Músico falou da turnê ‘Desde Aquele Dia – 30 anos A Revolta dos Dândis’ e comentou outros aspectos de sua carreira. Ele se apresentou no Piedade Fest 2017
CARATINGA– Piedade de Caratinga recebeu grande público na noite de ontem para mais uma atração musical do Piedade Fest 2017, evento organizado pela Prefeitura em comemoração ao 22º aniversário de emancipação política do município. Foi a vez do compositor, cantor, multi-instrumentista e escritor Humberto Gessinger, a voz e a alma dos Engenheiros do Hawaii, apresentar a sua nova turnê “Desde Aquele Dia – 30 anos A Revolta dos Dândis”.
Acompanhado por Rafa Bisogno (bateria e percussão) e Nando Peters (guitarra e violão), Gessinger (vocal, baixo, teclados) apresentou ‘A Revolta dos Dândis’ na íntegra, além de músicas de todas as fases de sua carreira, com destaque para as composições de seu novo compacto, ‘Desde Aquela Noite’.
Mas, antes de seguir para Piedade de Caratinga para o grande show, Gessinger recebeu a imprensa no Vind’s Plaza Hotel, onde ficou hospedado em Caratinga. Bastante simpático, ele respondeu a questionamentos dos jornalistas e recebeu uma placa de homenagem das mãos do prefeito Edinilson Lopes uma placa de homenagem.
“Muito honrado de fazer parte desta festa. Esse momento especial para a cidade. Música brasileira é o que a gente faz de melhor nesse País, então é bacana que se mostre o maior número de vertentes dela. Fico muito agradecido em representar o pessoal que faz Pop/Rock”, afirmou Humberto Gessinger.
Edinilson Lopes classificou o momento como marcante em seu governo e destacou que Piedade de Caratinga também um lugar que “ama Humberto Gessinger”. “Eu era um menino, escutava as músicas dos Engenheiros lá em Piedade, que não era cidade ainda. Tocava muito ‘Era um garoto’. Isso foi marcando a gente. Em 1995 meu pai entrou com o processo de emancipação, foi muita luta, o então prefeito de Caratinga era contra, mas Piedade emancipou e minha vida tomou outro rumo. A gente vê essa diversidade cultural, lidando com as pessoas. A gente nem sonhava que podia chegar na política, hoje à frente do governo para nós é uma honra trazer este grande artista. Queremos proporcionar à nossa população um grande show.
TURNÊ DE COMEMORAÇÃO
Questionado pelo DIÁRIO DE CARATINGA sobre sua relação especial com ‘A Revolta dos Dândis’, que motivou a realização desta turnê comemorativa, Gessinger descreveu o segundo álbum dos Engenheiros do Hawaii como importante na história da banda e representativo também para os fãs. “Não sei se é o que vendeu mais ou que tocou mais, mas de fato é o disco que mostrou a nossa cara com mais nitidez para o que viria dali em diante. É um disco de 87 e 30 anos depois reencontrar esse repertório, notar que as músicas continuam fazendo sentido pra mim e pra muita gente é uma coisa que me deixa muito feliz. A gente vive ouvindo falar que música pop é uma coisa passageira e sacar que na vida real não é assim é uma coisa que me deixa muito envaidecido, não pelo meu trabalho, mas pelo trabalho de toda a minha geração e da galera que faz som no Brasil”.
Ainda em resposta à Reportagem, ele comentou sobre a concepção da turnê ‘Desde Aquele Dia’, reafirmando que a intenção não é fazer um cover de si mesmo. “Acho que tem bandas covers que tocam o disco melhor do que eu tocaria. E tocam igualzinho”.
E ressaltou que muitas coisas mudaram no disco até este processo de elaboração da turnê, que vão além da passagem de 30 anos. “Quando montei o disco, LP na época, pressupunha dois lados, então tu tinha início de um lado e fim de um lado, início do outro lado, fim do outro lado. Isso fazia com que as músicas se ordenassem de uma forma específica, mais ou menos dois programas que montavam. E no disco tem também citações musicais de uma música em outra. Quando comecei a fazer os arranjos para o show, comecei a notar que algumas dessas coisas que funcionam num disco ficam redundantes no show. Então, mudei um pouco a ordem das músicas, não muita coisa. Por exemplo, estou abrindo com ‘A Revolta I’ e fechando com ‘A Revolta II’, no disco não é assim. Acho que faz mais sentido no show. Duas músicas que têm trechos musicais que se vinculam no disco que são ‘Vozes’ e ‘Terra de Gigantes’, eu juntei. Peguei algumas canções que estão fora do ‘Revolta’, juntei ‘Refrão de Bolero’, ‘Piano Bar’ e acho que isso renovou o disco, ao mesmo tempo a gente não perdeu o que ele tem de mais forte”.
Apesar de ter seu nome ligado por muitos fãs à banda que começou no terraço da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 11 de janeiro de 1985, o músico comentou as fases de sua carreira desde 2008, quando ao final da turnê do disco ‘Novos Horizontes, foi anunciada uma pausa por tempo indeterminado nos Engenheiros, até sua carreira solo. “Para mim não mudou nada usar o meu nome ou o nome Engenheiros do Hawaii. O nome Engenheiros do Hawaii é meu, poderia estar usando, preferi colocar o meu nome apesar de ser um nome que às vezes nem o pessoal da minha família sabe dizer direito (risos). Mas, acho que tem mais a ver depois de tantas mudanças de formação, resolvi ser mais direto, afinal sou eu mesmo na frente e tal. Acho que a idade vai te deixando mais tranquilo, mas também sinto que muita gente da minha geração está muito desanimada com os caminhos que tomou a música, a tecnologia. Talvez eu tenha desanimado menos do que eles. Mas, sempre fui mais ou menos assim. E não sou pessimista em relação ao momento que a gente vive. Acho que não sei se a gente estaria batendo esse papo aqui 30 anos atrás onde havia uma distância maior entre imprensa, público e artista. Hoje em dia a tecnologia deixa tudo mais acessível. Acho que a gente pode tirar um proveito bom disso”.
Sobre o Pouca Vogal, um power duo em parceria com Duca Leindecker, projeto ainda de 2008, Gessinger não descartou a hipótese de retomar este projeto em outras oportunidades. “Muito legal, músico que eu admiro, a gente se gosta muito, musicalmente se dá bem, mas é muito difícil a gente conciliar agendas e ambos temos um repertório muito vasto. Tenho mais de 20 discos e sempre que monto um show meu só, muita gente reclama de músicas que faltam no show, porque não dá pra ficar o dia inteiro tocando. Eu adoraria, mas não dá para fazer isso. Então é difícil cair na estrada com o Pouca Vogal, mas a gente vai continuar fazendo trabalhos esporádicos, semana passada a gente se reuniu para tocar em Porto Alegre e algumas coisinhas, pequenas turnês talvez aconteçam ano que vem. Mas, estou super focado no meu trabalho e gosto do formato que eu tenho usado na maior parte da minha carreira, que é um trio (guitarra, baixo e bateria), com alguns momentos acústicos e estou bem focado nisso para os próximos anos”.
MÍDIA E REDE SOCIAL
Hoje as redes sociais são uma realidade no cotidiano da maioria das pessoas. Humberto Gessinger também utiliza essa ferramenta para divulgação de seu trabalho e interação com seus fãs, mas afirmou: “Sou um cara tímido, muita gente toma isso por antipatia, mas é meu jeito de ser. Quem me conhece mais proximamente sabe que é mais timidez”.
Para o cantor, as mídias sociais “são legais”, mas, ao mesmo tempo deixam as pessoas muito expostas. “Então, se tu não tomar conta e começar a achar que aquilo é vida real, talvez isso faça mal pra tua cabeça. Mas, pra quem vive a sua arte 24 horas por dia, sete dias por semana não é tão difícil assim. Nesse sentido é uma coisa boa porque quem finge o que tá tocando tem mais dificuldade hoje em dia, porque está muito exposto. Nesse sentido eu gosto das ferramentas também pelo fato de poder falar mais direto com o público. Nos anos 80 tu falava com o jornal, o cara nem gravava a entrevista, sabe lá o que ele ia escrever e aquela notícia acaba girando dois, três anos até tu voltar àquela cidade, as pessoas saberem exatamente qual era teu papo, demorava muito mais tempo. Então, no momento estou procurando ver os lados mais positivos que negativos, dessas mudanças”.
Ele ainda chamou atenção para a necessidade de diversidade musical ao alcance do público, ao ser perguntado sobre a grande explosão da música sertaneja nos últimos anos no Brasil. “Isso acontece, desde que comecei foram várias ondas, pintou a lambada, depois sertanejo, pagode, às vezes uma música mais popular ou um pouco mais elitista. Acho que o domínio de nenhuma delas é positivo, nem a música que eu faço gostaria que fosse a música hegemônica. Nos anos 80, quando o tipo de música que eu faço era a bola da vez, muitas pessoas acham que era o melhor período da minha carreira, eu não acho. Acho legal como tá hoje, o som que a gente faz tem o seu espaço pra quem tá mais interessado, reconheço que não seja a grande bola da vez, não tá nos grandes canais de mídia, mas esses mesmo grandes canais de mídia estão cada vez mais lentos pra sacar o que tá acontecendo na rua”.
Para Humberto, os grandes canais estão ficando um pouco “defasados”, por isso o telespectador não precisa se assustar muito com o que “aparece na grande tela, porque eles se atrasam também”. “O caminho acho que é a diversidade. Fico meio constrangido porque às vezes parece que a gente tá reclamando assim em causa própria, mas acho que é uma coisa meio óbvia. Futebol, música, são as coisas que a gente faz de melhor nesse País eu acho e é bacana a gente ter vários tipos de música e jogadores em várias posições, a gente precisa do atacante, do goleiro, do zagueiro. E noto também que a molecada hoje ouve de uma maneira diferente. A minha geração, a gente era um pouco rançoso nesse sentido, quem ouvia um heavy metal não ouvia pop, no meu colégio era engraçado que até tinha vertentes do rock pesado que a gente ficava meio que brigando no recreio. É um clichê, mas acho que na verdade o que existe é música de boa qualidade. E mesmo na vida de uma pessoa acho que vai mudando as coisas que atraem. Comigo foi assim, tem coisas que ouço agora que eu não entendia muito bem. O que a mídia e todo mundo tem que fazer é oferecer variedade para as pessoas escolherem, para não ser uma monocultura, que faz tão mal até para natureza”.
Humberto Gessinger ainda deu sua opinião sobre atual situação política do País e enfatizou que a música permanece a mesma, mesmo após a passagem de 30 anos desde ‘A Revolta dos Dândis’. “O País, a situação nunca teve pior do que acho que está agora. Uma confusão, falta de perspectiva. Problemas sempre existiram e existirão, mas o que mais me aflige é a falta de perspectiva, notar que está todo mundo meio perdido, sem saber para onde olhar. Mas, também não adianta a gente se desesperar porque a coisa vai piorar, a gente tem que ter otimismo e passo a passo tentar reverter essa situação que está tão difícil economicamente e politicamente. Quanto à música é engraçado porque passou muita água sobre a ponte, mas é o mesmo rio entendeu? Então, quer dizer, muita coisa mudou, mas muita coisa permanece igual. A minha relação com a música é a mesma, a mesma paixão, os mesmos sons e, por outro lado, o mundo que envolve a música mudou quase completamente com a coisa da digitalização, hoje em dia não existe mais disco, é significante a presença do disco objeto. Então, a gente tem que rever a maneira como a nossa música vai chegar às pessoas, mas ela em si não mudou muito, acho que também, sei lá, desde a pré-história, tempo das cavernas, os caras se juntavam em volta do fogo para tocar alguma coisa. Tinha alguma coisa naquela música ali que permanece na música que a gente faz hoje, apesar de viver num mundo tão tecnológico”.