claro para o governo, que os servidores da Educação estão solícitos com os aposentados, estamos todos juntos, defendendo que o trabalhador tenha o direito a receber seu pagamento no dia certo. A paralisação segue até que o governo, sente com a gente, estabeleça um cronograma sério e cumpra”.
‘HOJE SOMOS MOTIVO DE CHACOTA’
Marília Chálabi, 82 anos, aposentou-se em 1995. Ela se recorda que quando começou a lecionar ainda não tinha 18 anos. Foram 45 anos no exercício da profissão. “Tenho nove quinquênios, atravessei todos os rumos da educação. Comecei na roça, não tinha a estrada asfaltada, condução, ficávamos a semana toda lá, tínhamos que levar os alimentos de casa, mas éramos respeitados. O que está faltando agora é respeito, porque quando entrávamos na sala de aula, os alunos nos cumprimentavam e os pais nos davam todo apoio. Éramos os professores das primeiras letras e dávamos conta de tudo, porque sempre tivemos compromisso e responsabilidade, coisa que não está havendo agora. Aposentamos depois de um trabalho, digno, honrado, ser professor era ser a pessoa mestra, guia, aquela que mostrava, lutava, que ficava junto. Hoje somos motivo de chacota, esse governo ter a coragem de depositar R$ 500 para nós, menos que um salário mínimo. Isso foi uma bofetada na nossa cara, nós trabalhamos e por isso merecemos”.
Para Marília, profissionais ativos e inativos merecem receber seus pagamentos com regularidade. “Quem está na ativa hoje amanhã vai ser aposentado, quem abraçou a carreira de professor foi vocacionado, porque tem que dar conta do aluno. Fico pensando como que um governo que se diz popular faz assim com a classe que o favoreceu. Hoje ele é governador, mas passou pelas carteiras, teve uma professora que deu a ele a instrução. Talvez o exemplo do professor ele não teve, porque não é digno conosco e a professora é digna, honrada, luta. O secretário da Fazenda cinicamente fala assim: ‘Vamos pagar o restante da primeira parcela aos que estão na ativa’. ‘E os aposentados?’, perguntaram a ele. ‘Esses não entram na nossa cogitação, não sabemos quando’. Olha, isso é uma pessoa irresponsável, não pode ocupar esse cargo e todos os professores, ativos ou inativos, têm que lutar por uma causa comum. Estamos juntos em todos os momentos, não somos João ninguém, somos alguém que lutou por esse Brasil. Não merecemos esse tratamento que estamos recebendo”.
‘O GOVERNO NÃO SABE ADMINISTRAR’
Marta Miranda trabalhou por 27 anos no estado e aposentou-se em 2007. Ela relata as dificuldades enfrentadas pelos colegas. “A situação da maioria dos profissionais aposentados da Educação em Minas Gerais é de aperto, companheiros que nós estamos sabendo que já estão passando necessidade em casa, dependem unicamente desse vencimento. A sociedade toda sabe que os salários do estado são baixíssimos, apenas os secretários, cargos em comissão que ganham um pouco melhor. Secretários do estado que dirigem todas as secretarias recebem o vencimento de R$ 70 mil, fora as ajudas de custo, os jetons que eles ainda têm. Mas, o salário das pessoas que se aposentaram e mesmo daqueles que estão na ativa é baixíssimo, um professor na sala de aula com um cargo, que representam 18 aulas semanais deve ganhar em torno de R$ 1300. Eu aposentei com salário de R$ 2.600. Para você que serviu a um estado, se dedicou a um trabalho durante27 anos, receber esse valor é uma esmola, irrisório, não faz jus ao sangue, suor que você deu enquanto estava na ativa. Ainda tenho uma aposentadoria do INSS, mas quem não tem e depende desse vencimento do estado? Tem pessoas que não receberam nada, outras receberam R$ 500. Dá para fazer o supermercado do mês, manter sua casa, ir ao sacolão ou ao açougue? Não. Sabemos que tem muitos colegas nossos que já estão passando necessidade mediante essa crise. Hoje (ontem) são 25 e a pessoa não teve o dinheiro para pagar suas dívidas, como ela vai passar o restante do mês. E isso não é questão de mérito, mas de direito. Fazemos jus ao salário que recebemos, em determinada data todos os meses”.
Marta também fez críticas ao governo e declara que os profissionais esperam uma solução para o impasse. “Se o governo se encontra nesse aperto, despreparado para quitar seus compromissos mensais é porque não sabe administrar. Ele não tem uma equipe toda a seu dispor para fazer projeção das despesas? E o secretário da Fazenda, onde fica? O que faz? Ele já recebeu o salário dele e o restante que se exploda, parece que essa é a postura deles. Querem jogar o não pagamento dos salários para a Greve dos Caminhoneiros, mas não tem nada a ver. O atraso nos salários já vem acontecendo há muitos meses, desde o segundo mês desta gestão já vem acontecendo isso. Se uma pessoa se candidata e aceita assumir o papel de governador tem que estar preparado para governar. Vejo nessa equipe despreparo e descaso muito grande com o funcionalismo”.