Normalmente as pessoas tidas como arrogantes não passam de falsificadoras da própria identidade. Exigem, até de uma forma desonesta, o que elas mesmas não fazem, porque são incapazes de agir com humildade. Encontramos aí uma profunda mediocridade, a exigência de servilismo com aparência de escravidão. Muitos dos arrogantes não põem a mão no arado e exigem que outros o façam.
É constrangedor ver um cidadão ou um cristão arrogante, dono da verdade, que não abre espaço para o progresso de outros. Não é esse o tipo de vocação que agrada a Deus. Jesus, Mestre de todos, lava os pés dos discípulos e os convida a fazer o mesmo. É gesto de profunda humildade, que visualiza a abrangência da missão de quem é enviado para construir o Reino de Deus na comunidade.
A pior das arrogâncias é aquela que provoca a exploração do pobre, do órfão, da viúva e dos marginalizados em geral. Existe uma igualdade fundamental entre as pessoas, que desabona atitudes de imposição. É da profundidade desta dimensão que conseguimos entender a atitude de Jesus quando vai ao encontro fraterno dos mais sofridos e vulneráveis da sociedade de seu tempo.
As práticas de arrogância podem provocar muito sofrimento e lágrimas na vida das pessoas atingidas. Isto está muito em sintonia com a situação de poder e de fraqueza, que costuma ter uma trajetória carregada da prática de injustiça pelo fato de não respeitar a dignidade de quem vive situação de vulnerabilidade. Parece ser como conflito de poder, onde vence quem tem mais força.
Na vida de quem age com honestidade existe a consciência de que o respeito e a humildade são dimensões de valores essenciais, que não podem ser feridos por práticas arrogantes e de imposição. Jesus e os apóstolos legaram para a sociedade a importância do agir com humanidade. Para eles as pessoas, sem distinção nenhuma, são sujeitos de respeito e consideração, como imagem de Deus.
Ninguém é melhor do que ninguém. Dois jovens entram no templo para orar. Um arrogante e outro humilde. O arrogante se gaba de sua arrogância e seu gesto não foi agradável diante de Deus, porque fez uma prece falsa. Acabou ficando fora do projeto de Deus. O humilde teve postura diferente e sua prece foi acolhida. “Quem se exalta será humilhado, e que se humilha será exaltado” (Lc 18,14).
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba