“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”, Leonardo da Vinci
O uso de óleos essenciais para fins terapêuticos tem longa tradição. Hipócrates, considerado “o pai da medicina”, utilizava fumigações de ervas aromáticas para erradicar a praga de Atenas e os soldados romanos se fortaleciam em banhos aromáticos e massagens. Hoje muitos terapeutas utilizam de óleos essenciais para relaxar as pessoas, o ambiente e até os animais. Para essa prática é dado o nome de aromaterapia, que nada mais é que o uso de aromas e óleos de plantas como tratamento auxiliar de enfermidades. “Aroma” significa cheiro agradável e “terapia” tratamento que visa à cura de uma indisposição mental ou física. Mas será que diante dos olhos da neurociência atual a aromaterapia faz algum sentindo?
Culturas muito antigas já valorizavam seus benefícios terapêuticos como no caso da medicina ayurvédica na Índia há mais de 3 mil anos; dos egípcios que os utilizavam para embalsamar seus mortos; dos chineses que utilizavam incensos aromáticos para finalidades espirituais e medicinais e da Europa onde o uso tornou-se popular na Idade Média. Essa prática foi popularizando-se ainda mais nos séculos seguintes até que o surgimento da indústria perfumista e do desenvolvimento da química sintética impulsionou a comercialização de uma nova geração de medicamentos enfraquecendo o interesse e a utilização dos óleos essenciais de plantas aromáticas para fins medicinais e de tratamentos mantendo-os restritos aos cosméticos e a estética. Tornou-se atualmente um recurso natural muito utilizado na área da cosmética, estética facial, corporal e higiene pessoal.
A aromaterapia tem sim interessado aos cientistas e já estava na hora de submetê-la aos estudos científicos. Na Alemanha, a médica Nicole Unger utiliza do óleo essencial de cravo para iniciar contrações em mulheres no final da gravidez e as dores de parto são amenizadas com o óleo de lavanda. “A aromaterapia elimina tensões e bloqueios psíquicos e é excelente para reconstituir a harmonia corporal”, afirma. Ela não está sozinha, psiquiatras reconhecem o efeito benéfico dessas essências no tratamento de ansiedade, dores crônicas e distúrbios do sono.
O olfato é considerado o sentindo mais antigo do ponto de vista evolutivo e tem conexões particulares diretas com determinados centros sensoriais do cérebro, o que proporciona que reajamos instintivamente aos odores a nosso redor. A fisiologia nos mostra que o sistema olfativo é o único que possui acesso direto ao importantíssimo sistema límbico, que é a parte do nosso cérebro onde se originam sensações e emoções. Nele se tem início desde reações emocionais e sexuais a nossa sensação de fome e sede. As moléculas de odores são captadas na mucosa nasal e são transportadas dos brônquios até a circulação sanguínea e desta para o mundo, digo para os órgãos espalhados pelo corpo humano atingindo inclusive o sistema nervoso central.
Após diversos experimentos realizados com humanos muitos resultados promissores foram encontrados e sua eficácia vem sendo testada, embora os resultados acumulados até hoje não forneçam ainda um quadro suficientemente claro para uma conclusão porque pesquisas com os seres humanos precisam sempre considerar o efeito psicológico da autoindução, esses resultados são considerados inconsistentes. Apesar disso, há um ponto sobre o qual a maioria dos especialistas está de acordo: as essências aromáticas realmente atuam sobre o corpo e as emoções, acreditam nisso baseado no trabalho que outras equipes de pesquisadores têm feito com pesquisas similares, mas em ratos de laboratório e seus resultados também são animadores agora tendo sido excluído o efeito placebo da autoindução. Há claros indícios que certas essências aromáticas não apenas melhoram o estado emocional como também combatem dores.
Porém, nem todas as essências foram testadas ainda uma vez que existem dezenas delas. Mas o mais problemático para os pesquisadores é a forte ligação da aromaterapia com o esoterismo e o fato de alguns aromaterapêutas assumirem posição contrária aos tratamentos psiquiátricos e psicoterapêuticos impedindo o tratamento adequado dos pacientes. Existe ainda o fato de que qualquer pessoa pode se autodenominar aromaterapêuta sem que exista algum certificado específico de qualificação criado por alguma instituição reguladora. Assim é possível encontrar desde profissionais com formação de base sólida, como médico e farmacêuticos, a curiosos e aproveitadores nessa prática.
Contudo, uma coisa é certa, não se tem mais dúvidas de que alguns óleos essenciais agem no corpo, nas emoções e na fisiologia. Resta saber até que ponto esses efeitos podem ser curativos. Muitos não acreditam nessa possibilidade, mas a certeza que sua utilização, exceto no caso de alergias, não causam efeitos adversos, pelo menos não mais do que os outros produtos naturais e vegetais já encorajam a sua prática de forma cotidiana e como coadjuvante com os tratamentos médicos tradicionais.
Portanto, mãos na massa, vamos nos aromatizar e relaxar!
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]