Antônio Ney e Jean Chaves lutaram juntos e faturaram a primeira e a segunda colocação, respectivamente. Eles enaltecem o apoio dos programas Bolsa Atleta e Equipe
DA REDAÇÃO- Os faixas preta Antônio Ney da Silva Lourinho, da Black Norte, e Jean Augusto Chaves Pereira, da Norfight, subiram ao pódio juntos no Campeonato Brasileiro X-Combate BJJ Pro 2018, competição promovida pela X-Combat TV News, com apoio da Confederação Brasileira de Lutas Profissionais (CBLP) e realizada no último sábado (17), no Ginásio Tancredão, em Vitória, Espírito Santo.
Eles competiram na categoria sênior masculino preta- meio pesado e o mais curioso é que Ney e Jean, que faturaram a primeira e a segunda colocação, respectivamente, são do Pará e ambos competiam por Caratinga, onde residem atualmente. Mas, conforme a dupla, não houve clima de rivalidade e a luta foi marcada por um clima amistoso e de respeito. “Fomos por equipes diferentes, mas lá a gente senta junto, aquece junto, ele estava com os braços doloridos, eu que fiz massagem”, citou Jean Chaves.
NEY E SEUS DESAFIOS
Antes do campeonato, vem a preparação. Para Ney, esta é uma fase em que há muita dificuldade, principalmente em relação aos treinos e cumprir o peso exigido em sua categoria. “Meu treino é o Jean e meus alunos. E é muito complicado treinar só com aluno, eu que tenho os mais graduados já tenho dificuldade, o Jean que a maioria dos alunos dele são faixa branca e faixa azul, acredito que tenha mais dificuldades ainda com relação ao treino. Mas, pra mim o mais difícil mesmo foi o peso, estava machucado, sem treinar desde setembro, engordei 13 quilos e tive muita dificuldade de bater o peso. Mas, fiz dieta, treinei muito e consegui competir bem. Foi legal”.
Já no campeonato, os atletas foram surpreendidos pela estrutura, o que Ney fez questão de compartilhar e falar também sobre a CBLP, organizadora do evento. “A competição é nível luxo. Se vê pela medalha, o ginásio, é bem diferenciado mesmo das outras, de organização, de tudo. Premiação boa, as coisas acontecem no horário e os árbitros são bastante imparciais. A Confederação Brasileira de Lutas Profissionais, é uma entidade nova, não é a primeira do Jiu-Jitsu, mas vem organizando campeonatos que te dão uma estrutura tão boa quanto as da oficial, que é a CBJJ. Elas se equivalem nesses requisitos de qualidade e importância. E tem premiação em dinheiro, a nossa categoria só não teve porque não alcançou um número de atletas”.
Os atletas nunca tinham competido juntos em uma luta oficial. Mas, Ney acredita que este fato deve se repetir nas próximas competições. “Foi a primeira vez. E acho que esse ano vão ter outras vezes também (risos). Porque temos mesma idade, mesmo peso e vai acabar acontecendo de lutarmos outras vezes”.
Agora, ele pretende disputar o Campeonato Mundial Profissional em Fortaleza (CE), que será em agosto pela CBLP e também o da CBJJ, que é em São Paulo. Porém, vida de atleta não é fácil e Ney ressalta que sem o apoio do Programa Bolsa Atleta da Prefeitura de Caratinga e dos patrocinadores sua participação em competições torna-se inviável. “Se não fosse o Bolsa Atleta e os outros patrocínios com certeza não conseguiríamos ir. Mesmo sendo pouco, muito complicado conquistar e burocrático de ter, é de muita importância porque senão não tem condições. São muitas despesas, de tudo, a inscrição para uma competição dessa é muito cara, o que já elimina muita gente, porque quem vai é porque está com disposição e tem as condições de pagar o preço que se pede. Isso já é um incentivo para a gente, saber que a inscrição já está paga, que conseguimos dar a gasolina, aí é correr atrás de outras coisas, outros patrocínios para suplementar o Bolsa Atleta”.
JEAN E SUA EQUIPE
Jean disputou levando ainda alunos de sua equipe. Ao todo, nove atletas disputaram o campeonato, sendo que quatro conseguiram medalhas incluindo Jean, sendo duas de ouro, duas de prata e cinco atletas que se classificaram em quarto lugar. “Fomos com atletas do individual e equipe. A minha preparação como bem falou o Ney sempre é muito difícil. Sempre para o faixa preta é um pouco mais difícil, não podemos exigir tanto dos nossos alunos. Eu, principalmente, que tenho alunos bem menos graduados, não posso exigir tanto deles, se não acaba que eu não treino e nem eles treinam. Foi uma preparação muito boa, meus alunos vêm se dedicando bastante. Foram 67 academias do Brasil e minha equipe ficou em 21°, então os que não conseguiram medalhar contribuíram bastante para que essa pontuação fosse gratificante para gente”.
O atleta também precisou enfrentar um problema de saúde e comemora a superação. “O médico me proibiu, pediu que eu ficasse no mínimo um ano sem fazer esforço físico. Já passou praticamente um ano, fui no médico, ele falou que era pra eu voltar a fazer os exercícios, para a minha preparação. Se voltasse no problema, teria que parar de novo, fazer uma cirurgia, mas, graças a Deus ainda não sinto nada. Não sei como expressar a gratificação em ter participado desse campeonato. Graças a Deus foi tudo maravilhoso”.
Sobre a competição, quando precisou enfrentar o amigo, Jean celebrou o fato de levantarem duas bandeiras, pelo estado em que nasceram e o estado que eles representavam. “Sou lá do Pará, hoje não tenho um açaí aqui na minha casa, não tenho pato no tucupi ou castanha do Pará. Então quando conseguimos dois atletas paraenses no pódio, que fomos eu e o Ney, isso pra mim foi gratificante. Fomos lá, lutamos, subimos ao pódio representando nosso estado e agora o estado de Minas Gerais e em especial a cidade de Caratinga. Apesar de fazermos nossa inscrição por equipes diferentes, quando chegamos no evento, nos unimos e lá ficamos como se fosse uma única equipe, por um único estado e um único propósito, que é chegar e vencer. Um ajuda ao outro e graças a Deus conseguimos nosso objetivo que é pontuar, chegar na frente e representar bastante aquelas pessoas que nos ajudam aqui”.
O pódio entre Ney e Jean deixa uma lição importante do saber competir. Jean faz questão de compartilhar esta experiência com sua equipe. “Deixei transparecer bastante para o Ney no momento a minha felicidade, mesmo com minha medalha de segundo lugar, estar no pódio do lado dele, pra mim foi uma honra muito grande. É um professor excelente, grande atleta, que já vem nessa batalha há muito mais tempo que eu e agora tendo esse prazer de chegar lá, ir para uma final com ele e pódio ainda, foi maravilhoso. Tenho que falar todo dia para os meus alunos o quanto é importante valorizar as amizades, nosso treino, professor, as pessoas que treinam com a gente, porque quando chega numa oportunidade dessa sentimos essa gratificação dentro do peito”.
Além do Programa Bolsa Atleta, ele também enaltece o trabalho do Bolsa Equipe, que tem contribuído das diversas maneiras, “desde a inscrição, à alimentação e ao transporte”. “Temos que correr muito atrás de patrocínio, temos algumas pessoas que nos ajudam, os próprios alunos ajudam ao outro. Foi muito interessante, pois tem um aluno, por exemplo, que os amiguinhos dele de escola ajudaram. Porque pego o Bolsa Equipe e tenho destrinchar, ajudar um pouquinho um e o outro. A ajuda que teve desse meu aluno foi muito importante, sem contar os outros patrocinadores, sem eles não conseguiríamos chegar a lugar nenhum. É através deles que conseguimos esses resultados excelentes”.
Outro destaque na X Combat foi a participação de Anailton da Silva Hilário, atleta da Apae de Caratinga e treinado por Jean, parte do projeto ‘Jiu-Jitsu para todos’. “Coloco ele no circuito ‘normal’ e a felicidade dele é tão grande. Na primeira vitória foi como se tivesse ganho o campeonato, foi tanta felicidade que ele não queria saber se havia ganho medalha ou não, que posição que ele estava; já chegou, veio cumprimentar. Ele é deficiente intelectual, no entanto participa de igual para igual. Agora foi lá, ganhou, foi para a final e por muito pouco não chegou à medalha de ouro, mas para ele a medalha de prata foi tão gratificante que é difícil até expressar o quanto foi grandioso. Isso mostra através dos professores, do Bolsa Atleta, do Bolsa Equipe, que as diferenças não existem dentro do nosso esporte. Quando você entra no tatame todo mundo é igual, vence quem tiver treinado mais, se dedicar mais e faz por amor ao esporte”.
O APOIO
A diretora de Projetos Esportivos, Juleny Leite de Mattos acredita que há muitos motivos para comemorar. Ela explica que ao longo de sua trajetória, o Bolsa Atleta tem feito a diferença na vida dos atletas. “Isso é muito importante pra nós porque é uma sequência de trabalho em anos. Quando começamos com o Programa Bolsa Atleta, os atletas participavam principalmente aqui na região, nos municípios vizinhos que têm maior condição de sediar eventos que são Ipatinga, Valadares, começaram aos poucos a participar do metiê estadual e foram passando para o nacional e agora estamos tendo mais quantidade de alunos nas modalidades diversas alcançando o nacional e também o internacional. Isso é o pontapé inicial. Quando pensamos no trabalho do Bolsa Atleta com essas pessoas, é a base que eles precisaram para se manter ativos por esses anos todos. Embora seja muito importante, sozinho o atleta não consegue, é uma incapacidade financeira que nós temos, mas que nós distribuímos o máximo que conseguimos e tentamos salvaguardar o direito de cada um que prova merecedor”.
Em especial se tratando do Jiu-Jitsu, Caratinga se destaca com a aquisição de atletas portadores de necessidades especiais, o que Juleny considera na cidade a necessidade de ampliar o esporte inclusivo. “Percebemos no meio da comunidade pessoas que necessitam praticar esporte, mas não têm um metiê para eles. É difícil colocar uma pessoa que não tenha deficiência intelectual para treinar esporte junto com as crianças assistidas pela Apae. Quando mestre abre suas portas e recebe as pessoas que têm deficiências físicas e que possa também trabalhar em junção com os intelectuais e os ditos ‘normais’, para nós é um grande passo que nós demos. Chegar num campeonato de uma entidade muito boa como a CBLP, que começamos a acompanhar através da participação deles aos campeonatos. São entidades muito sérias nos seus campeonatos e quando o Anailton chega, participa e ganha uma medalha de segundo lugar, significa que o trabalho deles aqui é bem realizado”.
Ver dois dos atletas patrocinados pela Prefeitura de Caratinga no pódio, um em primeiro, outro em segundo lugar, é motivo de orgulho. “É a glória (risos). Porque é um pódio de Caratinga, competindo com muitos municípios e estados inclusive. A gente se realiza vendo eles se realizarem, porque batemos nossas metas. Queremos que eles continuem, almejem lugares que ainda não tenham pisado. No que conseguirmos, vamos continuar apoiando e agradeço aos gestores municipais que passaram nas últimas três gestões da prefeitura que apoiaram esse projeto, porque nós que somos do ramo do esporte precisamos que mais pessoas nos outros setores comprem a nossa ideia. E à medida que passou por três gestões e permaneceram, passou a ser cultural. Um atleta de grande porte na cidade de Juiz de Fora, reclamando que estava sem apoio disse algo assim na mídia: ‘Até Caratinga tem o Bolsa Atleta’. Mas, na verdade, Caratinga foi um dos primeiros municípios a implantar o benefício Bolsa Atleta. Esse trabalho desde 2011 começa a florescer para nós agora, então o Jiu-Jitsu está mostrando no setor de portadores de necessidades especiais no setor dos profissionais”.
No ano passado, Caratinga ocupou, pela terceira vez consecutiva, o primeiro lugar entre os municípios que pontuaram no ICMS Solidário – Critério Esportes. Entre as iniciativas desenvolvidas em Caratinga que resultaram na boa pontuação estão a participação de atletas da cidade em competições de diferentes modalidades por todo o país e a realização dos Jogos Estudantis Municipais. “O ICMS Esportivo é um inventário em que a gente informa as nossas atividades. O fato de nós termos os trabalhos de rendimento tanto quanto sociais, quanto os de lazer, ou seja, cada ano melhorar nosso foco em áreas distintas do esporte, vai fazer com que Caratinga cresça em pontuação no ICMS Esportivo, que é para nós como se fosse um IBGE. Vamos observando onde vai nascendo as manifestações culturais do esporte e tentando trazer para próximo de nós através desses mecanismos de políticas públicas, dando base para que eles não só permaneçam, mas que cresçam. É de pouco em pouco, mas isso está se solidificando”.
A diretora de Projetos Esportivos aproveita para agradecer ainda aos demais patrocinadores, pois “nenhum atleta de rendimento consegue se manter só com benefício Bolsa Atleta”. “A atividade competitiva necessita de trabalho, não só de treinamento, mas vestuário, alimentação adequada e se a gente quiser ter orgulho de um caratinguense em competições de altas esferas, precisamos cuidar deles. Há muitas possibilidades que um cidadão pode ajudar os nossos atletas, uma consulta médica gratuita, tratamento de fisioterapia, suplemento alimentar ou complexo vitamínico, tênis. Há muitas formas que você diminuiu o ônus do atleta, para que consiga chegar nessas esferas com todo esse suporte. Os atletas dos grandes centros conseguem patrocínios que dê para eles treinarem e viver com aquele salário-patrocínio. Não é a nossa realidade aqui ainda, sonho por esse dia. No dia que isso acontecer vou ter muita alegria de dividir com vocês”, finaliza.